ARTIGO — A sociedade entenderá

Maurício Assuero

O presidente Temer não resistiu a necessidade de aumentar impostos e anunciou um aumento de R$ 0,41 por litro de combustível, fato que significa um aumento percentual de 12,94% sobre o preço, médio, vigente. Como se sabe o governo tem um déficit de R$ 139 bilhões e percebeu que o aumento do imposto era inevitável para não aumentar o déficit por conta da elevação da dívida pública em 3,22%. Precisava de R$ 10 bilhões e a forma mais lacônica de fazer isso foi aumentando impostos. O pior: alegando que a sociedade compreenderá. É impressionante a cara de pau.

Basta um pouco de atenção para perceber a falta de seriedade desse presidente. Não é R$ 139 bilhões arrecadando R$ 10 bilhões, mas se há esta necessidade de recursos como é possível o governo liberar R$ 2,1 bilhões em emendas, diga-se, coincidentemente para 36, dos 40, deputados que votaram contra o parecer da denúncia na CCJ – Comissão de Constituição e Justiça? É lamentável que Temer defenda seus interesses a custa do sofrido povo brasileiro com 13,5% da sua população economicamente ativa desempregada.

Antes do aumento dos impostos o governo poderia tentar reduzir gastos, mas não faz isso porque não pode comprometer apoio demitindo apadrinhados de apoiadores visto que o apoio no congresso é importante para manter no cargo um presidente que tem 7% de aprovação popular, que tem a mácula de ter sido gravado compactuando crimes, de ter passado constrangimento na visita a Noruega sendo cobrado pela primeira ministra por controlar a corrupção da qual ele, Temer, é parte integrante e inseparável.

A decisão de Temer tem consequências imediatas no controle de preços. Combustível e energia são molas propulsoras da produção econômica e qualquer variação de preços desses itens, para cima, repercute diretamente na taxa inflacionária. A tal comemorada deflação, recém anunciada, passa a ser apenas um produto do meio e como tenho dito mais de uma vez aqui, fruto do sacrifício de 13 milhões de desempregados. Não é mérito desse governo que não tem política econômica para ofertar.

Uma ação precipitada principalmente porque a SELIC vai ficar em 9,25% ao ano, o que reduz o endividamento do governo. Por isso, o corte de gastos seria uma sinalização mais coerente do que o aumento de impostos. A sociedade entende que o gesto do presidente é para pagar o apoio que teve na CCJ. Poder arrumar mais dinheiro para a votação da denuncia no plenário semana que vem.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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