A montagem das chapas do PL para a eleição municipal do ano que vem se transformou num embate interno entre os bolsonaristas e a ala mais pragmática, comandada pelo presidente da legenda, Valdemar Costa Neto. Nomes do entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro querem centralizar as escolhas, enquanto o grupo mais próximo ao dirigente prefere dar mais poder aos diretórios regionais. Já ocorreram atritos nas negociações para as definições em Fortaleza e João Pessoa.
O PL, que elegeu 343 prefeitos em 2020, tem a meta ambiciosa de mais do que triplicar o número e chegar ao patamar de 1.200 — e o desenvolvimento do plano está ocorrendo em meio a divergências. Nomes próximos a Bolsonaro reclamam da falta de um coordenador do projeto eleitoral, a exemplo do que o PT fez ao escalar o senador Humberto Costa (PE) para a função.
Bolsonaristas também se queixam de uma distância do partido em relação a pautas de direita. Na ponta oposta, o núcleo de Valdemar se diz mais preocupado em fortalecer o partido, não o bolsonarismo especificamente. Bolsonaro e Valdemar se reuniram recentemente para, segundo interlocutores, “aparar arestas”.
Queda de braço
Um exemplo deste tipo de atrito ocorreu no Ceará, há duas semanas, quando o deputado André Fernandes foi formalizado como pré-candidato em Fortaleza. Ele foi bancado pelo ex-presidente no posto e, para que isso fosse possível, a ala considerada “mais moderada” do PL foi desligada do diretório regional, que agora é presidido pelo deputado estadual Carmelo Neto. Os dois terão mais espaço para levantar a bandeira das pautas conservadoras no estado, numa vinculação direta ao ex-presidente. Sem uma liderança que coordene o projeto eleitoral, decisões deste tipo têm sido tomadas de maneira isolada, deixando marcas pela falta de composição interna na sigla.
Outra tensão pôde ser vista em João Pessoa, onde a escolha pelo ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga para disputar a prefeitura ainda gera rusgas. Apoiado por Valdemar, ele é contestado entre os bolsonaristas da Paraíba por, supostamente, ter pouca vinculação às bandeiras de direita. Apesar de o ex-ministro ter recebido o aval de Bolsonaro nas últimas semanas para seguir a empreitada, sobram dúvidas quanto ao embarque do ex-presidente na campanha.
— Toda articulação está sendo feita por meio dos diretórios. Esse tipo de contratempo, de discordância, é normal neste período, mas não há uma cizânia entre as alas do PL — minimiza Valdemar.
De acordo o dirigente, o PL planeja ter candidatura própria em 14 capitais: Florianópolis, Rio de Janeiro, Curitiba, Vitória, Fortaleza, Natal, Belo Horizonte, Manaus, Boa Vista, Porto Velho, Campo Grande, Cuiabá, Belém e Rio Branco.
Até o momento, embora não exista no PL um grupo de trabalho constituído com o objetivo de coordenar o projeto eleitoral, as decisões passam também por quatro militares, que mantêm interlocução com políticos locais: o ex-ministro Braga Netto, além de Flávio Botelho Pellegrino, ex-assessor de Braga Netto, Marcelo Lopes de Azevedo e Vital Lima dos Santos. Cabe a eles estabelecer uma agenda de eventos e fazer o contato com os prefeitos.
Ao mesmo tempo, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também ampliou o poder no PL e tem opinado nas decisões sobre a estratégia do partido para o pleito de 2024, com influência nas definições das chapas no Rio e em São Paulo. Ela participa semanalmente das reuniões da legenda, em Brasília, que começam a desenhar o cenário eleitoral, além de viajar o país na condição de presidente do PL Mulher. Michelle também será responsável pela nominata feminina, apontando quais lideranças podem ser indicadas como candidatas.
O Globo