Vale Tudo

Por Maurício Assuero, economista

O Papa João Paulo II quando visitou o Brasil pela primeira vez, na contramão do pensamento maquiavélico, disse que “os fins não justificam os meios”. Parece absolutamente claro o recado se olharmos do seguinte ângulo: vale tudo, mesmo? A razão dessa pergunta está associada ao momento eleitoral e tem muito a ver com a questão, que já tivermos oportunidade de abordar, da independência do Banco Central. Primeiro, fique claro que não estou atacando nenhuma das candidaturas, mas fico indignado quando me chamam de burro.

Mostrar uma mesa se esvaziando porque a comida vai faltar em função dos juros que seriam pagos aos banqueiros caso o Banco Central ficasse independente é, na verdade, chamar todos nós de burros. O Banco Central é órgão executivo da política monetária que é ditada pelo COPOM – Conselho de Política Monetária e atua como banco dos bancos, ou seja, quando um banco enfrenta dificuldade de liquidez toma empréstimo junto ao Banco Central numa operação denominada de redesconto. O lucro dos banqueiros não tem nada a ver com independência do Banco Central, mas está altamente correlacionado com o spread cobrado no Brasil. E o que é spread? Spread é diferença entre a taxa de captação e a taxa de aplicação (empréstimos e financiamentos) dos bancos. Ainda assim, um spread alto numa determinada operação não significa lucro imediato porque a operação pode não ser quitada.

A grande vantagem de um Banco Central independente (diga-se: livre da influência do governo) seria a adoção de uma política monetária sem qualquer vínculo político, ou seja, as decisões seriam tomadas com o objetivo de conter inflação e obter crescimento econômico consistente. Hoje, o governo não tem política monetária e a dedicação do Banco Central é no controle da inflação. Por exemplo: o dólar no dia primeiro de setembro estava cotada a R$ 2,23 e no dia 30 de setembro esta cotação era de R$ 2,45. Isto significa uma variação de 9,87%! Em outras palavras: as empresas que necessitam de matéria prima importada estão com um passivo 10% em apenas um mês. O governo sabe que o câmbio tem impacto na inflação e qual foi a medida econômica adotada para reverter ou estabilizar a moeda? Nenhuma. A tendência é que nos próximos dias o dólar seja valorizado ainda mais porque as pessoas para obter proteção da inflação tendem a procurar ativos reais (dentre eles, o dólar) e com isso a procura por dólar vai elevar o seu preço.

É uma pena que a grande maioria da população se deixe levar por informações absurdas do marketing político. É revoltante, na minha opinião, se aproveitar da inocência de quem depende dos programas paternalistas do governo para incutir medo com alardes desprovidos de coerência. Mas é bom que as pessoas saibam que Banco Central independente tem nas maiores economias do mundo. Naquelas nas quais os programas de renda mínima são muito mais que garantia de votos. Que o pensamento de João Paulo II ecoe…“os fins não justificam os meios”.

 

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *