Vida e obra de Manuel Eudócio são tratadas em livro

Considerado o último discípulo do Mestre Vitalino, o ceramista Manuel Eudócio (1931-2016) foi um dos responsáveis por fazer o Alto do Moura, em Caruaru, ser reconhecido como o maior reduto de arte figurativa das Américas. Sua vida e obra são temas de um livro idealizado pela galerista Lurdinha Vasconcelos, principal marchand da obra do artista, com textos do jornalista e antropólogo Bruno Albertim. O lançamento ocorre nesta quinta-feira (5), a partir das 19h, na Galeria Sobrado 7, do Shopping RioMar.

“Começamos a pensar no livro com Eudócio ainda vivo. Chegamos a entrevistá-lo e fotografá-lo trabalhando, mas logo ele teve chicungunha. Ele merecia muito uma homenagem feita em vida, mas infelizmente não deu tempo”, lamenta Lurdinha. Com parte dos recursos captados via Lei Federal de Incentivo à Cultura, a publicação conta ainda com uma série de fotografias assinadas por Eudes Santana, além de imagens do acervo pessoal da família. Algumas das criações mais famosas do mestre ilustram as quase 132 páginas da publicação. São figuras de barro que hoje integram os acervos de galerias e colecionadores.

O mestre faleceu aos 85 anos, de falência múltipla dos órgãos. Apesar da idade avançada e de problemas na visão, ele continuava dedicado ao ofício que aprendeu ainda na infância. Sua avó, assim como outros moradores da região, confeccionava objetos utilitários de cerâmica para garantir o sustento da família. Foi ao ver o amigo Vitalino vendendo figuras de pessoas e animais na feira que ele passou a fazer seus próprios bonecos.

“É verdade, em parte, que Vitalino foi mestre de Eudócio, mas Eudócio também influenciou Vitalino. Foi ele que ensinou algumas técnicas importantes, como a introdução do arame para dar mais firmeza aos bonecos e a utilização de tinta esmalte. Antes disso, Vitalino não pintava os olhos da peça, só furava a cerâmica crua”, explica Albertim.

Ao lado de Zé Caboclo, Zé Rodrigues e Ernestina, Manuel Eudócio e Vitalino formaram a geração que construiu as bases da maior escola de arte figurativa brasileira. Embora o conceito de autoralidade não fosse assimilado pelos artistas desde o início, são nítidas as peculiaridades no trabalho de cada um.

“Eles eram verdadeiros cronistas, ou seja, imprimiam no barro uma sociologia do universo ao redor. Eudócio, particularmente, cristalizou manifestações da cultura popular nordestina que na infância dele eram muito comuns, como o reisado, o cavalo-marinho e o boi-bumbá. Isso extrapolou o Alto do Moura e até hoje é copiado por artesãos de todo o Nordeste”, comenta o escritor.

Folhape

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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