ARTIGO — Deflação

Por Maurício Assuero

O governo divulgou a inflação este mês e comemorou o fato da variação dos preços ter sido negativa, fato esse que chamamos de deflação. Até onde me lembro tivemos dois momentos na economia em que isso aconteceu: o primeiro foi no governo Sarney com a implantação do Plano Cruzado; o segundo foi em 2006 quando a política econômica expansionista impulsionou a economia a tal ponto que somente por volta de 2010/2011 o Brasil começou a sentir os efeitos da crise mundial de 2008.

Acho que fatos dessa natureza devem mesmo ter seu momento de glória. É muito bom sabermos que a meta inflacionária está sendo cumprida porque isso atenua as despesas do governo e sinaliza, ao mercado, a tendência das decisões econômicas. O lado triste é que a inflação está sendo controlada pelo nível de desemprego que atingiu a taxa de 13,3% da população economicamente ativa.

Acrescente-se que esta taxa está neste nível por conta da forma que o desemprego é apurado. O governo não sabe, efetivamente, que está desempregado. Desempregado é aquele que procurou emprego na última semana e não achou. Quando o IBGE propôs uma avaliação melhor dessa pesquisa – ia começar a campanha política de 2014 – o governo da época não concordou e trocaram a presidência do IBGE.

Quando a gente fala de variação de preços negativa não pode esquecer que esse esforço é um ônus para as empresas porque, afinal, são elas baixam seus preços para conseguir vender e ao fazer isso não deixa de impactar nos resultados financeiros porque o produto vendido foi adquirido com um determinado custo e o mínimo que a empresa deve fazer vender por um preço igual a custo contábil, ou seja, eliminar a taxa de lucro.

Adicionalmente, não se sustenta a afirmação do presidente Temer de que a crise política não afeta a economia do Brasil. Seria muito melhor se não fosse assim. O governo não tem apoio popular e até hoje eu não entendo porque Temer acredita que somente ele é capaz de salvar o Brasil. A tentativa dele em formalizar acordos com a Noruega causou um constrangimento impar a um chefe de estado e uma redução de US$ 200 milhões em investimentos no Fundo Verde da Amazônia. O caminho para o Brasil engrenar no crescimento econômico passa pela urgente recuperação do emprego. Agora, temos uma nova política trabalhista. No meu entender, longe dos anseios reais da classe trabalhadora e sem efeitos imediatos na economia. Supõe-se que 30 minutos de almoço e férias distribuídas em três períodos sejam o carro chefe do aumento de produção.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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