ARTIGO — Em direção ao solo

Maurício Assuero

Seguramente vivemos numa economia semelhante ao paciente com infecção em vários órgãos, mas ainda não generalizada. Vemos, dia a dia, os setores adoecerem lentamente em meio às expectativas de um remédio que cure os males, que não seja um mero paliativo. Começando falando assim por conta do setor de aviação. Desde 2001, ou seja, do início desse século, a cada dois anos, uma empresa de aviação sai do mercado. A mais recente a Avianca.

O que mais me admira é que qualquer pessoa sabe o custo operacional de uma empresa aérea. Os aviões são adquiridos através de leasing e o custo dessa operação é dolarizado. Afora isso, tem-se o custo de combustível, os custos operacionais com o pessoal de bordo e de solo e outros custos que eram assumidos pelas empresas, como a distribuição de lanches, almoços ou bebidas, mas que ao longo do tempo isso se resumiu a água, suco ou refrigerante, um copo, e outras coisas mais do interesse do passageiro passaram a ser pagas através de cartão de débito.

Adicionalmente, com a situação econômica do país no nível que está, com o achatamento de renda, a taxa elevada de desemprego e, pior, com a perspectiva de encaminhamento cada vez mais distante, tudo indica que o transporte aéreo passará a ser “bem de luxo”, destinado a classe mais abastada e diametralmente oposta aquele sentimento que Lula externou quando disse que no seu governo “pobre andou de avião”.

Aviação é um setor que há muito tempo dá sinais de exaustão. A saída tem sido fusões e aquisições. A TAM, por exemplo, se fundiu com a LAN – Latin America, chinela, e hoje operam como LATAM. Essa junção favoreceu as duas empresas que se encontravam em dificuldades de manter no ar seus aviões. Algumas empresas pretendem explorara as rotas e adquirir os aviões da Avianca. Tudo bem, mas isso não significa que o pessoal, principalmente de solo, será aproveitado. O pessoal que forma a tripulação tem mais chance porque são especializados, mas os demais deverão engrossar as estatísticas de desemprego.

O grande problema é que esse mercado pode afunilar suficientemente tornando-se um monopólio ou um oligopólio que traz, naturalmente, custos sociais. Precisamos saber o que irá acontecer se daqui a dois anos outra empresa encerrar suas atividades e suas rotas e equipamentos forem adquiridos por aquelas que demonstram uma melhor política de gestão, de planejamento. E aqui reside o maior problema: planejar no longo prazo considerado custos elevados, a exemplo da substituições de aeronaves por medida de segurança ou por necessidade de atualização tecnológica. A GOL, por exemplo, anunciou que terá rota para Lima, no Peru, com o avião 737 Max 8 (Boeing). Este avião está proibido de voar por conta de dois acidentes fatais.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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