ARTIGO — Crise econômica pune setores produtivos e os consumidores

Reginaldo Gonçalves

A retração da economia continua a prejudicar os diversos setores da economia. Perverso sinalizador disso é a continuidade das demissões nas empresas. A insegurança com relação aos investimentos e as dificuldade relativas ao Custo Brasil ceifam postos de trabalho, colocando em risco o processo de inclusão social. A sociedade é a maior prejudicada.

Embora a inflação tenha fechado em 0,90% em fevereiro, taxa menor do que a de janeiro (1,27%), ainda acumula dois dígitos em 12 meses, sendo projetado índice de 10,36% ao ano. Ou seja, algo longe da meta de 4,5%, com viés de 2%. O aperto monetário e o desestímulo aos financiamentos por causa dos juros acabam reduzindo muito os investimentos em produção e, por consequência, retrai o mercado de trabalho.

A busca por reverter o quadro deverá ocorrer no cenário político. A maior parte dos problemas que prejudicaram a competitividade das empresas advém do abuso na gestão dos preços administrados pelo governo. Isso elevou significativamente os custos em todos os segmentos e prejudicou os consumidores, que passaram a pagar mais caro por serviços como a energia elétrica, reduzindo o poder de compra e perdendo a oportunidade de manter o mesmo padrão de vida. Observa-se que o ganho que houve com o Plano Real foi por terra e os que tiveram a oportunidade de mudar de faixas de renda retornam agora para patamares inferiores, além de enfrentar o risco do desemprego.

Um fator preocupante, que precisa de solução imediata, para que se restabeleça minimamente a capacidade de compra dos brasileiros, tornando possível o aumento da demanda e reversão do desemprego, está relacionado ao número de pessoas que se encontram endividadas. O SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) identificou que 58 milhões de brasileiros são nessa situação, o que representa cerca de 40% da população. O fato é alarmante, pois uma grande parcela disso deve-se às pessoas que foram desempregadas e tinham assumido compromissos com aquisições de produtos e serviços de modo parcelado e agora não têm recursos para pagá-las.

O governo simplesmente pensa em estimular alguns segmentos, como a construção civil, que nos últimos anos perdeu espaço significativamente e é um dos grandes empregadores. Tal estímulo, porém, pode encontrar barreiras entre os potenciais compradores, pois muitos não têm acesso a crédito, por estarem negativados. Outros têm medo do desemprego e um número significativo não consegue comprovar renda para comprar um imóvel adequado ao seu uso.

Infelizmente, enquanto não houver solução política para equilibrar a força entre os poderes, além da punição efetiva aos que realmente têm culpa nos processos de corrupção em curso, dificilmente haverá confiança no governo. A falta de credibilidade significa, perante o mercado internacional, juros mais altos e dificuldade em captar recursos, já que a contínua redução da nota de crédito internacional tirou o grau de investimento o Brasil, agora classificado com potencial risco.

Toda essa situação desestimula os empresários a fazer investimentos. Por isso, é necessária solução que restabeleça a credibilidade do governo e medidas econômicas eficazes, como juros mais baixos, controle da inflação pela via do equilíbrio fiscal, câmbio mais adequado e disponibilidade de crédito. Os desafios são muitos, mas precisam ser enfrentados!

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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