ARTIGO — As dúvidas continuam

Maurício Assuero

Semana passada segmentos da indústria brasileira que representa uma parcela expressiva do PIB declarou apoio ao candidato Bolsonaro em função da proposta econômica defendida no seu programa de governo. Esse movimento segue, mais ou menos, o comportamento do mercado que já acredita nessa definição e por isso temos a paridade do dólar abaixo de R$ 3,70 e altas sucessivas na Bolsa de Valores.

Ocorre que a falta de conhecimento do candidato, além das divagações absurdas da sua equipe e de membros da sua família, colocam uma margem de insegurança muito intensa entre o prometer e o fazer. Por exemplo: essa mesma indústria que declarou apoio rechaçou publicamente a politica de liberar importações. Cabe lembrar que, no passado, Collor de Mello liberou importações e quem mais ganhou com isso foi a indústria brasileira porque sentiu que sem atualização da tecnologia não ganharia mercado. Vemos aí a indústria automotiva como uma das maiores beneficiárias dessa política. A reserva de mercado nem sempre é uma atitude aceita porque fere a livre comercialização.

Adicionalmente, quem falar em privatização não deve ter receio de potenciais compradores. Quem vende ações não pode esperar, sempre, compradores simpáticos e cordatos. Nesse sentido, a declaração de Bolsonaro de que não privatizaria o sistema Eletrobras porque os chineses estão dominando tudo na área de energia é de uma falta de propósito desmedida. Esse tipo de comportamento não cabe no mercado. Lógico que há cuidados a serem observados dentre os quais o investimento obrigatório em pesquisas. Hoje, a ANEEL impõe que 0,5% da receita operacional das empresas para pesquisas.

Os programas apresentados pelos dois candidatosapresentam fragilidades exatamente porque não esclarecem a forma ou método de implantação. Reduzir o tamanho do estado é prioritário. Juntar ministérios é fundamental porque reduz despesas principalmente com cargos comissionados. Mas, uma coisa é fundamental: colocar pessoas que tenham conhecimento de causa. Bolsonaro, por exemplo, fala em colocar Marcos Pontes como ministério da Ciência e Tecnologia. Tudo bem, porque Lula colocou um médico na Fazenda. Agora, termos um ministro cujo grande feito foi ter ido ao espaço é muito pouco. Temos quadros melhores e vamos torcer para que não seja o Brasil, independente de quem seja o vencedor, que vá para o espaço.

O problema do Brasil não se resolve com mágica. Nós precisamos de políticas, de credibilidade, de investimentos externos. O respeito à Constituição é prerrogativa inerente a qualquer cidadão. Corrupção e preconceito são duas formas de agressão constitucional.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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