Maurício Assuero, economista
Agora sabemos queJoaquim Levy vai comandar a economia no segundo governo de Dilma e isso é bom por algumas razões, dentre as quais o fato de Levy ser uma pessoa de mercado, com uma sólida formação e conhecimento e por ter a visão de que crescimento econômico não nasce apenas do incentivo ao consumo. O contexto de sua primeira entrevista já trouxe uma sinalização positiva: os programas sociais são frutos do crescimento econômico. Dizendo isto com palavras mais simples: a manutenção de programas sociais, como o Programa Bolsa Família, só é sustentável se houver crescimento econômico. Usando um argumento de Delfim Neto o que o governo está fazendo agora é repartir o bolo enquanto ele cresce e a proposta de Levy significa fazer o bolo crescer para repartir. É bem mais coerente.
Nas entrelinhas dessa postura sai, necessariamente, a indicação de que vamos ter que cortar gastos. O primeiro desafio é obter superávit fiscal sem falcatruas, ou seja, sem subterfúgios contábeis do tipo que antecipa receita e postecipa despesas ou como agora pretende o governo transformar as obras do PAC em investimentos para reduzir despesas e fechar com saldo positivo. O que se espera é que a equipe econômica consiga fazer este país crescer de forma sustentável (nesse sentido acho prematuro a comemoração do crescimento da economia no terceiro trimestre de 2014 em 0,1%, isso mesmo, 0,1%), respaldo para fazer isso, a equipe tem, agora, ao que nós percebemos não há respaldo político visto que integrantes do próprio partido da presidente Dilma já se colocaram contrários a escolha de Levy. Resgato aqui uma situação semelhante: quando Lula foi eleito presidente e cogitou Henrique Meirelles para comandar o Banco Central, a então senadora Heloísa Helena, do PT de Alagoas, foi publicamente contra a escolha. Há imagens de Lula conversando “ao pé do ouvido” para convencê-la. Heloísa saiu do PT, então se pergunta qual motivo esse pessoal que é contra não tomar o mesmo caminho?
O motivo é a grande probabilidade de perdas de verbas para financiar o nada, ou seja, dinheiro destinado a ações inócuas que ao invés de formar e dar cidadania as pessoas, mantem o individuo pobre e preso a um cartão de benefício e temeroso em mudar seu voto na próxima eleição. É absolutamente estranho o governo comemorar o aumento de pessoas beneficiadas pelo Programa Bolsa Família! O governo deveria comemorar quando a quantidade de pessoas vinculadas a programas sociais fosse reduzida porque isto seria um indicativo de que aquela pessoa encontrou um emprego e agora paga a previdência, tem um salário que lhe permite ter inclusão social.
Também é muito estranho querer transformar este programa no “programa de estado e não de governo”. Isso é perpetuar a miséria. O Bolsa Família precisa dar outra “roupa” aos seus beneficiários e não apenas a “roupa do Natal”. Não devemos, portanto, desprezar a visão de Levy. O Brasil pode mais e melhores programas sociais do que tem hoje, mas para isso é preciso crescimento sustentável. 0,1% é muito pouco!