ARTIGO — O sentimento atual

Por Maurício Assuero

O mercado se agita acreditando nas medidas, mesmo que acanhadas, do governo Temer e conjeturando dias melhores. Uma grande ajuda para os estados foi a renegociação da dívida concedendo uma moratória de seis meses e findo este prazo um escalonamento para pagamento. Trazendo isso para a realidade do individuo é como se ele resolvesse pagar a fatura do cartão de crédito em parcelas ofertadas pela administradora do cartão. O efeito? Se ele continuar gastando ele terá as parcelas da dívida negociada e as despesas incorridas, ou seja, vai faltar renda para honrar os compromissos. Daqui a seis os estados não terão a menor condição de pagar essa dívida, muito embora a primeira parcela seja relativamente pequena. De onde vem este sentimento?

Olhando dados do Tesouro Nacional, um dos indicadores importantes é a relação DCL/RCL, ou seja, a fração da Despesa Consolidada Líquida sobre a Receita Consolidada Líquida, expressa em termos percentuais. Em 30/04/2016, este percentual para o Rio Grande do Sul era 218%! Isto significa que este estado tem uma despesa 218% do valor da sua receita. No caso do Rio de Janeiro temos 192%, Minas Gerais temos 188% e em São Paulo temos 163% (Alagoas a relação representa 165%, mas está fora da região Sudeste). Na região sudeste, responsável pela maior fração do PIB nacional, apenas o Espírito Santo se salvo com um percentual de 26% (a despesa consolida desse estado representa 26% da receita consolidada). Por mais que a economia venha crescer não dá para sustentar a situação desses estados.

O estado de Pernambuco compromete 58% da sua receita consolidada com despesas e está a frente de estados como o Maranhão e Piauí. Observa-se que Rondônia compromete tanto Pernambuco, mas seguramente nós somos uma economia mais consolidada. Com isso, podemos inferir que Rondônia tem mais equívocos do que nós.

Diante desses números, o sentimento que nos cerca é de que a economia não deve melhorar em 2016 a ponto de voltarmos a sorrir livremente, no entanto, o otimismo do empresariado pode ser um instrumento importante neste processo de recuperação porque este otimismo pode contaminar os setores positivamente e as pessoas acreditando na melhora poderão voltar a investir mais, gerar mais emprego e renda. Obviamente que tudo isso passa pelo resultado do processo de impeachment marcado para o final do mês de agosto. No fundo o mercado já condenou Dilma, pois qualquer movimento no sentido de sua volta tem uma reação forte do mercado. O câmbio, por exemplo, tem sido usado como o instrumento de sensibilidade: volta Dilma, o dólar aumenta, sai Dilma, o dólar cai.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *