Foi enterrado nesta segunda-feira (12), no Cemitério da Várzea, no Recife, sob forte comoção, o auxiliar de serviços gerais Marcelo Costa Santos, de 51 anos. Ele faleceu após sofrer um ataque de tubarão, no último sábado (10), na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife.
O engenheiro de pesca Jonas Rodrigues, pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), liderou os estudos para identificar a espécie responsável pelo ataque. “Trata-se de um tubarão-tigre, ele tinha aproximadamente 2,6 metros de comprimento, um animal adulto, de um porte grande. É uma espécie natural dessa área, que tem hábitos costeiros e oceânicos ao mesmo tempo”, explicou.
Segundo o pesquisador, a confirmação da espécie é possível devido à análise da mordida deixada pelo animal. “Nós fizemos, durante um período de quatro anos, um catálogo das características, da forma da boca, do diâmetro de mordida e das marcas deixadas pelos dentes de cada espécie em partes rígidas e partes moles, como o corpo humano. E aí a gente consegue identificar qual a espécie envolvida naquela marca de mordida”.
Caraceterísticas da espécie
Como destaca Rodrigues, o tubarão-tigre é uma espécie envolvida em outros incidentes em Pernambuco e também em outras partes do mundo. “É um predador natural; tem um índice de agressividade elevado em decorrência da sua estratégia de alimentação”, comentou.
“E esta época do ano é uma época mais crítica, quando a gente tem um índice maior de chuvas e, consequentemente, a água fica mais turva, aumentando a probabilidade de encontro do tubarão com o ser humano e a confusão por parte do tubarão de que o ser humano possa ser uma presa do hábito alimentar dele”, acrescentou.
O engenheiro de Pesca Vanildo Souza de Oliveira, professor do Departamento de Pesca e Aquicultura da UFRPE, reforça a característica predatória da espécie, ressaltando, também, que ela está em seu habitat natural: “O tubarão-tigre é uma espécie agressiva, carnívora. Eles são os que têm mais registros de ataque pelo comportamento de curiosidade e de tentar presa nova. É uma ação comportamental do homem estar na água, eles [tubarões] estão aqui há mais de 400 milhões de anos”.
Os dois especialistas recomendam que o Governo do Estado implante medidas de educação ambiental a fim de orientar a população para evitar áreas com mais índices de risco.
“Estes meses (junho, julho e agosto) são os meses de maior ataque. Pernambuco já deveria ter um programa permanente de educação ambiental, principalmente nesse período”, disse Oliveira, recomendando, inclusive, a proibição de banho nesta época.
“No nosso laudo, nós recomendamos um programa de educação ambiental, a disseminação dessas informações de casos com incidentes de tubarão, restauração das placas de alerta para risco de incidente nas regiões e também uma intensificação das ações do Corpo de Bombeiro para informar a população de quais áreas são de risco”, detalhou Rodrigues.
“Além disso, outra recomendação que nós fizemos está relacionado à identificação de zonas de maior risco, como é o caso da Igrejinha de Piedade, onde ocorreu o último ataque. Seria uma proposta de sinalização das praias com bandeirolas graduadas em cores para identificar risco. Por exemplo, vermelho seria área de maior risco, amarelo seria de risco moderado e assim sucessivamente”, completou.
Monitoramento do Governo
De acordo com o Governo de Pernambuco, o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) analisa os dados referentes ao ataque do último sábado.
Em nota, a Secretaria de Defesa Social também informou que todas as praias do litoral pernambucano consideradas como áreas de risco para incidentes com animais marinhos são devidamente sinalizadas com placas e bandeirolas.
Ainda segundo a SDS, existem, aproximadamente, 110 placas destinadas à prevenção de incidentes com tubarão distribuídas ao longo de 33 km do litoral pernambucano, que contêm informações sobre condutas a serem seguidas.
O órgão informou, também, que o Cemit trabalha com recuperação ambiental, educação ambiental e prevenção e fiscalização de esportes proibidos. Acrescentou, ainda, que a rotina de prevenção acontece diuturnamente, não somente com as placas de sinalização, mas através dos guarda-vidas do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco, que realizam o monitoramento em postos de observação, instalados nos pontos mais críticos da orla.
FOLHAPE