A fase da adolescência, tão importante no desenvolvimento humano, ainda é parcialmente negligenciada por parte da nossa sociedade, sobretudo no que diz respeito aos desafios e necessidades desta geração. Estudantes do ensino médio, por exemplo, precisam lidar com conflitos emocionais, o desenvolvimento físico e ainda enfrentar uma importante questão: a escolha da carreira profissional.
Pensando nesses desafios, uma nova metodologia, que tem sido adotada por especialistas em educação, visa ajudar esses futuros profissionais a escolherem não só o curso e faculdade que irão estudar, mas também fazê-los enxergar a carreira de uma nova perspectiva.
“O Projeto de Vida, vinculado ao Empreendedorismo, é uma maneira de apresentar aos alunos curiosidades sobre o mundo e sobre eles mesmos, através de perguntas como: Quais são os seus valores (e quais empresas compactuam com esses valores)?; Quais as suas maiores aptidões e como essas habilidades podem contribuir para seu futuro profissional?; Quais tipos de problemas presentes em nossa sociedade vocês gostariam de resolver (e como isso se relaciona com suas futuras profissões)?, trazendo ainda uma perspectiva de que as profissões estão mudando e que eles também irão vivenciar mudanças durante suas carreiras”, detalha o diretor-executivo do Asas Educação e Diretor Administrativo e sócio da Teia Multicultural.
Com a perspectiva de que carreira é algo que se constrói, e não se escolhe da noite para o dia, o especialista afirma que para escolher uma profissão existe um único caminho a se seguir.
“Muitos deles (adolescentes) ainda são pressionados pela família ou por questões sociais a escolherem uma profissão que não os fará bem no futuro, tornando-os adultos frustrados com suas escolhas, por isso, é importante desde muito cedo mostrá-los que o trabalho pode ser, e é, muito mais que uma atividade laboral”. complementa o especialista.
Já o coordenador pedagógico da Teia Multicultural, Juan Otárola, especialista em educação e ator, explica como é a proposta, onde se destaca e investiga valores e aptidões pessoais de cada aluno, e como a instituição de ensino promove esse tipo de desenvolvimento a partir da integração por meio de projetos interdisciplinares.
“Esse é um trabalho que deve ser construído desde cedo com os alunos. Em nossa proposta se inicia no 5º ano do Ensino Fundamental o desenvolvimento de monografias que lhe dão uma visão ampla sobre metodologia, ABNT e outros elementos de pesquisa. Ao final dos estudos, já no ensino médio, os alunos têm uma base melhor de pesquisa e conseguem projetar esses saberes em algo do interesse deles, para que já comecem a traçar investigações sobre seu futuro profissional”, explica. “Assim, no trabalho final eles desenvolvem um produto ou serviço com validação mercadológica e apresentam seus projetos com pesquisas recentes sobre o nicho escolhido e de que maneira pretendem atuar nesse setor”, completa.
Projeto como base da educação
Segundo a neuropsicopedagoga e mestre em educação Georgya Corrêa, o trabalho vai além da formação escolar. Para ela, o fundamental da proposta é a capacidade de entender a razão dos estudos, da aprendizagem e da formação escolar. A partir dessa percepção, conforme a especialista, os alunos passam a compreender melhor as capacidades individuais e sua importância no mundo.
“Muitos alunos questionam ‘por que estou estudando isso? Para quê devo aprender aquilo?’. Isso acontece porque eles não conseguem fazer uma conexão entre o conteúdo escolar e as práticas que eles irão executar no dia a dia profissional. Então, o Projeto de Vida mostra que existe significado para cada conteúdo dado para formação do aluno, além de ajudá-lo a perceber suas características e habilidades, auxiliá-lo no processo de conhecimento social, ou seja, quais as demandas do mundo hoje, e fazer com ele reflita de que maneira é possível ajudar o planeta colocando em prática as habilidades que ele possui e o conhecimento adquirido no ambiente escolar”, pontua.
Ainda de acordo com a especialista, esse processo deve começar dando os primeiros passos nos primeiros anos de suas vidas escolares.
“Quanto mais cedo pudermos formar os alunos dentro da proposta, melhor. Não existe o Projeto de Vida sem um trabalho sócio emocional, desenvolvido desde a formação infantil. Se desde a base o aluno já puder compreender o porquê daquele conteúdo, mais ele terá capacidade de se enxergar como fundamental no processo social”, complementa.