Exatamente seis meses depois da chegada ao poder do presidente não-eleito Michel Temer (PMDB), o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), avalia que o país mergulhou numa onda de retrocesso tão absurdo que nem no pior dos seus pesadelos ele imaginou vivenciar.
Para o senador, no entanto, o desmonte das políticas sociais, o arrocho sobre os trabalhadores e aposentados e a falta de legitimidade do governo estão sendo percebidos pela maioria do povo brasileiro, que rejeita fortemente a nova gestão. Pesquisa Vox Populi divulgada em outubro mostra que 74% da população avaliam Temer como ruim, péssimo ou regular.
“Estamos falando de um governo golpista que começou mal – sem a presença de mulheres e negros no primeiro escalão e com a divulgação de áudios que revelaram a real intenção de assumir o poder para estancar a sangria da Operação Lava Jato – e se tornou péssimo ao mexer nos programas sociais que mudaram a vida de milhões de brasileiros para melhor”, declara o parlamentar.
Humberto ressalta que o mundo também continua vendo a presença de Temer no poder com maus olhos, atribuindo-lhe a pecha de golpista, e que isso é refletido no comportamento que os chefes de Estado têm quando da sua presença em eventos no exterior.
Ele lembra que o peemedebista foi duramente criticado quando mentiu no discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas ao declarar que o Brasil recebeu mais de 95 mil refugiados de 79 nacionalidades nos últimos anos. O número oficial divulgado pelo próprio Comitê Nacional para os Refugiados, ligado ao Ministério da Justiça, é de 8,8 mil refugiados.
“Temer foi o único dos chefes de Estado dos Brics que não teve um encontro bilateral com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante a cúpula do grupo na Índia, em outubro. Isso é uma vergonha para nós, brasileiros, que tivemos a nossa autoestima elevada nos governos de Lula e Dilma diante do reconhecimento internacional do Brasil”, afirma.
O líder do PT faz questão de registrar vários dos retrocessos que marcam esses 180 dias de gestão do governo golpista, que inclui mudanças propostas por decreto ao Bolsa Família que prejudicaram milhões de famílias, corte de R$ 1 bilhão do orçamento do Pronatec para 2017 e adiamento em mais um ano da entrega da Transposição do Rio São Francisco, que já está com 90% de obras concluídas e vai beneficiar cerca de 12 milhões de nordestinos.
“É uma maldade atrás da outra. Como se não bastasse a PEC do Fim do Mundo, que congela o orçamento para os próximos 20 anos, as medidas já adotadas pelo governo prejudicam todos os avanços sociais da última década e revelam um preconceito sem limites com os pobres, quilombolas, índios e movimentos do campo”, critica
O senador lembra que, como se não bastasse, Temer ainda suspendeu a meta de contratar 2 milhões de moradias do Minha Casa, Minha Vida até 2018 e cancelou a construção de casas em Pernambuco, diminuiu o número de vagas nos cursos de graduação ofertados pelas Instituições de Ensino Superior e suspendeu contratos do Farmácia Popular, programa criado em 2004 pelo próprio Humberto quando foi ministro da Saúde no governo Lula.
Além disso, vem aniquilando com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), cortou novas bolsas de residência médica aos estudantes de medicina em 2017 e 50% do orçamento do seguro-defeso, criado com o objetivo de amparar os pescadores profissionais no período de proibição da pesca para a preservação das espécies.
“Temer conseguiu errar até na Comissão de Anistia, órgão do Ministério da Justiça responsável pela análise de casos de violação de direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988. O governo nomeou novos conselheiros, alguns ligados ao período da ditadura militar, e exonerou membros que não haviam solicitado desligamento do colegiado”, lembrou.
Humberto acredita, infelizmente, que isso é só o começo. “Quem acha que o pacote de maldades termina com a aprovação da PEC 241, agora 55, no Congresso está redondamente enganado. Está apenas começando. Primeiro, mexem com o direito à saúde, educação e assistência social. Depois, vão mexer na aposentadoria, fazer com que as pessoas trabalhem mais e ganhem menos. A classe trabalhadora também será alvo com uma reforma trabalhista que só vai atender aos patrões e acabar com conquistas como férias e décimo terceiro”, concluiu.