Crise de grana e de água 

Por Magno Martins
Nos últimos dias, nas andanças pelo Interior com meus livros debaixo do braço para apresentar aos meus leitores e ouvintes, constatei que o Estado voltou a conviver com uma gravíssima seca, que esturricou praticamente todos os principais reservatórios entre o Agreste e Sertão. Em Toritama, onde água nas torneiras é objeto de luxo, chegando apenas duas vezes por mês, um empresário fez um desabafo comovente.

Disse que está lavando o tecido para produção das roupas jeans com água reciclada de esgotos, saída encontrada por ele e uma dezena de microempresários da sulanca entre Toritama e Santa Cruz do Capibaribe. “Só não queremos que um dia seja obrigados a matar a nossa sede com essa mesma água”, provocou. Ele se referia ao grave quadro da barragem de Jucazinho, em Surubim, que abastece toda aquela região, cujo chamado volume morto, de apenas 1,5% das suas reservas, está sendo consumido até a última gota pela população.

Em Salgueiro, onde estive na última quinta-feira, o prefeito Marcones Libório Sá (PSB), contou que todos os reservatórios que abasteciam a cidade e zona rural entraram em colapso. Não fosse uma adutora, feita na época do Governo Roberto Magalhães, Salgueiro, segundo ele, estaria hoje mergulhada num caos. Carlos Cecílio, prefeito de Serrita, bem próximo a Salgueiro, está sofrendo muito mais.

Segundo ele, um defeito na adutora de Salgueiro, que puxou um ramal para abastecer Serrita, deixou a cidade sem água por mais de 30 dias. Os açudes, barreiros e barragens também secaram todos. E ali, os pipeiros que garantem a oferta de água remunerados pelo Governo do Estado estão sem receber seus pagamentos há mais de seis meses, o que só contribui para agravar a situação.

Os pipeiros, aliás, estão programando uma manifestação para os próximos no sentido de pressionar o Governo. Em Serrita, a Secretaria de Agricultura, através do IPA, mobiliza 30 carros-pipas e o Exército também reforça o abastecimento com outra frota, mas esta está com seus pagamentos em dia.

O cenário da crise hídrica agrava nas regiões mais difusas onde o homem do campo precisa percorrer quilômetros em busca da pouca água que tem. Em Poção, a luta por um pouco que seja de água começa nas primeiras horas do dia. Os moradores já saem de casa carregando baldes. O abastecimento depende de quatro caminhões-pipa que circulam diariamente para atender uma população de quase 12 mil pessoas.

Esperar por água é a sina dos moradores da região desde que os reservatórios do município secaram. Sem cisternas para captar água da chuva ou até mesmo para armazenar o que vem do carro-pipa, crianças, adultos e idosos precisam sentir o peso dos baldes durante todo dia para tentar levar água pra casa. O recurso é tão valioso que quem tem uma cisterna cuida como se fosse um tesouro no fundo do quintal.

Segundo o Ministério da Integração Nacional, Pernambuco foi beneficiado com mais de 100 mil cisternas de polietileno e placa para amenizar o reflexo da estiagem, dentro do programa Água Para Todos.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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