ARTIGO — Equívoco

Por Maurício Assuero

Tem uma CPI no Senado sobre os juros exorbitantes do cartão de crédito cujo relatório é uma preciosidade de sandices e imbecilidades. Nossos nobres representantes entenderam que é possível emitir receita para controlar a lei de oferta e procura. Chegaram até a sugerir que todas as compras parceladas fossem com juros e que as compras sem juros não tivesse divulgação. As sugestões emitidas são comprovações claras de que eles não entendem bulhufas do assunto.

A compra via cartão em parcelas sem juros, ajuda a combalida economia brasileira. Mesmo o vendedor pagando uma taxa de 5% sobre o resumo de vendas tem duas questões positivas: a primeira é a redução da inadimplência porque o risco da operação é assumido pela administradora do cartão; a segunda é que com a renda achatada e desemprego em alta, dificilmente os vendedores conseguiram fazer caixa com vendas à vista. Assim, passar a vender com juros só aumenta o custo para o consumidor e não funciona como uma chave de controle para reduzir as taxas de juros, ou encargos financeiros, dos cartões.

As administradoras de cartões, para honrar seus créditos junto ao vendedor, necessitam de fundinge, diferentemente dos bancos, elas não fazem captação, só resta operar através de conta corrente garantida, com limites de crédito expressivos em mais de um banco. Só aí, elas já pagam o custo do crédito e, além disso, contam com um risco altíssimo visto que o cliente pode não ter condições de honrar o pagamento da fatura. É muito comum casos de clientes negativados que ficam cinco anos sem crédito sabendo que depois desse prazo seu nome sairá do SPC ou SERASA. Não se descarte o fato de que os consumidores compulsivos precisam de tratamentos e a população precisa frear um pouco a afã de possuir. Seria muito importante que as compras refletissem as necessidades reais e não a ostentação. Isso pesa também no risco.

As administradoras usam suas compras para entender seu perfil. É provável que ao fazer uma compra fora dos seus padrões, você receba uma ligação da administradora para constatar a veracidade daquela compra. Eles sabem qual restaurante você mais frequenta, qual o valor médio de suas compras no supermercado, qual média de dias de atraso nos seus pagamentos, etc.

E com isso eles ponderam seu risco. Quando alguma coisa dessas foge ao padrão, eles ligam o sinal de alerta. O governo adotou regras diferentes para os cartões, a partir de maio desse ano, na tentativa de baixar os encargos financeiros. Nitidamente, não deu muito certo porque o problema está, também, na natureza humana, além do risco financeiro.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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