Com o fim da apuração dos votos, os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) forneceram um verdadeiro raio-x das disputas, indicando onde cada candidata ou candidato foi mais votado neste segundo turno. Em Pernambuco, Lula (PT) confirmou o favoritismo da primeira rodada e venceu na maioria dos municípios. A única cidade que remou contra a maré lulista foi Santa Cruz do Capibaribe. Na disputa estadual, Raquel Lyra (PSDB) foi majoritariamente escolhida pela Região Metropolitana e pelo Agreste, enquanto o Sertão preferiu Marília Arraes (SD).
Assim como em 2018, quando deu a vitória a Jair Bolsonaro (então no PSL) contra Fernando Haddad (PT), Santa Cruz do Capibaribe reafirmou sua inclinação ao bolsonarismo. Há quatro anos, o atual presidente venceu o ex-prefeito de São Paulo com 53,83% dos votos contra 46,17% na cidade do Agreste pernambucano. Candidato à reeleição, Bolsonaro esteve duas vezes no município durante a campanha. As tradicionais motociatas buscavam reforçar o favoritismo do candidato, que, apesar da força do lulismo em Pernambuco, conseguiu repetir o feito na Capital da Moda, obtendo 52,12% dos votos ante 47,88% do petista. No primeiro turno deste ano, o candidato do PL também ganhou na cidade.
Em contrapartida, Lula venceu nos outros 184 municípios e manteve Pernambuco como um dos seus principais redutos eleitorais. O petista obteve a sua melhor votação em Terra Nova, na mesorregião do São Francisco, onde recebeu 92,32% dos votos contra 7,68% de Bolsonaro. Natural de Caetés, Lula nasceu em 1945 quando a localidade ainda fazia parte de Garanhuns. A terra natal do presidente eleito neste domingo (30) deu 90,82% dos votos ao seu filho mais ilustre.
A Região Metropolitana do Recife, por sua vez, espelhou a polarização entre os dois candidatos. Recife, Jaboatão dos Guararapes e Olinda concentram o maior contigente populacional do estado. Na capital, por exemplo, a diferença entre Lula e Bolsonaro foi de 12,64%. Em Jaboatão, segundo maior colégio eleitoral de Pernambuco, a vantagem do petista ficou em 11,5% — apesar da influência da gestão local, tocada pelo grupo de Anderson Ferreira (PL), ex-prefeito da cidade e candidato do bolsonarismo ao governo.
Com 58,7% dos votos, Raquel Lyra foi eleita a nova governadora de Pernambuco. Os votos da tucana se concentraram no Agreste, onde está localizada Caruaru, cidade administrada por ela de 2016 até março deste ano. O município deu a maior vitória do estado à ex-prefeita, que teve 83,35% dos votos no seu berço político.
Marília Arraes, por sua vez, teve seu melhor percentual em Santa Cruz, que lhe deu 81,19% dos votos. Embora tenha nascido no Recife, a deputada não contou com o apoio dos seus conterrâneos, que deram 62,32% dos votos a Raquel.
Apesar da derrota, a candidata do Solidariedade conseguiu triunfar no Sertão, onde o sobrenome herdado do avô, o ex-governador Miguel Arraes, ainda é sinônimo de esperança. Quando governou Pernambuco entre as décadas de 1980 e 1990, Arraes implentou uma série de programas — como o Luz Para Todos — que benificiaram regiões menos favorecidas do estado.
Apesar da disparidade registrada em alguns municípios, algumas localidades como Sirinhaém e Afogados da Ingazeira tiveram uma disputa acirrada. No município do litoral sul, a vantagem de Raquel foi de 1,12% (50,56% x 49,44%); já na cidade do Sertão do Pajeú, a tucana teve 1,8% dos votos a mais que Marília (50,90% x 49,10%). O primeiro lugar entre os indecisos, no entanto, ficou com Pedra, onde a diferença entre as postulantes foi de apenas de 0,94% (em prol da candidata do PSDB).