Ainda mais central na campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) depois da escolha de Ana Amélia (PP-RS) como vice, o agronegócio será prioritário no programa de governo tucano, visto como um dos pilares que alavancarão o crescimento econômico do país. Temas caros ao setor são defendidos pela candidatura, como projeto 6.299/2002 (apelidado pelos críticos de PL do Veneno), incentivos para a agricultura de larga escala em detrimento da produção familiar e a flexibilização do porte de arma no campo.
As bandeiras enfrentam oposição ferrenha à esquerda e delinearão melhor a faixa do espectro ideológico que a chapa Alckmin-Ana Amélia tem potencial de ocupar. O efeito disso, esperam estrategistas do tucano, será atrair eleitores que hoje flertam com Jair Bolsonaro (PSL).
“Primeiro, precisa acabar com esse negócio de veneno”, indigna-se o deputado Roberto Freire, presidente do PPS, com o apelido dado por ambientalistas ao projeto de lei que acelera a regulamentação de agrotóxicos. Colaborador do programa de Alckmin na área de ciência e tecnologia, Freire diz ser “um absurdo, um grave equívoco” a grita contra o projeto.”Parece coisa de igreja. Como se fosse um diabo envenenando o mundo. É a esquerda atrasada e a direita nacionalista que se encontram no passado”, classifica o aliado.
O projeto de lei, em tramitação no Congresso, dá autonomia ao Ministério da Agricultura para registrar agrotóxicos, tirando o poder de veto hoje conferido à Anvisa e ao Ibama. A expectativa é que a mudança reduza o prazo de liberação de um novo produto dos oito anos atuais para no máximo três.
O próprio Alckmin elogiou a proposta há dez dias. “Não é Lei do Veneno, é Lei do Remédio. Precisamos de defensivos agrícolas mais modernos, que tenham efeito melhor, menos problemas para a saúde, para o ambiente e protejam a agricultura”, sustentou.
A evidenciar o apoio ao agronegócio, Ana Amélia começou a campanha oficialmente na quinta-feira (16) em eventos ruralistas no Paraná. Em declarações públicas, ela mencionou dois pontos centrais do programa de governo de sua chapa: melhorar o ambiente de negócios, facilitando crédito e seguro rural, e adotar postura agressiva na política externa.
“O Brasil se tornou neutro na questão dos embargos que vários países fizeram à Rússia por conta do assassinato por envenenamento na Inglaterra de um ex-espião russo”, observou. “Por que não negociou sua neutralidade em benefício dos produtores de suínos brasileiros, dizendo que não adotamos o embargo em troca de a Rússia abrir portas para a carne suína do nosso país? Falta protagonismo da política externa brasileira”, cobrou.
Responsável pela elaboração do programa de governo de Alckmin para o agronegócio, José Roberto Mendonça de Barros disse que é consenso internacional que o Brasil tem potencial de vir a ser o maior fornecedor de alimentos do mundo em 20 anos.
A pujança é visível mesmo em meio à crise. Nas contas do economista, no acumulado dos últimos quatro anos, o PIB do país caiu 6% e o do agronegócio cresceu 11,5%.
“É muito impressionante. É o único segmento que cresceu consistentemente, mesmo considerando que o El Niño, em 2016, comeu um pedação da produção”, disse.
Daí o motivo da prioridade dada ao agronegócio. Segundo Mendonça de Barros, será o setor e o programa de concessões de infraestrutura os puxadores de crescimento econômico do país.
Em que pese a importância e a demanda por orgânicos, disse o colaborador de Alckmin, não há tecnologia que dê escala para essa produção.
“Se dependesse de orgânicos, o mundo passaria fome”, afirmou Roberto Freire.
À reportagem Ana Amélia disse ter repassado a Alckmin também a preocupação com a violência no campo, entrando em terreno fértil para Bolsonaro.
“Com a migração do crime organizado da área urbana para a rural, é cada vez maior o número de assaltos nas propriedades, com roubo de gado, equipamentos, insumos e, o mais grave, o risco à vida dos produtores, suas famílias e seus trabalhadores. A situação é grave!”, exclamou a candidata a vice por mensagem.
A pauta de Bolsonaro para o agronegócio é, em termos gerais, similar à do tucano, com um ponto extra realçado: a flexibilização da lei trabalhista no campo.
Na época da safra, diz o ruralista Frederico d’Avila, colaborador do capitão reformado, a demanda por hora extra e trabalho em final de semana aumenta e a lei precisa ser adaptada a essa condição. Os bolsonaristas têm ainda postura mais enérgica contra invasões e crime no campo.
Para d’Avila, tanto Ana Amélia quanto Mendonça de Barros são respeitados em suas áreas, mas não são produtores, “não sentem na pele”. “O que não tem lá é gente que calce botina.”
Folhapress