Maurício Assuero
O estrago é enorme. O país sucumbiu aos interesses privados dos seus governantes, ou melhor, dos seus representantes. Ninguém está interessado em resolver problemas econômicos, em reverter a alta do desemprego, tanto é assim que Lula chegou a declarar que o problema econômico pode ser resolvido depois e o importante, agora, é evitar o “golpe”. É uma pena que seja assim. É uma pena que o trabalhador brasileiro fique à mercê de uma questão política cujo desfecho a gente tem quase certeza de como vai acabar: impeachment! O problema é que, mesmo ocorrendo o impedimento de Dilma, não temos muitas razões para comemorar. É inconcebível que Dilma perca o mandato pela votação de pessoas que respondem, também, a processos por improbidade administrativa. Por esta razão, este impeachment não me causa qualquer sintoma de alegria.
Em adição, reconhecendo que precisamos dar um rumo ao país, externo a preocupação do “dia seguinte”. Notadamente temos tudo para viver um palco de guerra, com a ação dos movimentos sociais que ameaçam – esta é a palavra – o funcionamento das instituições. O Brasil está dividido e armado. Então, é possível que em meados de abril estejamos vivenciando um cenário de horror cuja responsabilidade deve recair sobre nossos governantes, sobre nossos representantes. A questão crucial, já dissemos, é que o PMDB tem agido nos últimos anos como um partido de apoio, que se pendura no governo, ocupa cargos, mas não apresenta soluções. Agora se fala de um pacto para salvar o país, caso Temer assuma, que incluiria um mandato tampão sem direito a reeleição. Esta ideia traria credibilidade ao mercado.
Por outro lado, o resgate político através da recuperação econômica está sendo, tardiamente, tratado pelo governo e, ainda, de forma errada. No início da semana passada o ministro Nelson Barbosa propôs algumas medidas de contingenciamento que afetam, diretamente, os funcionários públicos, por exemplo, porque congelam aumento real de salário. O governo não consegue enxergar que o problema não requer, apenas, a contenção dos gastos e que é preciso tratar do controle do endividamento.
Em 2008, quando os sintomas de crise transformaram-se em patologias econômicas, o Brasil adotou uma política econômica expansionista que foi insuficiente para salvar a economia do colapso. Em 2010, com as eleições à porta, o governo abriu o caixa, fato que se repetiu na eleição seguinte. O interessante é lembrar que o governo preferiu manter programas sociais, mesmo sem dinheiro repassado do Tesouro Nacional, gerando as chamadas pedaladas fiscais que se formaram como argumento principal do pedido de impeachment de Dilma. No fundo, Dilma tem suas responsabilidades, agora não adianta jogar nos seus ombros essa cruz porque há outros culpados. O seu partido político, por exemplo, tem uma responsabilidade bem maior do que ela. Erros foram cometidos no partido e ela engoliu por razões diversas, entre as quais, salvar Lula da guilhotina.