Anos de atraso

Maurício Assuero, economista

Se continuar em vigor a legislação brasileira que trata das compras do governo, precisamente a Lei das Licitações, dificilmente o Brasil vai diminuir os anos de atraso que tem em relação aos países mais desenvolvidos. Sabemos que o controle é necessário, haja vista o que se fez na Petrobras, mas para a lei nós somos todos ladrões até que provemos o contrário. Quero falar, especificamente, do tratamento que se dá aos inúmeros pesquisadores desse país. Não faz muito tempo (cerca de um mês) os Estados Unidos colocaram 400 pesquisadores para produzir uma vacina, em tempo recorde, para o surto de ebola na África. Em pouco tempo de trabalho esta equipe iniciou os testes de uma vacina. Transportemo-nos para o Brasil.

Se fosse no Brasil cada um desses pesquisadores teriam que solicitar liberação do departamento ao qual está vinculado, provar que sua ausência não afetaria a carga horária ou que alguém iria lhe substituir, apresentar um projeto para ser aprovado, em dois ou três meses, pela Procuradoria Federal. Depois de tudo isso teria que formalizar um contrato, que duraria mais dois ou três meses, comprovar que o total de horas destinado a ensino, pesquisa e extensa, não ultrapassa 120 horas (se ultrapassar, só com autorização da autoridade superior).

Chegou a hora de contratar insumos e equipamentos para a pesquisa. Neste, ponto de cada item constante no projeto deve anexar três orçamentos de empresas que possuam todas as certidões negativas de débito, que declarem que empregam mão de obra infantil, etc. Enquanto isso, o número de mortes cresceria a uma taxa exponencial. Obviamente, que se entende a necessidade de controle, o que não se entende é a intransigência.

É mais do que necessário uma revisão urgente na legislação para beneficiar projetos de pesquisas. Não é apenas o setor público que faz pesquisa. Basta a gente pensar na quantidade de laboratórios farmacêuticos que usam o conhecimento da academia para colocar no mercado uma tecnologia responsável pela cura de algumas doenças.

Também é graças ao que se pesquisa na academia que nós temos equipamentos de exames com capacidade de identificar doenças num curto espaço de tempo. O pior é que o caminho da pesquisa é um dos que nos possibilitaria atingir um nível de desenvolvimento sócio-econômico-tecnológico semelhante as melhores economias do mundo. Vejam o que fizeram os americanos: colocaram um sonda para viajar 6,5 bilhões de Km para depositar nas “costas” de um cometa um robô que vai nos ajudar a entender a origem do universo. Nós temos condições de fazer isso? Acreditem que temos mentes capazes de proezas como estas.

É preciso que as empresas busquem intensificar o dialogo com a universidade (com a academia). A vantagem pode se retratar em ganhos de escalas, em competitividade, em reconhecimento nacional e internacional. O fato é que não podemos apenas ficar a mercê das empresas públicas para promover pesquisas.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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