ARTIGO — Agora é mostrar a que veio

Maurício Assuero

Acabou a eleição e temos um candidato eleito. Independente de seus comentários exacerbados durante a campanha, espera-se que a postura do presidente seja outra, até mesmo porque a sociedade brasileira é suficientemente capaz de defenestrar qualquer um do poder. Tivemos dois casos de impeachment, podemos ter outro rapidinho.

O fato é que começa essa semana o período da transição. A nova equipe olhando as contas mais detalhadamente. Daí, irá surgir uma linha de atuação e se traça o arcabouço de propostas, ou seja, vai se consolidar ou se ajustar as promessas de campanha. Do ponto de vista político, a primeira providência que Jair Bolsonaro poderia propor era o fim da reeleição. Houve um momento no qual se acreditava que dois anos de mandato era razoável, mas agora parece bastante claro que o primeiro mandato é cumprido visando o segundo, que nunca é o sonho prometido no primeiro. Outra coisa: democracia boa é aquela que tem alternância e embora os americanos tratembem essa questão, lá também há seus problemas.

Do ponto de vista econômico, o buraco a ser fechado tem dimensões continentes. É do tamanho do Brasil. Reformas são necessárias, tanto quanto corte nos gastos públicos, por isso a extinção de ministérios é vista como um bom sinal para o mercado. Outro ponto fundamental é a equação do déficit público e aqui o caminho mais imediato é privatizar. Existirão ganhos dos dois lados: redução de gastos e entrada de dinheiro no caixa.

Tem coisa que no programa vencedor que não estão bem delineadas como, por exemplo, a Carteira de Trabalho Verde-Amarela. Tivemos, há um ano, a implantação de uma reforma trabalhista que trouxe resultados mais imediatos para o setor produtivo e muito pouco para os trabalhadores. Isto é, ao longo de um ano a reforma não foi capaz de gerar empregos da forma que era propagada e agora vem uma proposta estranha, na qual o trabalhador opta como quer trabalhar, mas há impactos sérios como a questão do FGTS.

O presidente eleito precisa dizer a que veio. Precisa retirar de cima dos seus ombros todos os comentários pejorativos em relação ao seu comportamento e suas opiniões pessoais, publicamente divulgadas. O que se vê na economia é um cenário de tranquilidade, visto que a cotação do dólar caiu para R$ 3,60 (embora deva fechar em alta) e a Bolsa de Valores subiu 2%. Isso quer dizer que o mercado vai cobrar os 50 milhões de votos e que o melhor a se fazer é jogar com clareza.

Finalmente, que o vencedor e seus apoiadores mais diretos retirem o salto alto, desarme os palanques e mostre trabalho. Uma coisa para aumentar a credibilidade é fundamental: manter cada um no seu quadrado. Se um quiser aparecer mais do que o outro essa casamento acabará na lua de mel.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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