Testemunha liga vereador e chefe de milícia à execução de Marielle

Uma testemunha que foi ameaçada de morte procurou a polícia para contar, em troca de proteção, que o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-policial militar Orlando de Oliveira Araújo – atualmente preso sob acusação de ser chefe de milícia – se reuniram para planejar a execução da vereadora Marielle Franco (Psol). O jornal O Globo diz ter conseguido acesso ao relato da testemunha, com detalhes sobre as conversas entre Siciliano e Orlando. A testemunha afirmou, em três depoimentos ao Departamento de Homicídios da Polícia Civil, que as conversas entre o ex-PM e o vereador começaram em junho do ano passado, bem como informou datas, horários e locais de reuniões entre os dois. Orlando Araújo atualmente cumpre pena no presídio de Bangu 9 e continua a comandar do cárcere uma milícia da Zona Oeste do Rio, uma das mais violentas do estado.

O vereador nega conhecer o ex-PM e afirmou ao jornal que a notícia é “totalmente mentirosa”. A testemunha afirmou ter presenciado pelo menos quatro encontros entre Siciliano e Orlando e deu os nomes de quatro homens escolhidos para assassinar Marielle.

Segundo o depoimento, os dois se encontraram em um restaurante no Recreio dos Bandeirantes em junho do ano passado. “Eu estava numa mesa, a uma distância de pouco mais de um metro dos dois. Eles estavam sentados numa mesa ao lado. O vereador falou alto: ‘Tem que ver a situação da Marielle. A mulher está me atrapalhando’. Depois, bateu forte com a mão na mesa e gritou: ‘Marielle, piranha do Freixo’. Depois, olhando para o ex-PM, disse: ‘Precisamos resolver isso logo’”, diz trecho do depoimento a que o jornal diz ter tido acesso.

A testemunha também afirmou que o político e o ex-PM comandam, juntos, a milícia na Zona Oeste. Orlando era “uma espécie de capataz do vereador” que apoia a expansão da milícia, ainda segundo o depoente. “Pelo que sei, era apoio político, mas ouvi comentários de que a milícia agia em grilagem de terras na Zona Oeste, especialmente no Recreio dos Bandeirantes”, disse a testemunha, que foi obrigada a trabalhar, sob ameaça de morte, como segurança de Orlando.

O homem, que está sob proteção, instalava equipamentos de TV a cabo na comunidade que o miliciano passou a comandar. A testemunha afirmou ainda que o vereador Marcello Siciliano ficou incomodado com as ações comunitárias de Marielle em áreas de interesse da milícia, mas que ainda são comandadas por traficantes.

Ordem de dentro da cadeia e queima de arquivo

Orlando, já preso, deu o aval para que o plano de executar Marielle tivesse andamento, com a clonagem do carro que perseguiu Marielle e o levantamento de todas as movimentações da vereadora. O encarregado de reconhecer a rotina de Marielle foi identificado pela testemunha pela alcunha de Thiago Macaco.

Outros dois assassinatos recentes, de acordo com a testemunha, foram queima de arquivo. O líder comunitário Carlos Alexandre Pereira Maria, conhecido como Alexandre Cabeça, e do PM reformado Anderson Claudio da Silva, foram assassinados no início do mês passado.

 

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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