Nesta entrevista exclusiva ao blog, publicada hoje na Folha de Pernambuco, o ex-senador Pedro Simon (PMDB-RS), que passou pelo Recife para uma palestra promovida pelo Grupo de Líderes Empresariais, condenou qualquer forma açodada que leve ao pedido de impeachment da presidente Dilma em consequência do escândalo da Petrobras, que julga como o maior da história do País.
“Acho que a pior coisa que pode acontecer, neste momento, é o Congresso começar a falar em impeachment, porque aí incendeia tudo, pega fogo e eu não sei como termina”, diz Simon, para quem o certo, neste momento, é o jovem ir às ruas pedir o fim da corrupção.
“A gente quer e precisa dos jovens nas ruas, a mocidade na rua. Com essas redes sociais e televisão, os jovens precisam dizer que querem o diálogo e o entendimento. Querem apresentar uma plataforma, uma pauta para ser discutida pelo povo brasileiro. Uma pauta onde esteja fim da corrupção”, observa. Abaixo a íntegra da entrevista:
A conjuntura nacional preocupa o senhor?
Ela mais que me preocupa, ela me angustia. Aos 85 anos, é a maior crise de todas que eu já participei, um momento impar na história do Brasil. Nós já vivemos cassação, prisão, golpe de estado, ditadura, tortura, tudo que se possa imaginar, mas hoje o conjunto brasileiro, o contexto brasileiro, vive um desafio.
Como assim?
A eleição foi democrática, não foi? Dois candidatos defenderam suas ideias na televisão, no rádio, nos jornais, saiu o resultado. Um ganhou e o outro perdeu, mas na verdade até hoje eu duvido que quem ganhou sinta o cheiro da vitória e quem perdeu esteja resignado e reconhecendo.
É mais sério do que a gente imagina a crise da Petrobras?
Esse problema da Petrobras é muito mais sério do que a gente pensa, sim. Eu, que sou um velho, lembro que comecei como guri participando da vida pública lá em Porto Alegre, na Praça da Redenção quando se plantava no meio da praça uma torre de petróleo e uma faixa “O petróleo é nosso”, iniciando a caminhada que foi longa, que foi difícil. Durante muito tempo, o mundo, os técnicos americanos, diziam que nós não tínhamos petróleo e parece que com o tempo passando nós não tínhamos medo.
E hoje, com o pré-sal, vivemos o momento áureo da Petrobras, não?
A Petrobras se transformou em uma empresa monstro, grande produtora. Estamos vivendo o momento áureo do petróleo, que é descoberta do petróleo em águas profundas. Sete mil metros de profundidade. Desses sete mil, três mil eram gelo e se descobriu petróleo. E esse petróleo é viável, poderá ser extraído e transformar o Brasil em um grande produtor. Além disso, o Brasil foi o primeiro País do mundo que usou os vegetais de alumínio e fez uma alternativa importante que pode ser figurada nesse sentido.
Não foi a entrega da Petrobras a políticos o início da era amarga da Petrobras?
Não mais que de repente, o governo resolve mexer na Petrobras. Os técnicos da Petrobras tinham dignidade no mundo inteiro, eram respeitados no mundo inteiro, a tecnologia deles era praticada e eles foram substituídos por homens dos partidos políticos. Um do PT, outro do PMDB, PDT, PCdoB. A Petrobras passou a ser um órgão com coordenação de partidos políticos. E as coisas começaram a se deteriorar e foi aumentando, foi aumentando e o governo primeiro não levava a sério, “isso é coisa da oposição e tal”, aí de repente apareceu o grande escândalo, o maior da história do País.
O senhor teme pela vida do juiz que está no caso?
Nós temos um juiz de direito federal no Paraná, que é o encarregado do caso, que é de uma seriedade, de uma competência, de uma responsabilidade infinita. Ele está fazendo um trabalho que merece muito respeito. Quando um juiz, ou quando um delegado, ou quando um promotor, ou quando um político, pega um grande problema, um grande assunto e começa a debater a imprensa vem pro lado dele e ele começa a ser manchete, daqui a pouco ele é arrastado pelas manchetes.
Isso representa risco?
Quando é um delegado de polícia faz mal. Ele termina dizendo coisa que não devia, coisas que deviam permanecer em segredo ao invés de serem ditas, não é o caso do juiz. Até hoje ele não aparece no jornal, só passa no jornal uma fotografia dele, debatendo, participando de um debate, participando de uma audiência, tomando uma decisão ele não aparece. Está tendo uma dignidade e uma fineza espetacular.
A postura do juiz deve ser esta até o fim?
O triste é que as coisas apareceram e aparecem da pior maneira. De um lado, a Petrobras, o que aparece hoje são lideranças, dirigentes máximos da entidade, se agruparem e fazerem um clubezinho, que combinou com outro clube das empreiteiras, das grandes empreiteiras. E os dois se juntaram e a partir daí resolveram montar um grande esquema. Quais são as obras da Petrobras? São essas daqui: 1, 2, 3, 4, 5, 6, pronto. Então, uma vai ser de empresa tal, outra da empresa tal, de forma que uma não contribuía com a outra, mas todas tenham o cara que dava o percentual para o partido político que representava. Eu fico trêmulo assim quando vejo uma coisa dessa magnitude!
Estamos diante do maior escândalo da história do País?
Diz a imprensa mundial que num País democrático, que tem democracia, que tem liberdade, que tem eleição, que tem justiça, é o maior escândalo que já aconteceu. Nos países árabes, países que não tem coisa nenhuma, à margem de tudo, pode acontecer. Mas em País tido como sério, como democrata, como o Brasil, é a pior coisa que já aconteceu.
O senhor acha que pode acabar em impeachment?
Aí é que eu entro: a imprensa alternativa, a televisão alternativa, estão convocando os jovens pra irem às ruas domingo, para pedir o impeachment da presidente Dilma. Por outro lado, tem outro grupo indo às ruas para massacrar o primeiro grupo, dizendo que é um grupo de golpistas, que quer dar um golpe na Dilma. Vejam que são dois grupos dramáticos e o acerto entre eles, o ponto entre eles, vai ser o pior possível. Aí é que eu entro e tenho discutido e tenho debatido e tenho analisado, ciente de que nós, o Brasil vive um momento frágil e temos que encontrar uma saída.
Como o senhor avalia uma saída?
Eu tomo como exemplo o Itamar Franco. Impeachment do Collor, ele foi afastado. Assumiu o Itamar e eu fui líder do governo Itamar. Ele reuniu todos os presidentes dos partidos: Lula, Ulysses, Tancredo, Brizola, todos presidentes de partidos e disse: eu estou aqui, mas eu não estou aqui pelo povo, o povo não me indicou, o povo indicou o Collor, o Congresso cassou o Collor e o Congresso me botou aqui. Então, estou aqui em nome do Congresso. Nós temos que nos reunir para decidir o que vamos fazer.
Na época se construiu a saída por um pacto, não foi?
Sim, exatamente. Ele propôs uma espécie de pacto, um grande pacto como o que feito na Espanha depois da guerra civil entre comunistas e fascistas, quando chegaram a um entendimento. Itamar quis isso e pregou afirmando: “Vamos nos unir”. Primeiro, nós estamos aqui, qualquer problema que seja problema nacional, de interesse nacional, qualquer um dos presidentes nos convoque e nos reunimos todos aqui e eu como presidente da República tenho o mesmo direito. Se eu ver algum problema e julgar sério, faço a homologação e nos reunimos aqui. Funcionou! Ele criou o Plano Real e o Plano Real foi votado no Congresso Nacional sem um favor, sem uma vantagem, sem uma emenda, sem coisa nenhuma. Debate, ampla discussão, mas foi votado com dignidade e o País ingressou, ingressou no rumo certo.
O senhor acha que já estaria na hora de o Congresso começar a fazer a discussão desse processo?
Acho que a pior coisa que pode acontecer, neste momento, é o Congresso começar a falar em impeachment, porque aí incendeia tudo, pega fogo e eu não sei como termina. O que eu acho é que neste momento a gente quer e precisa dos jovens nas ruas, a mocidade na rua. Com essas redes sociais e televisão, os jovens precisam dizer que querem o diálogo e o entendimento. Querem apresentar uma plataforma, uma pauta para ser discutida pelo povo brasileiro. Uma pauta onde esteja fim da corrupção.
Mas, isso não é fácil…
Não, um novo estilo de vida. Por exemplo, uma pauta onde esteja o combate a corrupção, a extinção de alguns partidos para um número razoável de partidos, o fim do dinheiro das empresas e empreiteiras nas campanhas eleitorais, uma pauta onde a eleição de deputado não possa ser como é hoje, que é um escândalo. Mas uma eleição distrital onde ‘a cidade tal elege o deputado tal e ele vai ser eleito naquele lugar’, uma pauta em que a gente estabeleça uma reforma tributária real, concreta, objetiva e uma pauta em que a gente faz aquilo que todo mundo quer, todo mundo é favorável, mas ninguém faz porque não tem um elo de união, de conjunto para fazer a coisa. O Itamar pegou um País com impeachment, horrível, sem bancada nenhuma e conseguiu fazer porque ele buscou o conjunto. Não foi nem pro partido A nem pro partido B nem pra ele. Ele buscou o conjunto e a primeira coisa que ele disse foi que ele não queria reeleição. Se nós fizermos isso, reunirmos e estabelecermos regras que interessam a nós todos, eu acho que essa bandeira pode ser pega pelo Congresso Nacional.