Torre Malakoff inaugura exposição Seja Noite, Seja Dia, Meu Corpo Gira, de July B.

O Observatório Cultural Torre Malakoff (Praça do Arsenal da Marinha, s/nº, Bairro do Recife) inaugura, nesta quinta-feira (21), às 18h, a exposição Seja Noite, Seja Dia, Meu Corpo Gira, da artista visual July B. O ensaio foi o grande vencedor do edital Ocupação da Sala Alcir Lacerda. A abertura para o público acontece nesta sexta-feira (22) e vai até o dia 10 de fevereiro de 2025. A visitação ocorre de terça a sexta-feira, das 10h às 17h; e aos domingos, das 14h às 18h.

O objetivo da Ocupação da Sala Alcir Lacerda do Observatório Cultural Torre Malakoff – Edital Concurso nº 001/2024 é premiar artistas pernambucanos da área de imagem com a finalidade de divulgar a produção fotográfica consolidando a linguagem e ampliando o acesso do público àquele equipamento cultural. Mestre da fotografia em preto e branco, o homenageado deixa saudade desde 2021, quando faleceu, aos 84 anos de idade. Como tributo, a Torre Malakoff possui uma sala em seu nome e o Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), lançou o edital de ocupação desse espaço que reverbera a memória e o legado do pernambucano Alcir Lacerda.

“A inspiração para Seja Noite, Seja Dia, Meu Corpo Gira surgiu de um estudo sobre fotografia experimental e como esses registros das manifestações culturais reverberam em mim, como pessoa negra e na minha identidade enquanto pessoa trans”, afirma July B. “As fotos surgem desse lugar de movimento, pensando o movimento do meu corpo enquanto fotógrafo. Torna-se especial, bastante afetivo, também, que as imagens clicadas sejam uma extensão do meu corpo, do meu movimento no mundo”, conta.

A exposição é ainda, de acordo com o autor, um resgate ancestral. “Enquanto estava no processo de captura as imagens foram aparecendo e então entendi de fato o que estava procurando. As fotografias refletem a performance do ato de fotografar e registrar, como também reflete em mim a forma como meu corpo se move diante da imagem e como ele recebe o que registro. Apesar da vontade de capturar o tempo, sei que é impossível, por isso, evidencio os rastros, as manchas, e as evidencio em pós-produção”, explica.

July B. lembra ainda que a exposição, homônima a seu trabalho de conclusão de curso, surgiu muito rapidamente. “Para mim não há lugar, pessoa, ou divindade maior do que Exu. Ele é a força motriz de meus trabalhos pessoais e profissionais. Muitos dos movimentos que ele proporciona, nessa dança circular, nomeia a exposição Seja Noite, Seja Dia, Meu Corpo Gira. Neste movimento circular, não há começo, meio, fim, e sim a energia. Sem maracatu não há como pensar nos terreiros de candomblé e jurema”, ressalta.

“As imagens de July Batista, que compõem o ensaio Seja Noite, Seja Dia, Meu Corpo Gira são moventes”, analisa a curadora Fernanda Capibaribe. “Movem-se no espaço-tempo, no interstício entre memórias de infância do fotógrafo e sua posterior (con)vivência com o Maracatu Encontro do Pina. Olhando para as fotos, penso no que Leda Maria Martins vai nominar como corpo-tela, em que, para além da imagem material, vemos transbordar sua característica icônica, em sons, em movimento, em vestes, em gesto. O ato de ver, aqui, não apanha apenas a aparência, mas algo mais profundo, que está entre nós e essa aparência, uma trama na qual os entornos do sujeito-memória e do maracatu são entrelaçados”, observa.

July Batista, ou simplesmente July B., é fotógrafo e produtor cultural. Na fotografia atua nos registros de manifestações culturais e nos rituais dos terreiros de candomblé e de jurema, em que elabora estudos sobre o movimento dos corpos racializados nesses espaços, que interliga diretamente a seu resgate identitário. Preocupa-se nesse campo com as rasuras da fotografia digital buscando também outros meios, como a filosofia e o audiovisual, para contracolonizar os resultados esperados fazendo do erro um processo de experimentação.

OBSERVATÓRIO CULTURAL – A Torre Malakoff é um importante monumento tombado pela Fundarpe, localizado no Bairro do Recife, área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan). Foi construído no século 19, com materiais provenientes da demolição do Forte do Bom Jesus, para servir como observatório astronômico e portão monumental do Arsenal da Marinha. O caráter militar da obra está presente em sua fachada e na simetria de sua planta lembrando também mesquitas do Oriente.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.