Chuvas localizadas provocam realidades diferentes

Pedro Augusto

De acordo com a análise do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), nos dois primeiros meses deste ano, as chuvas que caíram do céu de Caruaru, em grande parte, foram localizadas. Isso quer dizer, na prática, que durante o intervalo específico, se em determinadas áreas territoriais da cidade houve grandes concentrações de precipitações ocorridas, em outras, praticamente não se observou volumes de água acumulados provenientes das pluviosidades. Totalmente influenciada por tal desempenho, atualmente, a zona rural da Capital do Agreste vem vivenciando dois cenários contraditórios de realidade com as predominâncias das cores verde e cinza. O primeiro englobando as produções agrícolas e de pecuária em abundância, enquanto o segundo correspondente às atividades do ramo quase que inexistentes devido à alta estiagem.

No intuito de se registrar as duas realidades extremas, a equipe de reportagem do VANGUARDA esteve visitando o quarto distrito rural de Caruaru, na manhã da última terça-feira (10). Na companhia do engenheiro agrônomo do IPA, Fábio César, o semanário teve oportunidade de conversar com produtores de Serrote dos Bois e de Xique-Xique, que são de áreas vizinhas, mas que hoje têm operado em condições de trabalho diferentes. Se na propriedade rural do morador de Serrote dos Bois, José Barbosa, o barreiro encontra-se praticamente cheio, as plantações estão se sobressaindo e o pasto está garantido, na da residente de Xique-Xique, Edileusa Maria, a terra seca é quem vem predominando sem dar qualquer sinal de trégua.

Como não poderia ser diferente, seu José Barbosa, foi só elogios quanto ao desempenho de suas atividades no primeiro bimestre. “Graças a Deus choveu bem por aqui, principalmente no mês de janeiro, e deu para juntar água. Em fevereiro, até esta primeira semana de março, a estiagem predominou, mas tenho fé de que as chuvas voltarão a cair com maior intensidade. Com as quedas de água que ocorreram em janeiro, deu para se trabalhar e lucrar bem não só em relação às plantações, como também no que diz respeito a minha criação de animais. Estou animado para o restante do ano, afinal, nem chegamos ainda no tempo do período chuvoso.”

Em situação extrema em comparação com a de seu José, Edileusa Maria afirmou não ter guardado nenhuma saudade dos dois primeiros meses deste ano. “Choveu muito pouco no Xique-Xique, não deu para juntar nada de água e não teve quase plantação. Graças a Deus que conto com essa cisterna de 10 mil litros na minha casa e tenho podido ajudar também a vizinhança com o abastecimento que vem ocorrendo através dos caminhões-pipa. Caso não, a situação estaria bem pior por aqui. Cerca de 50 pessoas têm sido beneficiadas com os repasses de água pelos caminhões. Os volumes armazenados estão servindo na sua maioria apenas para cozinhar”, disse.

Embora tenham encarado realidades diferentes no intervalo específico, em relação ao futuro, ambos os agricultores demonstraram otimismo. Dotados de muita fé, eles aguardam por quedas volumosas de chuvas, já a partir da próxima quinta-feira (19), quando a comunidade católica estará comemorando o Dia de São José. “Se cair água do céu no dia dele, já sabe: haverá muita chuva no ano e é o que esperamos. Se Deus quiser e por intermédio de São José teremos um restante de 2020 de muita água acumulada, o que será perfeito para as nossas produções”, comentou seu José Barbosa. “O Xique-Xique penou bastante nestes dois primeiros meses do ano devido à falta de água. Agora é reforçar a fé em Cristo para que ela comece a cair com força a partir do Dia de São José para garantirmos os nossos cultivos de milho, feijão e de mandioca”, acrescentou dona Edileusa Maria.

De acordo com os dados do IPA, em relação há este primeiro bimestre, choveu cerca de 140 milímetros em Caruaru contra a média histórica da cidade para o período que corresponde a 106 milímetros. Conforme ressaltou o engenheiro Fábio César, a tendência é de que, a partir de agora, as precipitações aguardadas ocorram de uma forma mais uniforme em Caruaru. “Diferentemente de janeiro e de fevereiro, quando houve a predominância de chuvas localizadas, a expectativa é de que a partir deste mês de março haja uma melhor distribuição de água. Afinal, nossa região entrará no seu ciclo chuvoso. As próprias previsões da Agência Pernambucana de Águas e de Clima (Apac) apontam para o aumento nos volumes de precipitações neste próximo trimestre”, afirmou.

Tão logo tais estimativas se concretizem, os agricultores locais terão oportunidade de intensificar as suas plantações. “A expectativa é de que as chuvas fiquem mais regulares já a partir deste final de mês. A torcida é de que mais uma vez a crença dos agricultores se consolide e que o Dia de José traga muita bonança para as lavouras de Caruaru”, finalizou Fábio.

Para se ter ideia da devoção em relação a São José, ao todo, 23 cidades de Pernambuco têm o santo como padroeiro, cuja festa é celebrada a cada 19 de março do ano. Para os católicos, a data deve ser de oração e sempre de agradecimento. Por isso, o dia é de expectativa para muitos agricultores.

São José é padroeiro no Sertão do Estado das cidades de Bodocó, Custódia, Dormentes, Ingazeira, São José do Belmonte e São José do Egito. No Agreste, Angelim, Bezerros, Brejo da Madre de Deus, Capoeiras, Feira Nova, Frei Miguelinho, Surubim, Venturosa e Vertentes. Na Zona da Mata, de Água Preta, Amaraji, Chã Grande, Joaquim Nabuco, Rio Formoso, São José da Coroa Grande e Carpina. No Grande Recife, Abreu e Lima.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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