ARTIGO — Efeito nulo

Maurício Assuero

No mês passado foram criadas 100 mil novas vagas com carteira assinada e o presidente Temer foi às redes sociais para comemorar. Lógico que isso é assunto para comemorar mesmo e muito porque num sufoco miserável como esse, 100 mil novos empregos é um grande alento. Precisamos criar mais 100 mil, ou mais, este mês. Não é fácil e o processo eleitoral embola tudo de vez.

O medo de uma vitória de Bolsonaro, hoje, se assemelha ao medo de uma vitória de Lula no passado. Para o mercado era uma grande incógnita um governo petista. Lula precisou acalmar o mercado com uma carta, da mesma forma que Bolsonaro está fazendo agora. Sua proposta econômica tem pontos de interesse do mercado como privatização, redução do tamanho do estado e redução do déficit de uma forma bem delineada: vendendo estatais para arrecadar R$ 2 trilhões e fazendo concessões. Se formos comparar com a proposta do PT (atenção: não entender como declaração de voto nem contra nem a favor), por exemplo, o mercado deve se interessar muito mais por Bolsonaro. Há um consenso entre os candidatos de que a PEC dos gastos deveria ser anulada. Para alguns, essa leitura passa a ideia de frouxidão fiscal e as consequências são danosas e isso é uma das coisas que mais preocupa numa possível volta do PT.

Hoje a maior necessidade do Brasil é no controle do déficit. Muito embora o governo tenha optado pelo caminho mais tortuoso para fazer isso, que foi a PEC, não se pode abrir mão desse controle porque isso impacta diretamente nos indicadores econômicos. A taxa de juros mantida em 6,5% ao ano não agrega valor ao investimento; a inflação deve ser maior do que as projeções indicam e o dólar deve fechar o ano perto dos R$ 4,00. É com isso que o mercado conta.

Para 2019 o grande dilema será a fixação do salario mínimo. As projeções do governo chegaram a R$ 1.006,00 e depois caíram para R$ 998,00. Vejam a situação: por conta de R$ 2,00 não se paga R$ 1.000,00, mas não duvide quando o governo diz que não pode. Ele está sendo sincero e está é a única verdade disso tudo. O governo Dilma tinha colocado a variação do salário mínimo atrelada ao crescimento do PIB, mas diante da conjetura econômica essa regra precisa ser revista.

O fato é que uma notícia boa acaba sendo tragada pela dura realidade da incerteza. Temer vai concluir o mandato em viagens que nada significam para o país. não há mais como ele atrair investimentos porque as cartas, dentro de um mês, serão dadas por outro. A única coisa positiva do seu governo foi a liberação das contas inativas do FGTS e do PIS/PASEP. O resto é resto mesmo.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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