ARTIGO — Um confronto que não vale a pena

Maurício Assuero

Os últimos movimentos da Lava Jato incendiaram os ânimos das pessoas. Algumas acusando a ação de truculenta e incabível com Lula e atribuindo seu envolvimento a uma conspiração para acabar com o mito. O mais estranho é que Lula está sendo envolvido pelas pessoas que o cercaram ao longo desses oitos anos (Pedro Correa, Ricardo Pessoa, Bumlai, Delcídio do Amaral, Léo Pinheiro, etc.). Empreiteiros com negócios vultuosos junto ao governo, aqui e fora do país, envolvidos em desvios de recursos públicos, devidamente apurado pela polícia federal e que está sendo condenados (Marcelo Odebrecht condenado a 19 anos e ainda tem processos em andamento) e eles estão entregando todo mundo para reduzir a pena.

Como pode ser isso uma ação truculenta ou uma conspiração das elites? Diante disso se levanta uma multidão para pedir o fim da corrupção e marca do próximo domingo para um protesto. O mais sensato seria que as pessoas que discordam disso ficassem em casa, não se envolvessem, mas aí o exército pró-Lula vai para rua e o confronto com cenas de violência ajudará a afundar cada vez mais a imagem desse país.

A Lava Jato tem um custo econômico altíssimo, mas não é a responsável pela crise econômica. Eu conheço muitos economistas que defendem Lula, mas são críticos quanto a situação econômica. Nós precisamos entender que estas empresas envolvidas na corrupção estão apresentando dificuldades financeiras. A Mendes Júnior, por exemplo, já entrou com um pedido de recuperação judicial. Sobre quem vai recair isso? Sobre aquele mestre de obras, aquele pintor, pedreiro que ganha pouco e que não sabia o que seu chefe fazia no gabinete do poder. Isso vai ser um efeito em cascata. As empresas estão com dificuldade de obter crédito e manter seus contratos, então o caminho mais rápido é demitir, reduzir custos, etc. Fato que só agrava mais a situação do Brasil.

Na outra ponta volta a questão do impeachment de Dilma. Se ocorrer, assume Michel Temer. Ele tem algum projeto para o Brasil? Provavelmente não, porque o PMDB governista se mantém na periferia, optando por ministérios e cargos com orçamentos expressivos. Se não for impeachment tem a denúncia de que houve dinheiro da corrupção na eleição de Dilma e aí a chapa Dilma-Temer é caçada e o governo ficará nas mãos de Eduardo Cunha! Serão 90 dias para convocar novas eleições, mas ele será o presidente do país. O Brasil sempre foi um país de futuro e me parece que não há nada mais assustador do que esse futuro. Então sejamos sensatos e vamos parar de criar conspirações para justificar os erros dos novos governantes. O que não podemos é deixar qualquer ameaçar pairar sobre as instituições.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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