Economia local não terá mais injeção da Truck

Por Pedro Augusto

Se já há um bom tempo, o número de eventos voltados para a economia de Caruaru não tem sido lá essas coisas, em 2016 a tendência é que este quantitativo fique ainda menor. Depois de 18 anos sendo promovida no Autódromo Internacional Ayrton Senna, a etapa da Fórmula Truck não deverá fazer parte no próximo ano do calendário turístico da Capital do Agreste. O motivo para não mais realização da prova no âmbito local, segundo o presidente da FPeA (Federação Pernambucana de Automobilismo), Waldner Bernardo, se deve à suposta falta de apoio financeiro por parte da prefeitura. Apesar de impulsionar bastante diversos setores financeiros da cidade, a competição nacional não estaria mais fazendo parte dos planos do Executivo.

Foi o que denunciou Waldner, em entrevista concedida ao VANGUARDA, na tarde da última segunda-feira (8). “Na verdade, o que está faltando mesmo é visão política. É claro que as prefeituras estão passando por dificuldades diante dessa crise econômica que vem afetando todo o país, mas em Caruaru a Truck não pode ser vista como um problema, mas, sim, como uma solução. Para se ter ideia, de acordo com os nossos estudos, a cada ano a competição tem atraído pouco mais de 35 mil pessoas ao Ayrton Senna. Grande parte desse montante é oriundo de outras cidades, o que acaba gerando grandes receitas para o comércio e as cadeias hoteleira e gastronômica do município. Entretanto, a PMC está se atentando apenas aos custos que iria contrair.”

Estes últimos seriam provenientes do deslocamento dos caminhões das equipes para o município. “Neste ano, a categoria chegou a firmar acordo com a prefeitura no sentido de que o mesmo suporte financeiro fosse repassado, porém nada foi cumprido. Para se ter ideia, cada caminhão em deslocamento custa em média R$ 20 mil. As despesas correspondem ao combustível empregado, ao pedágio nas estradas pago, bem como ao próprio pagamento dos condutores. Somando todo o número de veículos, a Truck precisaria de um apoio de R$ 500 mil para desembarcar em 2016 em Caruaru. Valor este que chega a ser irrisório se comparado à movimentação econômica impulsionada pela categoria”, acrescentou Waldner.

De acordo com os dados levantados pela FPeA, em consulta ao Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Pernambuco, somente no fim de semana da Truck pouco mais de R$ 1,2 milhão era movimentado na rede hoteleira da cidade. Considerando-se ainda o gasto médio de R$ 134 de cada espectador, também identificado em pesquisa, o montante financeiro injetado nos demais setores da economia local chegava a R$ 3,7 milhões. “Sem falar nos empregos diretos e indiretos gerados e ao alto volume de ISS (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza) arrecadado durante a realização da etapa. Ou seja, a prefeitura parece ainda não ter percebido o retrocesso financeiro que poderá causar com decisão de não apoiar a Truck em 2016”, finalizou Waldner Bernardo.

Atual coordenador da Câmara Setorial de Gastronomia da Acic, o empresário Jósimo Soares também lamentou o não desembarque da Truck. “Num período de crise como este, à medida que deixamos de comportar um evento deste porte, toda cadeia gastronômica de Caruaru e da região ficará ainda mais enfraquecida. Não só o nosso setor, mas o próprio turismo em si sairá perdendo com essa decisão. Apesar de contarmos com o melhor autódromo de Pernambuco, a PMC não tem se mostrado interessada em incentivar a atração de competições para cá. Só têm perdido a economia e o esporte local.”

Caruaruense, o piloto Beto Monteiro, da escuderia Iveco, se mostrou favorável à não realização da prova pernambucana. “É triste, mas eu entendo o lado deles (diretoria da Truck). Eu não podia ficar brigando sozinho pela permanência da etapa em Caruaru e tive de concordar pelo bem comum da categoria”, explicou. De acordo com o seu pré-calendário, divulgado na sexta-feira (4), a Truck 2016 terá a primeira prova promovida no próximo dia 13 de março, no Autódromo de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul.

Resposta

Procurada pela reportagem, a prefeitura se limitou a enviar uma nota sobre o assunto. Confira na íntegra: “A Prefeitura de Caruaru informa que sempre colaborou com a realização da Fórmula Truck na cidade, através da manutenção do Autódromo Ayrton Senna, abrindo mão de qualquer parte da receita da bilheteria e nunca cobrou nenhuma taxa à organização do evento. Em nenhum momento a Prefeitura de Caruaru se comprometeu com o pagamento de valores à organização da Truck. Entretanto, a responsável pelo evento, Neusa Navarro, enviou um comunicado ao prefeito José Queiroz afirmando que a Fórmula Truck só aconteceria em Caruaru se a prefeitura garantisse a verba de meio milhão de reais. Vale ressaltar que, em 2015, foram vendidos cerca de 30 mil ingressos, ao custo de R$ 30, o que gerou uma receita de mais de um milhão de reais, exclusivamente destinada à organização da Fórmula Truck. A etapa de Caruaru tem o segundo melhor público do país, ficando atrás, apenas, de São Paulo. Lamentamos e muito a perda, mas a prefeitura não tem condições de bancar um único centavo além do que já é investido na manutenção.”

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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