ARTIGO — A Carta de Temer

Por Maurício Assuero

O presidente da câmara, Eduardo Cunha, aceitou o pedido de impeachment proposto por Hélio Bicudo, ex-petista, e o mundo não acabou. O que acabou foi a morosidade e a chantagem porque agora Dilma tem pressa em resolver a questão. De fato, não dá para esperar até fevereiro para colocar o país no trilho. O que se lamenta é a forma como as coisas estão sendo canalizadas. Todos os deputados da oposição, inclusive os nossos pernambucanos, se colocam contra Dilma e até o momento não dizem uma palavra contra Cunha. É absolutamente estranho ver um deputado pernambucano, que já foi governando, ao lado de Cunha e de Paulinho da Força que está sendo processado por desvios em recursos do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador.

Particularmente, não acho o impeachment uma boa saída, mesmo porque o vice-presidente, Michel Temer, assinou autorizações das chamadas “pedaladas fiscais” e aí se tivermos que ser coerente vamos impedir o Temer também e com isso abrir espaço para o que o presidente da câmara assuma a presidência.

Na verdade o momento não é de alegria. Não combina com as felicitações do fim do ano. O Brasil está mergulhado num emaranhado de corrupção que envolve, quase todos os partidos políticos, mas não todos os políticos. O PMDB não tem respaldo para tirar o país da crise até mesmo porque num se posicionou coerentemente. Há no partido pessoas sérias que lutaram contra o regime militar, que se tornaram presos políticos, que defenderam a democracia em tempos de ferro. No entanto, o partido é governo? É oposição? E se chegar a presidência vai ser governo?

A culpa desse inferno que Dilma vive não é exclusivamente dela. Ao meu ver, a culpa de Dilma foi não ter tido coragem de continuar a vassourada que ele entabulou no primeiro governo quando afastou 7 ministros envolvidos com corrupção. A deterioração da economia brasileira não surgiu no ano passado, mas ela começou a dar sinais de que seria forte a partir de 2008 quando o mundo começou a cair e o Brasil não vez absolutamente nada para se prevenir.

Agora, o cenário político está mais claro. Temer tem razão em alguns pontos da sua carta, mas o que leva um homem com o saber constitucional que ele tem ficar 4 anos como vice decorativo e só agora protestar contra isso? Por que não fez antes? Por que aceitou ser vice novamente? Por que só agora, com o processo de impeachment aberto? Ele deveria ter colocado na sua carta explicações sobre isso. “Cartas na mesa! Verdade, franqueza”

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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