ARTIGO — Boicote

Maurício Assuero

Li esta semana que duas grandes empresas de Pernambuco resolveram boicotar os produtos do grupo JBS pelo envolvimento em atos de corrupção. Não sei se este é o caminho mais adequado, porque não há sombra de dúvidas no desvio de conduta dos empresários, mas se a gente for analisar a corrupção bancada pelas empresas entra nos custos e não, diretamente, no lucro. Dito de outra forma: as empresas poderiam ter mais lucro se não tivesse que pagar propina e olhe que a gente não está falando de entregar uma garrafa de whisky, por exemplo. A gente está falando de contas no exterior de US$ 150 milhões, de R$ 128 milhões, ou seja, coisa da faixa de uma Mega Sena da virada!

Quem trabalha com o setor público sabe de algumas particularidades. Por exemplo: o empenho para pagar um fornecedor está pronta, mas o dinheiro não sai se o fornecedor não pagar alguma coisa para agilizar; lógico que há pessoas sérias que não se deixam contaminar e que por isso não são galgadas aos cargos mais elevados porque não querem fazer parte do esquema montado para alimentar milhares de bocas famintas. O Paulo Roberto Costa foi colocado num cargo com uma missão prévia de arrecadar dinheiro para partidos políticos.

As pessoas ao boicotar o produto não levam em consideração o esforço desenvolvido ao longo dos anos pelos empresários. No caso particular aqui citado, uma das empresas que irá boicotar os produtos da JBS é um grande restaurante. Particularmente, já vi, neste mesmo restaurante, diversos políticos corruptos, denunciados atuais da Lava Jato, são clientes e eu gostaria muito de saber se o empresário terá coragem de convidá-los a se retirar do restaurante. Não fará isso porque ele precisa pagar os custos e manter seu lucro e para isso ele não vai perguntar a origem do dinheiro.

Neste mesmo restaurante, participei de uma reunião com integrantes de dois partidos que apoiariam o prefeito atual, e tinha por incumbência escrever um projeto econômico para a cidade do Recife, que faria parte do programa de governo de um candidato a prefeito. Hoje um dos políticos dessa reunião é um deputado federal muito conhecido e quando ouvi a forma que o apoio se daria, entendi que não tinha projeto econômico que ajudasse naquilo. Deixei para outro a tarefa. E hoje vejo este nobre deputado esbanjando honestidade e levantando espadas contra a corrupção. É um grande cliente desse restaurante.

As empresas envolvidas em corrupção possuem empregados sem nenhuma participação em tudo isso. Vamos penalizá-los por quê?

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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