ARTIGO — O desligamento

Carlos Degas Filgueiras

Desligar colaboradores é, sem dúvida alguma, a parte mais difícil do trabalho de um executivo. Trata-se de um trabalho tão doloroso que a maior parte dos gestores protela a decisão. No entanto, se nosso papel é maximizar a performance de um determinado departamento ou empresa, é preciso proteger esse desafio diariamente, e, se há alguém que não está alinhado com os objetivos, essa opção deve ser considerada. O fato é que há pouca literatura sobre o assunto e, por isso, decidi escrever esse artigo. Há quatro causas mais comuns para se demitir uma pessoa: falta de integridade, corte de custos, mau desempenho ou não alinhamento com a cultura. Vou tratar dos dois últimos casos.

Quando falamos de desempenho, nos referimos a problemas recorrentes na entrega dos objetivos. Às vezes, essa pode ser uma questão de aptidão para a função, corrigida enviando o colaborador para outra posição. Se essa medida não resolver, temos aí outro problema. Já em relação à falta de alinhamento com a cultura organizacional, não há certo ou errado. Cada um tem seus valores, que podem ter “fit” ou não com uma determinada organização. É preciso estar atento ao seu comportamento e entender se há o pertencimento e a semelhança esperada.

Independentemente do motivo pelo qual o colaborador está sendo desligado, é muito importante sinalizá-lo. Certifique-se de que ele recebeu os feedbacks necessários e teve a oportunidade de evitar que esse dia chegasse. Aprendi que esperar a avaliação anual de performance para isso não é uma boa ideia. Fundamental é ser sincero, transparente, frequente. É uma questão macro, para além da empresa. É uma obrigação de respeito humano. Mas como fazer o desligamento? Tenho algumas dicas que podem ser úteis. Em primeiro lugar, a reunião deve ser privada. Além disso, devemos evitar sextas-feiras e tardes, pois não queremos que o colaborador sinta que foi explorado no seu último dia.

Importante: comunique sua decisão nos primeiros trinta segundos de reunião e, logo em seguida, explique o porquê. O momento já é suficientemente difícil, não precisamos fazê-lo passar por essa ansiedade. Agora o feedback deve ser transmitido sim, mas com ênfase positiva. A pessoa já está sofrendo um “baque”, por isso é importante dar força, para que ela consiga se recuperar. Por fim, trate o colega com carinho e dignidade. Grande parte dos atritos futuros são gerados por má execução no momento do desligamento.

Para finalizar, você pode até achar que fez um grande mal ao funcionário, mas acredite que, na maioria das vezes, isso não é verdade. Ninguém gosta de trabalhar em um lugar onde não dá resultados e não é bem avaliado. Você pode estar fazendo um grande bem para a pessoa em médio e longo prazo, dando a ela a oportunidade de crescer e se desenvolver em outro lugar, seguir outra carreira em uma empresa onde possa performar melhor e ser mais feliz.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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