E Agora Estudante?

Por Maurício Assuero, economista

A formação acadêmica no Brasil sempre foi palco de duras lutas. Começa pela quantidade de pessoas com curso superior. Basta olhar os dados do IBGE para se assustar com tamanho absurdo. Por exemplo: pouco mais de 10% da população tem curso superior e se formos buscar os detentores de titulação de mestres e doutores, este percentual cai para 3%. Agora, o dado mais preocupante é que, aproximadamente, metade da população com 25 anos ou mais não tem o ensino fundamental.

Não vamos entrar no mérito da questão. Razões para isso serão ofertadas livremente sendo, provavelmente, a mais comum a questão da necessidade de trabalho, isto é, o aluno deixa a escola por que precisa trabalhar para contribuir com a renda familiar. Sabemos que isso existe, mas isto não ser o instrumento da conformação (na verdade é o instrumento da indignação). Na outra ponta da via tem a falta de política pública. Falemos do caso do FIES, o programa de financiamento estudantil do governo. Na verdade o crédito educativo desprovido de critérios e que agora atingiu de uma forma cruel a economia do país.

Para quem não se lembra, no crédito educativo o estudante deveria apresentar um garantidor (fiador ou avalista) e devolver o empréstimo no tempo previsto gasto para formação. As obrigações começavam a ser exigidas exatamente um ano após a formatura. Obviamente que isso não atendia a população porque quem tinha garantidor eram as pessoas abastadas que não logravam êxito no vestibular das universidades públicas ou não tinham, mesmo, tempo para estudar numa universidade pública. Pode-se dizer que a população que precisava ser inserida socialmente estava fora desse meio. Mas, os programas do governo são adaptados (veja o caso do Bolsa Família que é o novo nome dos programas mantidos pelo governo FHC) e na tentativa de melhorar a formação dos nossos jovens, veio o FIES que dentre outras facilidades dispensou o garantidos (a intenção é justa), mas não levou em consideração alguns critérios mínimos de qualidade. Um aluno que tirou zero na redação do ENEM pode ser beneficiário do FIES, por exemplo. Isso, simplesmente, foi a “galinha dos ovos de ouro” para as faculdades privadas e o crescimento do programa está levando o governo a um estado de insolvência sem precedentes (como uma pirâmide financeira) a ponto de agora, ser importante botar um freio no programa para diminuir a quantidade de atendimentos, simplesmente porque não há dinheiro para bancar isso.

Vários estudos comprovam a educação como uma ferramenta importante no crescimento econômico. Há bons trabalhos que atestam como o capital humano pode influenciar positivamente o crescimento da economia e, exatamente, quando a bandeira do governo passa a ser educação, percebe-se que teremos entrave para manter um programa fundamental para a inserção social. Isso faz parte da política implantada sem avaliação das consequências. Enquanto vivenciarmos coisas semelhantes, atuaremos sempre como bombeiros, apagando fogo.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *