ARTIGO — Reflexão

Maurício Assuero

Até semana passada, a gente estava conseguindo ajustar economia até que surge o coronavírus, na China, e o mercado no mundo todo sofre as consequências. No Brasil, por exemplo, o dólar voltou a subir, chegou a ser negociado a R$ 4,30 e o dólar turismo foi vendido a R$ 4,70. Embora o governo chinês tenha reagido com ações imediatas, como a construção de um hospital para tratar os infectados, o receio das demais economias é, exatamente, no tamanho do dispêndio e no tempo de reação do governo chinês, ou seja, de certa forma o receio é que a economia chinesa se retraia.

O Brasil, consciente de que essa infecção vai impactar nas projeções do PIB para 2020, se moveu da forma mais elementar: cortou juros. A taxa Selic caiu de 4,5% ao ano para 4,25% ao ano, a menor taxa de juros da história desse país. Isso tem consequências e algumas delas precisam ser observadas coerentemente. O lado bom da história é que taxa baixa aumenta o investimento, melhora o nível de crédito e dinamiza do consumo. É tudo que queremos para incentivar a economia.

O lado complicado é que as aplicações de renda fixa são fortemente penalizadas. Nenhuma a Caderneta de Poupança escapa. O problema é que a rentabilidade da Poupança perde para a inflação, então as economias de pequenos poupadores se desvalorizam com o tempo. Outras aplicações de renda, como os chamados CDB/RDB, sofrem incidência de imposto de renda. Quanto menor a taxa de Selic, menor será a taxa do CDB. Por exemplo: tomando por base a taxa de 0,0171% ao dia, divulgada pelo Banco Central, em 24/01, uma aplicação de R$ 1.000,00, descontado o imposto de renda, daria uma rentabilidade de R$ 3,98. Os investidores buscarão alternativas mais vantajosas.

Um movimento natural da redução da taxa de juros, que faz o mercado de renda fixa desinteressante, é o aumento do consumo. Isso, naturalmente, pressiona a inflação, mas para nosso espanto em janeiro de 2020 a taxa de inflação foi 0,21%, também a menor taxa mensal da história do Brasil. Como explicar esse paradoxo? Um caminho seria através da renda que, ainda, não cresceu para um nível capaz de fazer a engrenagem se mover mais rápido. Isso como uma consequência ainda expressiva do desemprego. Outro detalhe é que a decisão de reduzir a taxa de juros, a inflação de janeiro já estava definida, portanto, algum efeito sobre o consumo deverá ser observado esse mês, mas, como foi dito, sem renda satisfatória, o impacto continua pequeno.

Passaremos a semana a mercê do que vai acontecer na China e no resto do mundo. Estamos nos aproximando o período de Carnaval, haverá geração de renda e vem mais um alento. Pouco, mas necessário nesse instant

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *