Artigo: Sobre a greve dos professores e a realidade política de Caruaru

Por Herlon Cavalcanti

Vivemos  um momento e singular  em nossa história,  que se faz necessário refletir  sobre a realidade em que estamos inseridos  e nosso papel como sujeitos históricos na construção de um novo projeto de sociedade. Em todo mundo levado pelo  modismo do neoliberalismo se assiste a fragmentação da solidariedade humana, a coisificação dos indivíduos, a morte dos sonhos, das utopias  e a inversão e alienação do significado de justiça,ética, paz, igualdade e liberdade.

Em tais circunstância as aparências se sobrepõem à essência, “o real” é uma construção e uma maquinação distorcida  da verdade.  Nesse mundo de fantasia e fantasmagórico, no qual o simplismo, o banal, o medíocre e o fútil se generaliza, torna-se o ambiente ideal e propício para entender o quadro político e eleitoral, onde a demagogia dá o tom,  o populismo deita raízes e o clientelismo molda o enredo da tragédia.

As eleições no Brasil condensam os mais diversos estilos de mandonismo, vivenciados neste 514 anos de história. Nos quais se formou uma cultura política como espaço para poucos que são endinheirados. O financiamento de campanha dita as regras do jogo, que tem mais leva tudo.  Durante toda a campanha eleitoral se fala no povo, quando eleitos, governam para os financiadores. Os governos municipais, estaduais e o federal, são loteados entre os financiadores e governa para eles.

No processo eleitoral os candidatos, mostram-se seres divinizados, sérios, honestos, perfeitos, competentes, altivos, austeros e imaculados, os salvadores da pátria, defensores dos pobres e dos oprimidos e protetores dos velhos e das criancinhas. Vale tudo para se iludir e enganar o povo. Programa de campanha e promessa são mera peças de ficção. O povo em uma mistura de extasse,delírio, transe e histeria coletiva,  deixa de lado qualquer princípio de cidadania e comporta-se como um fanático torcedor de torcida organizada.

Se durante a campanha tudo era possível, todos os problemas tinham solução e todos os desafios seriam equacionados. Depois de eleitos, falam das dificuldades que encontraram, da herança maldita que receberam, da crise por que passa a sociedade, e de poucos recursos para se realizar as promessa de campanha. Criam-se culpados, descobrem-se inimigos e conspiradores por todos os lados. As reais intenções de seu governo, dos grupos econômicos que lhe dão sustentação e da própria incompetência administrativa, são ocultadas através de uma poderosa, milionária e massificadora campanha midiática que invade o cotidiano e o imaginário social, entorpecendo as mentes e anestesiando o senso crítico da população.

Por esse caminho, o coronel é transformado em Estadista,  sua incompetência em sucesso, as práticas clientelistas  transformar-se em “participação popular” e o fisiologismo em políticas sociais. Para os movimentos sociais/populares e partidos de esquerda só existe dois caminhos, cooptar os dóceis e oportunistas e tentar desqualificar, difamar e sufocar os que são críticos e oferecem resistência.

Entre os vários casos, a luta dos trabalhadores em educação em Caruaru, merece um capítulo a parte nesta história. Vejamos: Durante a campanha eleitoral  se falou de uma Caruaru brilhante, pulsante, harmônica sem contradições, uma vitrine para Pernambuco, para o nordeste e para o Brasil. Diariamente se dizia, O Nordeste cresce mais que o Brasil, Pernambuco cresce mais que o Nordeste e que Caruaru crescia mais que Pernambuco.Ou seja, nenhuma unidade da federação crescia mais  que Caruaru, nossa cidade era o mirante, o farol do desenvolvimento, a  Dubai do Brasil. Graças a nosso gestor, graças ao “governo das parcerias”.

Dizia-se que  em 2013, após ter  liquidada tal herança maldita, Caruaru chegaria o um novo patamar de desenvolvimento. O novo mandato , não seria um governo de continuidade, mais um novo governo que teria seus paradigmas centrados em cinco eixos: Modernidade e eficiência administrativa, Transparência, Diálogo e Participação popular. Em fim depois de ter vencido as forças do mal, Caruaru chegaria a século XXI.

A distância entre o discurso da campanha eleitoral, reiterado na posse dos eleitos veio por terra dia 30 de janeiro de 2013. Quando  vereadores eleitos são convocados em regime de urgência para a provarem  o reajuste do salário mínimo para os servidores. A farsa foi montada, o engodo servido. O propósito  real do governo foi aprovação de o novo plano de cargos e carreira para os trabalhadores da educação do município. O método, o conteúdo, a forma e o estilo, deu a dimensão da qualidade do “choque de gestão” que  o governo municipal pretendia impor aos professores e em seguida a sociedade caruaruense.

O P.C.C,  foi assinado e aprovado por unanimidade, sem debates, questionamentos ou qualquer participação dos trabalhadores em educação, da comunidade a acadêmica  e muito menos da sociedade civil.O pior a elaboração do PCC se deu  na surdina, em pleno calor da campanha, enquanto o prefeito glorificava o modelo de educação municipal, exaltava seu compromisso com os educadores, ao mesmo tempo que a grande maioria dos educadores enchiam as rua e as praça defendendo o nome do Prefeito atual.

A aprovação do PCC, não é apenas um ato autoritário e arbitrário, ele expressa em sua essência brutal ou simbólica a realidade política que vivemos em Caruaru:

1º – Com a aprovação do PCC, caiu a máscara e toda retórica democrática exibidas pelo prefeito, mostrou que a nova cultura política era simplesmente um marketing eleitoral e o orçamento participativo e a secretaria de participação social, uma peça de ficção;

2º – Mostrou que a câmara municipal não exerce qualquer função constitucional de poder independente e autônomo,  passou a um poder tutelado pelo executivo. Que vereadores  aprovam projetos de relevância social sem ler e muito menos questionam o que assinam;

3º  Que a figura de Secretário de educação é mera figuração, não ordenam despesas, não fazem nomeação  e muito menos participam de projetos e negociações que envolvem sua pasta;

4 º Que o Ministério público, é desrespeitado cotidianamente pelo o poder executivo os  termos de ajuste de conduta são tratados pelo executivo municipal, como algo sem qualquer significado e importância, jurídica e social;

5º Que a justiça nesse país não conseguiu romper a relação entre a Casa Grande e a Senzala, pois tende a criminalizar os movimentos sociais em sua morosidade, inoperância e beneficiar o capital e os poderosos em sua rapidez e eficiência;

A greve dos professores e sua vitória ética e moral sobre a tirania e o arbítrio, mostra o caminho e as formas de luta que a sociedade caruaruense deve trilhar para superar o atraso político e social que foi jogada e construir um espaço democrático em que a cidadania seja o eixo pela  a qual se concebe a cidade e seus  cidadãos.

Herlon Cavalcanti é da direção do PCB em Caruaru

Artigo: Anomia no mundo moderno

Por Alexei Esteves

A  palavra anomia significa um sentimento de falta de objetivos ou de desespero, provocado pela vida social moderna. Foi com esse entendimento que Durkheim usou a palavra pela primeira vez, em seu famoso estudo sobre a divisão do trabalho social, num esforço para explicar certos fenômenos que ocorrem na sociedade.

Os controles e os padrões morais tradicionais, que costumavam ser fornecidos pela religião, são largamente derrubados pelo desenvolvimento social moderno, e isso deixa muitos indivíduos em sociedades modernas sentindo que suas vidas cotidianas carecem de significado no quadro social de uma subcultura delinquente podem perfeitamente existir normas de condutas dotadas de particular intensidade, embora divergentes das normas de cultura dominante ou com elas conflitantes. Assim sendo, pode-se afirmar que a anomia indica desvio de comportamento, que pode ocorrer por ausência de lei, conflito de normas, ou ainda desorganização pessoal.

Os processos de mudança no mundo moderno são tão rápidos e intensos que originam dificuldades sociais, podendo ter efeitos aniquiladores em estilos de vida tradicionais, em crenças morais, religiosas, e em padrões cotidianos sem fornecer novos valores claros. Havendo mais espaço para a escolha individual no mundo moderno, é inevitável que haja algum tipo de não-conformidade.

Conhecendo limites óbvios, porém, em termos objetivos, não é possível definir nem limitar o quanto de bem-estar, conforto e luxo a que um ser humano pode legitimamente aspirar. Tais desejos são insaciáveis e a insaciabilidade é um sintoma de morbidez. Sendo que a única força que pode controlar esses desejos e vazios existenciais é a ética Cristã e a  moral oferecidas pela sociedade e pela opinião pública.

Compreendem a estrutura cultural da sociedade, as finalidades e os objetivos históricos constantes que determinam a conduta dos indivíduos socializados e que valem praticamente igual para todos (ascensão social, sucesso econômico). A especialização, entretanto, limita a visão social do individuo, fazendo-o perder o panorama global ou de conjunto da atividade social.

Com essa perda de visão da obra comum e do seu sentido, ocorre também o enfraquecimento do sentimento de solidariedade grupal. O indivíduo se isola dentro do grupo, e se junta a outros indivíduos de sua especialidade,  ao passo que numa grande cidade ninguém sabe de ninguém, e cada qual corre atrás de seus próprios interesses. Somos capazes de morar muitos anos em um mesmo prédio e não conhecermos o vizinho que mora ao lado ou de cima.

Alexei Esteves é professor doutor em educação

OPINIÃO: ‘Previsão para o futuro’

Por MENELAU JÚNIOR

Pode algum ser humano enxergar o futuro? Será mesmo possível ver aquilo que ainda não aconteceu? A resposta a essas perguntas depende muito mais de crenças e superstições do que de análises científicas. Mas pelo menos num ponto a fé pode ser deixada de lado: a análise linguística.

É relativamente usual lermos em sinopses de filmes que certo personagem tem a capacidade de “prever o futuro”. Charlatães de toda espécie também andam por aí prometendo esse tipo de coisa. Entretanto, na língua portuguesa, o verbo “prever” e o substantivo “previsão” não devem estar acompanhados da palavra “futuro”. Por quê? Pelo óbvio: só se pode prever o futuro.

Como escapar, então, a essa capciosa redundância? Existem algumas maneiras. Veja que, em lugar de escrever que alguém pode “prever o futuro”, é possível dizer que esse alguém pode “prever os acontecimentos”. Com o substantivo “previsão” não é diferente: nada de sair por aí dizendo – ou, pior, escrevendo – que alguém faz “previsões para o futuro”. Basta dizer que esse alguém “faz previsões”.

A arte de escrever é também a de economizar palavras. Nesses casos, o excesso é pecado. Ninguém precisa dizer que o amigo “ainda continua” hospitalizado se ele apenas “continua” hospitalizado. Você não precisa dizer que começou a ler esta coluna “há cinco minutos atrás” se você começou a ler “há cinco minutos”. Ou seja, o cuidado com as repetições desnecessárias deve ser permanente.

menelau blog

 

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

 

OPINIÃO: A política e a cibercultura

Por DANIEL FINIZOLA

Ao analisar os movimentos que vêm acontecendo no Brasil e no mundo, percebemos que há uma crise de paradigma quanto ao sistema de representatividade política. Cada vez mais, se questiona a função e ação dos políticos e seus partidos. A eleição para o Parlamento Europeu amargou altos índices de abstenção: mais um exemplo de que a crise de representação política não é algo exclusivo do Brasil. O mesmo aconteceu recentemente com as eleições na Colômbia, onde o índice de abstenção chegou a 59,98%, segundo o site América Econômica.

Aos poucos, o mundo percebeu que os espaços virtuais como Facebook e Twitter podem incitar, de forma positiva, o debate político. Afinal de contas, no mundo virtual, ultrapassamos as barreiras da sociedade de massa, visto que existe a interação, certo? Mas me parece que as redes sociais não conseguiram quebrar o predomínio da informação sobre a comunicação.

Em tempos de eleição, Copa e crise de representatividade política, o mundo virtual virou um espaço onde se replica de tudo. Problema é replicar sem checar a informação e a quem servem determinadas bandeiras na internet. Hoje, o que temos no mundo virtual é um ciclo vicioso, onde os indivíduos procuram seus pares para inflar suas crenças com debates pobres e pouco fundamentados. Esse é o homem-massa da cibercultura, que este ano poderá ser responsável pelo debate eleitoral mais vazio da história das eleições no país.

É nesse contexto que uma página merece destaque na internet. Segue uma linha cômica, mas não dispensa uma panfletagem apócrifa e publicações mentirosas. Com cerca de 3,5 milhões de seguidores e alcançando 27 milhões de usuários no Facebook, a TV Revolta tem preferência política e ideológica clara, mas adora posar de “apolítica”. O responsável por esse fenômeno da rede é um radialista, João Victor Almeida Lins, de 32 anos. Mas aí eu pergunto: ser cidadão e fazer oposição ao governo significa compartilhar frases mentirosas? Não seria melhor pensar e debater um projeto de sociedade e país? Ou será que essas frases mentirosas produzidas pela TV Revolta fazem parte do projeto de governo da oposição? São essas as frases que representam os revoltados com a política?

Uma das postagens mais curtidas da TV Revolta atribuída a Oscar Niemeyer dizia: “Projetar Brasília para os políticos que vocês colocaram lá foi como criar um lindo vaso de flores pra vocês usarem como pinico”. Mas onde está registrada essa declaração do arquiteto? Pior é que essa postagem obteve 22.318 compartilhamentos. Protestar contra a situação política do país significa reproduzir frases de impacto mentirosas?

Somos um país com 105 milhões de brasileiros com acesso à internet, mecanismo fantástico que pode ser utilizado para fortalecer valores democráticos e republicanos como controle social e transparência. Fenômenos da cibercultura, como a TV Revolta, nos leva a um niilismo político irresponsável que não contribui para fortalecer valores democráticos. Importante: a liberdade de expressão, tão aclamada pela democracia, exige responsabilidade.

Até semana que vem.

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

Artigo: O saber do professor

Por Alexei Esteves

A ação de formadora de professores sempre faz  parte  trajetória profissional e considerada como elemento marcante no meu contínuo desenvolvimento. Mas há algum tempo a atitude de pesquisadora vem me desafiando e me impulsionando para novas práticas formadoras.

A questão do conhecimento do professor há mais de duas décadas vem despertando um grande interesse na comunidade científica internacional e dominando a literatura produzida nas ciências da educação.

As pesquisas brasileiras orientadas pela literatura internacional têm possibilitado o avanço da reflexão sobre os saberes docentes contribuindo para a valorização dos mesmos e facilitado a construção de um referencial específico de pesquisa. Os professores são considerados como profissionais que adquirem e desenvolvem conhecimentos a partir da prática e no confronto com as condições de trabalho.

A forma como se constituiu e evoluiu esse novo campo de estudos na formação de professores, deixaram clara a diversidade teórica e metodológica existente. Essas questões dos saberes docentes têm sido discutidas no campo da formação de professores e é também objeto de estudo tanto no campo da didática, como no campo do currículo.

Mas a formação valoriza ainda uma abordagem disciplinar no tratamento dos diferentes saberes na proposição de cursos voltados tanta na formação inicial quanto na formação continuada de conhecimentos estanques referentes à disciplina, ao currículo e à formação pedagógica.

Por outro lado uma educação, para que possa ser considerada formadora de pessoas, deve contribuir para o desenvolvimento total da mesma: espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal. É nesse sentido que desenvolvemos nossas considerações sobre os saberes docentes.

Trabalhar com pessoas é trabalhar com sentimentos, paradoxos, conflitos, ambiguidades e antagonismos, portanto, com a diversidade e a multiplicidade dos aspectos dessa totalidade humana, produto de um saber local e universal. Essas categorias universais inclusive a mudança são próprias do ser humano e fazem parte do seu desenvolvimento.

Os aspectos humanos importantes na formação dessa totalidade humana do professor passa pelas questões que são próprias da natureza humana e dizem respeito à interioridade, à subjetividade de cada ser humano e poderão contribuir na formação da dimensão do saber ser.

Mas essa cultura de valorização da subjetividade e dos processos de autoconhecimento encontra na cultura tradicional da escola fortes resistências e preocupações com uma possível despolitização da ação pedagógica.

Cultura e autoconhecimento permitirão que cheguemos à condição de seres humanos, à consciência de ser. Portanto a ideia de autoconhecimento está presente nas diversas tradições culturais da humanidade.

Os primeiros pensadores já alertavam para essa relação entre conhecer e reconhecer, pois nem sempre reconhecemos que o que reconhecemos no outro só pode ser reconhecido por existir igualmente em nós. Isso ocorre conosco por termos a dificuldade em reconhecer em nós mesmos o que nos parece similar a um “erro”.

Nos tempos modernos, os rumos tomados por nossa tradição cultural valorizam a busca do conhecimento científico voltado aos aspectos externos da vida e do mundo desqualificando o conhecimento subjetivo, isto é, o autoconhecimento. Esse fato nos distanciou de nossa interioridade tornando- nos desconhecidos a nós mesmos e prejudicando- nos na nossa relação com o outro.

Quando a temos bem desenvolvida e harmonizada podemos trabalhar a inteligência interpessoal que refere-se às habilidades de relacionamento com outras pessoas. É pois uma consequência natural da outra. Podemos assim nos solidarizarmos e compreendermos os sentimentos dos outros, lidando bem com as emoções nos relacionamentos e utilizando as habilidades de liderança, solucionando os conflitos e estabelecendo vínculos de cooperação e trabalho em equipe.

Como seres incompletos e inconclusos vivemos em contínua transformação, num processo permanente, muitas vezes inconsciente, de construção e autoconstrução.

A formação teve entrada tardia na reflexão educativa substituindo progressivamente o ensino, a instrução e a educação. Deve ser vista de forma ampla, transcendendo o processo de formação inicial e continuada, como uma ação ou efeito de formar, de constituir caráter, de desenvolver- se numa busca permanente de completude, de sentido e significação e “função da evolução humana”

Considera- se assim que a autoformação da pessoa é entendida pois como a construção de um sistema de relações pessoais com os diferentes espaços criando uma unidade funcional indivíduo- meio ambiente. Na maioria dos espaços de formação continuada privilegia- se ainda a heteroformação ao passo que a autoformação ainda está em fase inicial de discussão e contestada por muitos.

Fica claro portanto que “a atitude de contextualizar e globalizar é um qualidade fundamental do espírito humano que o torna um sujeito construtor de vida social.Pois,a educação torna-se algo de extrema importância para formação do caráter do indivíduo.

Artigo: Neutralidade na internet: será que essa lei vai pegar?

Por Dane Avanzi

O princípio da neutralidade da internet permite que acessemos a rede num ambiente de absoluta igualdade, como se todos os internautas estivessem em uma praça pública virtual. Tal princípio permitiu o florescimento de grandes oligopólios da internet como Faceboook e Google. Embora aqui no Brasil o princípio da neutralidade tenha sido assegurado aos brasileiros, nos Estados Unidos o debate anda cada vez mais acirrado.

Embora aparentemente o principal motivo de alvoroço quanto a neutralidade seja comercial, há outras razões muito mais relevantes quanto a um maior e mais efetivo controle das informações que trafegam na rede. Tanto que recentemente o presidente Barack Obama nomeou Tom Wheleer, como diretor do FCC – Federal Communication Comission – órgão equivalente a Anatel no Brasil e responsável por regulamentar qual o impacto da discussão da neutralidade para o consumidor de produtos e serviços de telecomunicações.

Em razão do background de Tom Wheleer, ex-lobista da indústria, sua nomeação soou como uma traição aos consumidores, uma vez que outrora, Obama sempre se posicionou a favor da manutenção da neutralidade. A justiça americana já determinou em sentença judicial que é lícito empresas de conteúdo, como a Netflix, por exemplo, pagarem valores adicionais para as operadoras de telecomunicações priorizarem seu acesso. O que está sendo discutido agora é se e quanto o consumidor que contrata o serviço de internet terá que pagar.

Se o FCC permitir que os conteúdos que trafegam pela internet sejam cobrados de modo separado, tudo que entendemos e vivenciamos como internet, hoje será alterada. Ao invés de uma conta única para trafegar em qualquer tipo de conteúdo, haverá cobranças distintas para cada tipo de tráfego em razão da banda que ocupa. Por exemplo: haverá um tipo de contrato para trafegar vídeo, outro para e-mails e assim por diante.

Por conta disso, o que for decidido pelo FCC certamente influenciará todo ecossistema de empresas que atuam na internet, especialmente no que tange as operadoras de telecomunicações e provedores de conteúdos. Outro mercado que cresce exponencialmente e será afetado é o e-commerce. Como estamos falando de mercados bilionários em crescimento e presentes em todo o mundo, o modo como essa indústria se organiza poderá passar por profundas transformações.

Embora haja uma lei recentemente aprovada no Brasil definindo a neutralidade como princípio basilar, ainda é muito cedo para comemorar que isso durará por muito tempo, especialmente caso as empresas americanas mudem seu modo de cobrar o acesso aos serviços. Num mundo onde tudo pode ser comprado e o acesso a qualquer bem diferenciado custa mais por isso, é de se admirar que a internet, pelo menos até o dia de hoje, tenha conseguido se manter em um espaço verdadeiramente democrático no sentido mais intrínseco do termo, onde todos os internautas possuem os mesmos direitos.

Hoje as operadoras de telecomunicações perdem bilhões de dólares por não poderem bloquear ou controlar o uso de aplicativos como Skype, Whats’up, Viber, entre outros, que possibilitam comunicação via chat ou voz em âmbito mundial. Caso as operadoras de telecomunicações possam bloquear ou taxar o uso desses aplicativos, plataformas de ensino a distância, entre outros serviços intrinsecamente entranhados no cotidiano das pessoas, estaremos hoje contemplando o fim da internet como conhecemos até então.

Dane Avanzi é vice-presidente da Aerbras, diretor superintendente do Instituto Avanzi, advogado especializado em telecomunicação e autor dos livros “Radiocomunicação digital: sinergia e produtividade” e “Como gerenciar projetos”.

OPINIÃO: Palavras envelhecem

Por MENELAU JÚNIOR

Palavras são como gente: nascem, divertem-se, envelhecem e morrem. Às vezes, ressuscitam, transmutam-se, evoluem. Quando pensamos que desapareceram, surgem na boca de alguém que já viveu um pouquinho. E recebem o nome de arcaísmos.

Você sabe que alguém “já passou dos trinta” quando esse alguém chama a pessoa amada de “amoreco”. Se não tiver o amor correspondido, fica logo “amuado”, porque não quer uma “amizade colorida”.

E esse apaixonado – ou “gamado” – decide comprar um cartão e vai ao “armarinho” onde se vende de tudo. Acaba “atarantado” diante das opções de cartões. Alguns, muito belos; outros, “chinfrins”. Compra um. Embora saiba que a “coqueluche” do momento seja deixar mensagens explícitas no Facebook, o indivíduo prefere os cartõezinhos. Pensa na amada, bela com cabelos soltos ou usando “coque” preso com “laquê”. Sem “delonga”, paga ao dono do “armarinho” e solicita um “carro de praça”. Está decidido a ir à casa de seu “amoreco” declarar-se.

Ele, que sempre fora “acabrunhado”, estava “encafifado” com a possibilidade de não ser correspondido. Ela, com seus vinte e sete, já se dizia “encalhada”. Mas estava decidido: não iria mais “encher linguiça”, ficar com muito “falatório”. Iria chegar e dizer: “Não vivo mais sem você”.

Ao descer do táxi, conferiu se estava perfumado. Verificou o “fecho éclair” para não passar vergonha. Ajeitou o terno “engomado”. A rua estava “fervilhando” de gente. Mas nada importava. Os meses de “flerte” tinham servido para preparar o terreno. Ora elogiando a moça, ora fazendo “fiu-fiu”, ele já dera todos os motivos para ela saber de suas intenções.

No táxi, escrevera algumas palavras “mimosas”, ainda que com letra de “garrancho”. Não importava. Tudo se justificava diante de um homem “gamado”.

Tocou a campainha.

Uma “lambisgoia” atendeu, acompanhada de um rapaz “efeminado” que logo “desmunhecou”.

– A Juçara está? – perguntou com voz trêmula.

– Ela se mudou semana passada, “bofe”. Eu sirvo? – perguntou o rapaz.

O jovem “bateu as botas” ali mesmo.

menelau blog

 

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

Artigo: A absurda votação da feira

Por Fábio José

Infelizmente mais uma vez ficou claro a falta de transparência na política de Caruaru, ontem na Câmara Municipal de Caruaru, foi aprovado as pressas o projeto de mudança da feira da sulanca, bom eu fui o único candidato que defendeu a mudança da feira em 2012, mas eu tinha um projeto onde a feira ficaria no entrocamento BR 232 e 104 ao lado da Ceaca ou seja dentro dos arredores da cidade, todo o empreendimento seria financiado por entidades de iniciativa privada e pública.

O feirante não teria custo algum, apenas o valor que já se paga hoje por feira, que não é reinvestido na própria feira, queria muito saber onde esse dinheiro é aplicado, mas com provas concretas e não com palavras, sem falar que o controle seria eletrônico e não com tickets de papel que sinceramente não acredito que todo o dinheiro arrecado seja entregue devidamente aos cofres públicos, resumindo nós tínhamos um projeto claro e sem custos para os feirantes, mas mesmo assim, deveria existir um debate claro e uma votação as claras com a população, principalmente com os únicos que tinham poder e deveriam fazer por onde atrocidades dessa natureza serem banidas da nossa cidade, esses são os senhores vereadores de Caruaru, infelizmente uma pena a falta de compromisso com o povo!!!!! Acorda Caruaru!!!!!

 Fábio José PSOL Caruaru.

OPINIÃO: Nos tempos de criança

Por DANIEL FINIZOLA

Os raios de sol, aos poucos, iam atravessando as frestas das telhas. A luz começava a riscar o piso e lá fora o som das pessoas acordava o dia. O homem do leite passava na CG vermelha trazendo a delícia do campo que sempre era multiplicada ao chegar na cidade. Bastava um pouquinho de água. A porta da mercearia, ao rolar para cima, despertava os vizinhos que não tardavam em comprar o pão. Aos poucos, as ruas eram tomadas por meninos e meninas que exercitavam sua ludicidade nos terrenos esquecidos, cheios de mato e terra.

As brincadeiras tinham épocas. Ora era finca, jogo perigoso onde se roubava a faca lá na cozinha da avó. Desenhava-se uma figura geométrica no chão de terra e de cada ponta da figura saía a linha do jogador. Com força e destreza, jogava-se a faca para cravá-la no chão. A cada ponto cravado, riscava-se uma semirreta ligando os pontos. Objeto: fechar o outro jogador até que ele não tivesse mais espaço para sair do emaranhado de retas que iam se constituindo. Essa brincadeira acertou e cortou a canela de muita gente.

Em outro momento, era o pião. Riscávamos o “oi de boi” (um círculo) no chão, colocávamos um pião na roda e, com outro pião, tentávamos acertar e retirá-lo do “oi de boi”. Quem conseguisse ficava com o pião. Mas a grande emoção estava em ver um pião na roda se partir ao meio com a pancada. O autor do feito ganhava respeito do grupo.

Quando o assunto era pipa, a coisa complicava. Era preciso tala pra fazer a pipa. Todos se penduravam nos coqueiros atrás das folhas para retirar a tala e montar a estrutura da pipa. Depois vinha a busca pela seda. Muitas mercearias de bairro já vendiam seda para pipa – em outros casos, se resolvia com a seda que vinha enrolada no sapato. A rabeta da pipa se resolvia com as bolsas plásticas de supermercado. Mas aí vem a parte perigosa e condenável: o cerol! Todos corriam para o lixo a fim de procurar uma lâmpada queimada pra quebrar e misturar com cola. Tudo pra derrubar mais fácil na “torança” a pipa do amigo. Boa mesmo era a carreira que todo mundo dava para pegar a pipa que perdia a disputa… Era um troféu que, normalmente, o autor do feito não ficava. Ainda tinha a crença de não poder soltar pipa à noite. Segundo minha avó, pipa que visitasse o céu durante a noite traria doença. Não entrava em casa e precisava ser destruída.

Mas tinha uma brincadeira de vocabulário peculiar, onde qualquer ação precisa de um grito. Expressões como “bate seu”, “carioquinha”, “tudo sujo” e “tudo limpo” eram comuns para um jogador de bola de gude. O grande desafio era retirar o maior número de bolas do “tria” (nome que dávamos ao triângulo onde “casávamos” as bolas). O jogador temido sempre entrava no jogo com uma ferrança: bola de metal retirada do rolimã.

Ainda tinham brincadeiras como “tocou, gelou”, “esconde-esconde”, “academia”, “tô no poço”, “queimada”, “barra-bandeira”, “elefante colorido” e tanta outras.

As novas estruturas urbanas e a popularização da tecnologia deixaram a diversão infantil cada vez mais solitária, carente de sorriso, suor e energia física. Mas… como serão esses adultos?

Até semana que vem.

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

OPINIÃO: Globalização e a desvalorização docente

Por ALEXEI ESTEVES*

Sabe- se que a globalização é um processo por meio da qual todo o planeta está interligado, ou seja, nenhum país consegue viver, atualmente, sem que mantenha relações com outros países, portanto é a partir disso que o presente artigo vem mostrar de forma bem clara e sucinta de que forma se deu o processo de globalização no Brasil,ou seja, a partir de qual momento o Brasil permitiu que outras nações do globo terrestre pudessem entrar em seu território com o intuito de melhorar as relações comerciais entre os mesmos e, como ele se desenvolveu ao longo dos anos. É sabido, também, que o Brasil é um país de diferentes culturas, então, este trabalho vem mostrar também de que forma se da a relação do Brasil com os outros países do globo terrestre, e, de que forma a cultura desses países acabam influenciando o Brasil na formação da sua identidade educacional, como também de que forma a globalização afeta a economia brasileira, pois, com a chegada de grandes multinacionais cresce o número de pessoas que poderão adentrar ao mercado de trabalho, como também muitas outras pessoas correm o risco de serem demitidas, isso se dá porque, com o avanço da tecnologia muitas pessoas não estarão preparadas para um mercado de trabalho que cada vez mais necessita de pessoas capacitadas para desempenhar determinadas funções.

Analisar os limites de uma possível ampliação da introdução de novas tecnologias no ambiente escolar, tanto no que diz respeito à sua gestão como às práticas especificamente educativas, sobretudo tendo em consideração as possibilidades contraditórias de essas mesmas tecnologias poderem agravar ou atenuar as desigualdades educacionais.Pois,é necessário valorizar o salário do professor de forma global,para que este venha a ter condições humanas de construir uma aula melhor.No entanto,sem patrimônio material,que é um redimento justo,não se pode criar um patrimônio imaterial,que é o conhecimento.Portanto o sistema econômico para fazer justiça ao que diz,terá em sua missão iniciar como processo transformador,supervalorizar o trabalho docente.

Estamos vivendo um momento ímpar: a vitória do capitalismo em termos mundiais e o consequente aprofundamento das graves contradições que o acompanham. O contraponto fornecido pelo socialismo real desapareceu e liberou o capitalismo para atuar soberanamente. Marx referindo-se à capacidade criadora da humanidade mantida sob o comando do capital, afirma ser a tecnologia potencialmente muito mais destrutiva na época do capitalismo tardio (a nossa época). Isso se justifica pelo fato de a potência técnica da própria humanidade já estar mais desenvolvida.A previsão de Marx: “Dependendo de quais forças sociais predominem, essa potência técnica expandida pode ser colocada a serviço da liberdade (com a abolição do trabalho físico, cansativo, mecânico e alienado) ou da destruição (com a escalada do desemprego e da guerra)”.

Não é possível avaliar objetivamente o quanto nos damos conta deste dilema e das implicações dele em um mundo que virtualizou de forma sem precedentes o próprio processo de acumulação de riqueza. Estaríamos diante de uma realização cabal das possibilidades capitalistas que anunciariam seu esgotamento ou sua superação? Que opções devem ser construídas diante dos supostos impasses (ou do esgotamento) da modernidade e das propostas pós-modernas? Qual o papel das tecnologias da informação neste contexto? Quais demandas têm sido apresentadas à educação escolar pela reestruturação produtiva, pelas estratégias da política neoliberal e como essas demandas têm se manifestado na profissão docente em meio às crises econômicas (recessão, desemprego, pobreza ampliada, abandono da proteção social etc.)? Estaríamos diante de uma maior intensificação e precarização do trabalho docente? Quais as consequências para a formação do professor e para a sala de aula? Enfim, como podemos pensar o futuro do trabalho docente sem perder a dimensão do momento crucial que estamos vivendo?

Coloca-se à disposição do leitor um conjunto de reflexões que ajudarão a analisar e interpretar a realidade do trabalho docente hoje. Esta é uma tarefa urgente. Não é solução para nossos problemas olharmos para trás e cobrarmos nossos clássicos por não terem se referido ao nosso presente. Eles fizeram a interpretação do seu tempo. Cumpriram sua tarefa. Agora compete a nós (e não a eles) a permanente atualização das categorias, a produção do novo, a interpretação das novas realidades e a luta pela sua transformação.

*Alexei Esteves é professor doutor em educação