Coluna de sábado: Quem entende o dilmês? (ou Tchau, querida!)

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Por Menelau Júnior

“É uma bola que é uma bola…”. “Eu já testei e ela quica”. “…eu acho que a importância da bola é justamente essa, o símbolo da capacidade que nos distingue como…nós somos do gênero humano, da espécie sapiens (…). Quando nós criamos uma bola dessas, nós nos transformamos em Homo sapiens ou mulheres sapiens”.

O discurso acima, você sabe, foi feito ano passado pela presidente Dilma. Não tem pé nem cabeça, não tem lógica, não tem argumento, não tem nada. Não surpreende, portanto, que seu governo tenha sido da mesma forma.

O melhor é que acaba de chegar às livrarias um livro que disseca esse idioma extraterrestre que só Dilma e os petistas entendem: o dilmês. “Dilmês, o idioma da mulher sapiens”, do jornalista Celso Arnaldo Araújo, poderia ser divertido não fosse trágico: revela a completa incapacidade da presidente de elaborar um parágrafo com lógica. Após ter um presidente que se expressava muito bem (sem levar em conta os erros gramaticais, claro), ainda que fizesse questão de alardear sua ojeriza à leitura, o Brasil agora tem uma mandatária que não diz coisa com coisa.

Segundo o autor, “o que choca em Dilma não é a oratória em si. (…) O problema de Dilma sempre pareceu mais complexo. A forma primitiva da fala, da saudação à despedida, já traía na candidata o primarismo do pensamento e um desprezo generalizado”.

O prefácio, do grande estudioso da linguagem Dionísio da Silva, não deixa dúvidas sobre o conteúdo das 200 páginas: “Os dicionários já estavam desatualizados quando surgiu o dilmês, o português da Dilma. E a coisa piorou. Até a dicção da presidente dificulta a busca das palavras nos dicionários. Não adianta procurar. Sua sintaxe é quase insolente”

É mais um livro que deixa registrada a herança maldita do lulopetismo. Agora que Dilma é passado, teremos a oportunidade de estudar esse idioma sem lógica, sem conteúdo e sem sintaxe. O pior é que, além de um idioma incompreensível, Dilma e o PT nos deixam de herança 13 anos perdidos, com o fisiologismo, o populismo irresponsável e um país que prometia ser grande completamente quebrado.

Até a próxima semana.

Coluna: “Turistando”

Por Menelau Júnior

A língua é um organismo vivo, que obedece muito mais aos falantes de uma comunidade do que a preceitos gramaticais. É o povo quem primeiro modifica a língua, para só depois essas modificações irem parar nos dicionários.

No caso específico da língua portuguesa, podemos dizer que ela nos permite uma facilidade muito grande de criar vocábulos, os chamados “neologismos”. Ainda mais quando se trata de verbos.

É exatamente isso que acontece com a forma “turistando”, que aparece nas postagens de muita gente em redes sociais como Instagram e Facebook. Se já criaram “festando” (para o ato de quem está aproveitando uma festa), “sextando” (para dizer que se está aproveitando uma sexta-feira), nada de surpresa com “turistando” (para dizer que está curtindo a vida como turista).

O curioso é que qualquer verbo que seja um neologismo na língua portuguesa será sempre terminado em “-ar”. Não criamos verbos terminados em “-er” ou “-ir”. São sempre terminados em “-ar” (“festar”, “sextar” e “turistar”) e regulares. Junto com “turistando”, encontrei esta semana também a forma “carneirando”, numa referência a uma foto tirada na famosa praia de Carneiros, litoral sul do estado.

Recentemente, um vídeo do padre Fábio de Melo “viralizou”. O sacerdote faz duras críticas aos governantes do Brasil. Chega a dizer que não falta dinheiro nos hospitais, falta “vergonha na cara daqueles que têm a autoridade e o poder nas mãos”. “Viralizar” é mais um exemplo de verbo criado nas redes sociais.

Obviamente, essas formas verbais devem ficar restritas a ambientes linguísticos informais, como é o caso do Facebook, do Instagram ou twitter. Noutras situações, no lugar de “turistando” e “carneirando”, é melhor usar “passeando”, “viajando” ou “aproveitando” mesmo.

Menelau Júnior é professor

Coluna: Dica de férias

Por Menelau Júnior

Muita gente postando nas redes sociais frases com o substantivo “férias”. É uma história de “Chegou as férias”, “Férias, sua linda, quero lhe usar” e por aí vai. E sempre existem aqueles que postam fotos no litoral, no maior clima de “ostentação”.

Vamos por partes: FÉRIAS É NOME QUE, NO SENTIDO DE DESCANSO, DEVE SER EMPREGADO SEMPRE NO PLURAL. Isso significa que toda a concordância deve ser feita no plural. Assim, devemos dizer “As férias”, “minhas férias estão maravilhosas” e “Chegaram as férias”. Além, claro, do infame “Férias, suas lindas, eu quero usá-las”.

No caso da palavra “OSTENTAÇÃO”, é bom lembrar que ela vem do verbo “tentar”. Nesse caso, recebe o prefixo “ob-”, que se transforma em “os-” diante da letra “t”, e tem sentido de “intensidade”. “Ostentar” é uma espécie de “tentação” intensificada.

E nas férias, claro, sempre há muitas confraternizações. A palavra que mais vi no Facebook nos últimos dias foi “confra”. Todos sabemos que é uma redução de “confraternização”. A questão é: pode isso?

O processo de reduzir uma palavra até onde ela pode ser compreendida (“abreviação”) não é novidade na língua. Hoje em dia, quase ninguém fala “fotografia”: falamos “foto”. “Motoclicleta” deu lugar a “moto”. “Rolezinho” virou “rolê”. “Odontologia” é “odonto”, “fisioterapia” é “físio” e por aí vai.

Portanto, não há nada de esquisito na forma “confra” no lugar de “confraternização”. Obviamente, a palavra deve ficar restrita a ambientes linguísticos informais, como é o caso das redes sociais. No convite de uma empresa, por exemplo, “confra” não seria nada conveniente.

A propósito, para quem está acima do peso como eu, as “confras” de fim de ano e de férias são um pesadelo.

Menelau Júnior é professor de português

Coluna: Meus votos para 2015

Por Menelau Júnior

Já que esta é uma época de desejar um 2015 “maravilhoso” e “repleto de felicidades e realizações”, também tenho algo a desejar não apenas aos meus amigos do dia a dia, deste jornal e das redes sociais, mas, de uma forma geral, a todos os brasileiros. Por isso, desejo que em 2015…

1)     aprendamos a ser mais pacientes com aqueles que precisam de nós;

2)     devolvamos o troco que nos passam a mais – mesmo que sejam apenas centavos;

3)     deixemos de furar filas como se nada estivéssemos fazendo;

4)     sejamos mais honestos nas provas do colégio, da faculdade e dos cursos de idiomas;

5)     bebamos menos;

6)     não sejamos irresponsáveis dirigindo depois de ter ingerido bebida alcoólica – mesmo que “apenas um copo de cerveja”;

7)     consumamos menos e poupemos mais;

8)     respeitemos mais nossos pais e mães;

9)     sejamos mais frequentadores de livrarias do que de academias;

10)  sejamos capazes de perdoar a quem nos ofendeu, o que não significa fazer de conta que não fomos ofendidos;

11)  deixemos de usar o Facebook para nossas lamentações amorosas ou para nossas “indiretas” infantis;

12)  sejamos capazes de parar para ouvir os mais velhos;

13)  não compactuemos com a desonestidade, seja de quem for;

14)  exijamos mais responsabilidade de nossos jovens, principalmente quando o assunto é estudo;

15)  combatamos o uso de drogas a qualquer custo;

16)  deixemos de usar o nome de Deus em vão ou em nome do dinheiro e dos milagres fabricados;

17)  combatamos os maus políticos com ideias, e não com a destruição dos patrimônios públicos e privados;

18)  sejamos mais tolerantes dentro de casa, cuidando de cada palavra que sai de nossa boca;

19)  a Petrobras possa voltar a ser um orgulho nacional, e não uma vergonha surrupiada por petistas;

20)  saibamos que o mundo só muda quando nós mudamos.

É SÓ ISSO QUE DESEJO A TODOS VOCÊS EM 2015.

Menelau Júnior é professor de português 

Coluna: 100% “sofrência”

Por Menelau Júnior

Não adianta mais resistir: a palavra “sofrência” ganhou a boca do povo. A razão, ao que parece, é um estilo musical cujo principal representante atende pelo nome de Pablo. Seus shows são vendidos com a ideia de que é “100% sofrência”. As músicas, claro, são bregas até onde isso é possível. Há quem goste, claro.

Esta semana, duas pessoas me procuraram perguntando se “sofrência” existe. Minha resposta foi simples: se está aí, já existe. Quanto ao fato de essa palavra estar dicionarizada, então a resposta é “não”.

A questão é que “sofrência” surgiu para substituir “sofrimento”. Não sei quem inventou a danada, mas o Pablo está fazendo sucesso na moda dos “sofrentes”. Ah, achou estranha a palavra “sofrente”? Pois é justamente por causa dela que “sofrência” não está nos dicionários – pelo menos ainda.

Em português, temos muitas palavras terminadas em “-ência”: paciência, demência, insistência, incoerência, conveniência. Se você parar para pensar, verá que todas vêm adjetivos terminados em “-ente”: paciente, demente, insistente, incoerente e conveniente.

E aí entra a questão de “sofrência”. Seguindo a lógica da língua, “sofrência” seria natural se houvesse a palavra “sofrente”. O problema é que aquele que sofre é chamado de “sofredor”. E desta palavra vem “sofrimento”.

Essas palavras novas – chamadas de neologismos – surgem naturalmente, mas só acabam existindo nos dicionários quando passam do estágio do modismo. Foi assim com “imexível”, usada por um ministro de Collor no início da década de 90 e que hoje consta nos dicionários. Por enquanto, “sofrência” não passa disso: um modismo criado para designar certo gênero musical de gosto duvidoso. Se alguém está sofrendo muito, está passando por sofrimento, e não por “sofrência.

Menelau Júnior é professor de português

Coluna: Reta final para o Enem

Por Menelau Júnior

Em 15 dias, mais de 8 milhões de brasileiros estarão diante da porta que leva às principais universidades públicas. Essa porta se chama Enem. Criado em 1998, o Exame Nacional do Ensino Médio tornou-se o segundo maior “vestibular” do planeta, perdendo em número de candidatos apenas para o processo seletivo chinês.

Neste sábado, 25 de outubro, são esperados mais de 2 mil jovens para um aulão no Shopping Difusora. Professores de um colégio particular da cidade estarão, durante 4 horas, respondendo a questões que poderão “cair” no Enem. Para os alunos, uma boa oportunidade de tirar algumas dúvidas e de se avaliar também. Como diz aquele programa de TV, “se liga aí, que é hora da revisão”.

Aliás, nesta reta final não adianta querer aprender tudo de uma vez. A prova do Enem avalia a aprendizagem de toda a vida escolar. E não há muita mágica: quem leu mais, quem se informou mais, quem adquiriu mais cultura ao longo dos anos vai se dar melhor.

E qual o papel de pais e professores neste processo?

Bom, aos pais cabe – e sempre caberá – o papel do conforto, do carinho, da compreensão e da motivação. A hora de cobrar é durante o ano. Quem nunca cobrou resultados do filho, quem nunca acompanhou seus estudos, quem faz de conta que o adolescente sabe se virar sozinho não tem moral para exigir nada. Aos professores, cabe o papel do incentivo e da dedicação em busca de resultados. Não sejamos hipócritas: vivemos num mundo de resultados. Escolas particulares vivem disso. As públicas devem ser exigidas quanto a isso. Valorizar as boas escolas e cobrar das ruins é papel do estado nesse processo. Sem cobranças não há resultados.

E aos alunos, o que fazer nesses quinze dias restantes? Responder a muitas questões é uma boa pedida. Enem também é treino. Mas nada de desespero. É hora também de ver um bom filme, de ficar perto dos amigos, de conversar com os pais e professores. Se há angústias, revele-as! Vai ajudar. E se não há, melhor ainda. Nada como fazer uma prova com a confiança de quem se dedicou como deveria e tem tudo para conseguir a tão sonhada vaga na universidade.

Menelau Júnior é professor de português