Do Congresso em Foco
O doleiro Lúcio Funaro afirmou em delação premiada que o presidente Michel Temer e os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), atualmente presos, receberam cerca de R$ 250 milhões de propinas em troca da liberação de recursos pelas vice-presidências de Pessoa Jurídica e Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal. As duas áreas foram controladas pelo PMDB e comandadas pelo ex-deputado e ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e por Fábio Cleto, indicado por Cunha.
Segundo o jornal O Globo, Funaro contou que o ex-deputado cassado atuava como um “banco de propina” para seus colegas da Câmara e, depois, virava o “dono” dos mandatos de quem era beneficiado. O doleiro disse que não sabe o valor exato da propina paga a Cunha, mas que o valor recebido por ele era repartido com Henrique Eduardo, Temer e outros deputados aliados.
O delator contou que a área de Geddel liberou entre R$ 5 bilhões e R$ 8 bilhões em créditos para empresas em troca de vantagens ilícitas. O baiano foi vice-presidente da Caixa entre 2011 e 2014. Segundo Funaro, o ex-deputado recebeu sozinho pelo menos R$ 20 milhões em propina e atuou mesmo depois de deixar o cargo, relata O Globo.
O operador financeiro do PMDB disse que os peemedebistas receberam dinheiro em troca da liberação de R$ 3 bilhões da Caixa para o grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. A propinava varia de 2,7% a 3,4% da operação, de acordo com o delator. O grupo também recebeu propina de operações do FI-FGTS, intermediadas por Fábio Cleto.
O Palácio do Planalto desqualificou a delação de Funaro. “O valor da delação e das palavras do doleiro Lúcio Funaro é zero, como já registrou a própria Procuradoria-Geral da República.” Procurados pelo Globo, Cunha e Geddel não se manifestaram. A J&F informou que repassou documentos sobre o caso ao Ministério Público. Já a defesa de Henrique Eduardo negou ter recebido propina e desafiou os investigadores a comprovarem o contrário.
Geddel está preso em Brasília. A Polícia Federal atribui a ele a propriedade de R$ 51 milhões recolhidos em caixas de papelão e malas em um apartamento em Salvador. Duas semanas depois da apreensão, o ex-deputado não se pronunciou sobre o dinheiro.