Economia comportamental: da teoria à prática

O percentual de famílias endividadas no Brasil atingiu 58,4% no mês de setembro, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. O dado, divulgado através da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, demonstra não só os efeitos da crise econômica, mas também a urgência de dar atenção especial à educação financeira. O tema volta ao debate sob a luz de um estudo realizado pelo recente ganhador do Nobel de Economia, que explica, em partes, a razão pela qual os brasileiros estão em apuros economicamente.

Considerado o pai da economia comportamental, Richard Thaler defende que fatores sociais e emocionais estão diretamente ligados ao comportamento humano quando o assunto é dinheiro. Para muitos, o simples ato de decidir se é o melhor momento para trocar de carro ou comprar um apartamento é guiado por sentimentos que ultrapassam a racionalidade simples do ter ou não dinheiro para tal. “O que ele demonstra é que as pessoas compram, muitas vezes, por impulso, para aliviar uma dor emocional ou para tentar transparecer algo”, explica o professor da Fundação Getúlio Vargas, Andriei Beber.

Especialista em finanças, Beber afirma que é fundamental ter esse entendimento para que seja possível estudar formas de se educar para uma vida financeira saudável. Assim como Thaler defende a teoria do “empurrãozinho” – que consiste em estimular as pessoas a poupar –, o professor da FGV explica como aplicar isso no cotidiano, com a teoria dos 4Rs – Reconhecer, Registrar, Revisar e Realizar. “Sabemos das dificuldades enfrentadas pelas pessoas quando o assunto é gerenciar seu próprio dinheiro. Então o que se propõe com os 4Rs é um modelo prático de como conseguir alcançar seus objetivos e ter uma vida financeira equilibrada”, destaca Beber.

1 – Reconhecer a necessidade de assumir as rédeas das finanças pessoais e promover uma profunda reflexão sobre os objetivos financeiros individuais e familiares.

2- Registrar os gastos que estão sendo realizados. Essa etapa permite avaliar de forma palpável a entrada e saída de dinheiro. Muitos aplicativos estão disponíveis hoje gratuitamente para contribuir nesse controle.

3- Revisar como é o seu consumo e os pontos possíveis para economia e otimização. Pesquisar preços antes de comprar, estabelecendo um padrão consciente de consumo, é apenas um exemplo dos benefícios que essa etapa pode oferecer.

4- Realizar seus sonhos, como viagens ou compra de um imóvel, por exemplo. Nessa etapa você já está ciente das contas existentes e tomou as medidas necessárias para garantir a melhor aplicação do dinheiro. Agora é hora de reordenar o seu recurso para aplicar naquilo que você deseja.

De acordo com Beber, “quando a pessoa tem consciência de onde o seu dinheiro está sendo gasto, ela pode redefinir as prioridades e se dedicar a alcançá-las sem ficar endividados”. Para isso, entretanto, é preciso disciplina e comprometimento com as metas estabelecidas.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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