Gabriel Costa ressalta que pensou muito antes de decidir falar publicamente sobre a mãe, a cantora Gal Costa, que morreu, aos 77 anos, na última quarta-feira (9), vítima de um infarto, em casa. Em entrevista ao “Fantástico”, o jovem de 17 anos afirmou que só enfrentou a timidez porque sentiu que precisava agradecer aos fãs da artista. Artista, aliás, que ele apenas enxergava como mãe.
“Por mais que, tipo, minha mãe fosse incrível e todo mundo conhecesse ela no mundo inteiro, eu não tinha essa visão. Eu só tinha a visão de que ela é minha mãe, e só minha. E eu não tinha visão da dimensão dela como cantora, que todo mundo tem hoje em dia. Só percebi isso no velório dela”, o jovem afirmou.
Gabriel foi adotado pela cantora quando tinha quase 2 anos de idade, depois que ela o conheceu num abrigo, no Rio de Janeiro. A maternidade, segundo a artista, mudou completamente sua vida. “Ele é um amor, uma luz na minha vida. Sempre me fez muito bem ficar perto dele. Agora… é um típico adolescente que fica no quarto trancado, jogando”, contou a baiana, numa entrevista ao GLOBO em 2021. Gal Costa morava na capital paulista com a companheira, a produtora Wilma Petrillo, a quem Gabriel chama de madrinha.
“Pra mim, ela era só minha mãe. Só”, reforçou Gabriel, em entrevista ao “Fantástico”, ao comentar a relação com a mãe. “Então, foi por este motivo que eu vim aqui: pensei, ‘ah, eu não tenho que pensar só em mim, senão vai ser muito egoísta’. Tenho que pensar nas outras pessoas que amavam minha mãe também, não só como eu amava. Então, tipo, elas merecem ver um pouco mais sobre a vida dela. Então, quem poderia dar mais afirmações sobre a vida dela se não for o filho? Não tem ninguém que possa dar. Aí eu decidi vir pra cá”, acrescentou o jovem.
Gabriel relatou que custou a aceitar o fato de o velório da mãe ser aberto ao público. “Antes de o velório acontecer, acho que um dia antes, eu tinha pensado: ‘mano, por que que o velório é aberto para todo mundo?’ Acho que devia ser só para os familiares e amigos, sabe? É um negócio íntimo. É minha mãe que morreu, sabe?”, afirmou Gabriel. “Mas eu tive uma conversa com uma pessoa que falou: ‘os fãs às vezes sentem mais do que o familiar, os amigos, porque os fãs acompanharam a vida. Eles amam a Gal, entendeu?’ Eles queriam ser amigos, queriam ser familiares também. Queriam estar perto da Gal. Então eles merecem um pouco desse adeus, desse carinho, sabe?”, acrescentou.
“Minha mãe era muito melosa”
Emocionado, Gabriel lamentou que, algumas vezes, tenha reclamado, em tom de brincadeira, do comportamento “grudento”, como ele disse, cultivado pela mãe. Gal Costa costumava dizer que nutria um “amor incondicional” pelo filho, e, sim, o paparicava em casa, na rua… Em seus shows, lá estava o adolescente no camarim. Sempre. “Eu ia no show e quando ela fazia aquele agudo… Nossa… Eu falei: ‘Meu deus, Jesus amado, vai estourar um copo de vidro’. Eu me assustava”, lembrou o filho da cantora.
“Minha mãe era muito melosa. Muito grudenta”, contou Gabriel, brincando que ela o ficava abraçando em todo o lugar, o que o deixava envergonhado em determinados momentos. “Aí tinha umas horas que eu queria ficar na minha, de boa, quietinho, aí ela chegava e grudava já. Já chegava grudando, abraçando, beijando. Eu falava: ‘ô, mãe, pelo amor de Deus'”, recordou-se.
“Acho que eu não aproveitei muito a minha mãe, a presença da minha mãe aqui. Porque, vamos supor, quando eu chegava em casa, eu não ficava muito tempo ali sentado com ela e com a minha madrinha conversando. Eu ia direto para o meu quarto. Aí ou eu dormia ou conversava com os amigos. Eu ficava jogando, via uma série… Não ficava muito lá embaixo com elas, conversando com elas. Então eu acho que a gente não conversou muito”, lamentou o jovem.
Gabriel contou, também ao “Fantástico”, que costumava ouvir determinadas músicas da mãe ao lado dela. “Cuidando de longe”, canção que Gal Costa gravou com Marília Mendonça no disco “A pele do futuro” (2018), é a sua preferida. “Às vezes ela chegava no meu quarto e eu estava escutando essa música. Ela sorria. Ela não fala muita coisa… Mas ela sorria. Ou então ela entrava no quarto e começava a rir”, rememorou o rapaz, que é fã de artistas do funk e do trap.
“Vou ter que mudar minha cabeça”
Gabriel conta que sempre se incomodou ao ser reconhecido como o “filho da Gal Costa”. Hoje, o comportamento é diferente. “Vou ter que mudar minha cabeça em relação a tudo: o jeito de pensar, o jeito de agir. Acho que minha maturidade vai mudar porque perder sua mãe com dezessete anos é fod*. Então, eu acho que minha maturidade vai mudar muito. Meu jeito de agir talvez vai mudar um pouco, e eu vou pensar mais. Vou raciocinar mais no que escolher, no que fazer, nas consequências”, contou ele, que gosta de cozinhar e que, em breve, ingressará na faculdade, no curso de Administração.
“Tenho uns pensamentos, que são seguir em frente, não chorar. Por mais que tenha que chorar, soltar tudo, né? Mas é chorar o suficiente e manter a cabeça no lugar e seguir… Sei que minha mãe está lá em cima já olhando, e, é isso, mantém firme, forte e segue”, afirmou Gabriel. “Pelo que eu sei, pelo que eu já ouvi, pelo que eu conheci, minha mãe foi uma mulher que revolucionou o mundo inteiro, da forma dela, sendo original, sendo ela mesma, sendo a Gal Costa. E espalhou isso por todo o mundo”, disse o filho da cantora.
O Globo