ARTIGO — Desconfiança

Por Maurício Assuero

O início do governo de Temer foi marcado por ações equivocadas a exemplo do que aconteceu com a extinção do ministério da cultura que foi recriado por pressão dos artistas. Mais do que isso, a saída de ministros envolvidos com falcatruas como Romero Jucá e Henrique Alves só aumentou o desgaste. E não parou por aí: agora surgem os nomes de José Serra acompanhado pelo Eliseu Padilha e pelo próprio Temer. Existe algum nível de dúvida em relação à Dilma de sua participação direta em atos de corrupção. Não há, ainda, quem declare que entregou dinheiro diretamente a ela, muito embora a delação premiada do João Santana pode apontar coisas até então desconhecidas pela população. Agora foi dito que Temer participou diretamente de uma reunião na qual foi solicitado ajuda para o PMDB e esta ajuda importou em R$ 10 milhões entregues ao então candidato ao governo de São Paulo (Paulo Skaf) e a Eliseu Padilha (chefe da Casa Civil). Temer admite que participou da reunião, mas nega que tenha envolvido dinheiro. Seria importante que ele disse o que foi discutido.

A paciência do mercado é extremamente limitada. Se o mercado não enxerga coerência entre o discurso e a ação, ele adota medidas de proteção. É isso que está ocorrendo no momento, porque algumas pesquisas falam da melhora do otimismo da indústria, do consumidor, etc., mas isso não se reverte em benefícios para a economia. Estamos naquela fase do “confiar, desconfiando”, mas dentro em breve essa pequena confiança pode ir pelo ralo. Insistimos: não é apenas pela sujeira que denigre o Congresso, o Planalto e tudo mais. O governo está pecando, agora, pela inconstância nas ações.

A reforma da previdência é importante, mas vai ser discutida no gabinete do ministro da fazenda e longe dos interesses da população e à margem do conhecimento de especialistas. Modelos previdenciários que deram certo existem alhures, basta consultar. Mas, o governo insiste numa questão menor que é uma data limite (70 anos). Considerando que a expectativa de vida dos brasileiros é 72 anos, vamos trabalhar até morrer e a possível pensão por morte não será algo fácil de se obter.

O governo mira coisas pequenas (embora saibamos que devem fazer parte das discussões), mas até o momento não foi capaz de atrair investidores externos. O motivo é simples: não passou credibilidade e confiança e mesmo que se conclua o afastamento de Dilma, Temer terá sempre a sombra dos R$ 10 milhões, em dinheiro vivo! Tem outro detalhe: ao coloca-lo como um potencial candidato em 2018, Rodrigo Maia acendeu um estopim.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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