ARTIGO — Davos

Maurício Assuero

A estreia de Jair Bolsonaro num fórum internacional deixou a desejar. Ele tinha 45 minutos para falar e fez um discurso de 6 a 8 minutos. Tudo bem que usar o tempo inteiro não significava convencer as pessoas, ou seja, ele poderia nos 8 minutos gastos convencer investidores com um discurso convincente semelhante ao que fez Paulo Guedes na sua posse.

Notadamente, a emoção de participar de um evento dessa magnitude deve ter contribuído para um discurso tão acanhado, mas nesse curto intervalo de tempo, Bolsonaro falou sobre a questão fiscal, sobre o combate a corrupção e sobre as privatizações. Apresentou Sergio Moro como o ministro responsável pelo combate a corrupção e, ao que se sabe, nas conversas paralelas ele foi mais direto no que planeja o governo.

Digamos que se não foi o esperado, principalmente, por nós brasileiros, foi lançado uma semente que pode atrair investimentos. A área de energia está sucateada pela carência de investimentos e pelas limitações de uma matriz energética baseada em hidroelétricas. Dessa forma, vender esses ativos vai permitir que o Brasil disponha de novas tecnologias como ocorreu com as telefonias. Hoje, quem fala em geração de energia, não deve esquecer o que está sendo feito na China.

A questão da abordagem dos problemas fiscais, do déficit, precisava ser abordada e Bolsonaro perdeu a oportunidade de demonstrar a proposta de reduzir a dívida pública em 50% com privatizações e conseguir a outra metade com concessões. Isso causaria uma boa impressão porque os investidores veriam a preocupação com a responsabilidade fiscal, ou seja, o governo gastando no limite de sua arrecadação.

O que faltou foi uma preparação melhor, inclusive por parte dos ministros, dentre eles Paulo Guedes. Era o momento de vender um Brasil na forma que eles colocaram durante a campanha: uma economia aberta voltada para economia de mercado. Não deu dessa vez, mas vamos torcer para que, na sequência, os investidores internacionais aumentem seus interesses no que o governo pode fazer.

Em adição, não podemos deixar de lembrar que grande parte do que se pretende mudar depende do Congresso. Estamos a poucos dias da posse dos eleitos e o governo precisará ter jogo de cintura para aprovar medidas urgentes. Isso preocupa porque a gente ver um monte de gente batendo cabeça. Um monte de gente pensando mais em objetivos pessoais do que no Brasil. Sinceramente, se não houver apoio, este país irá afundar nos próximos quatro anos, não apenas do ponto de vista econômico. Então, vamos torcer para que isso dê certo.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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