Em alta, Eduardo só tem uma saída: ser candidato

Do Portal 247

Nada melhor para um político do que estar em alta quando a maioria à sua volta sofre de baixa popularidade. Nessas condições, ele se distingue e aumenta seu próprio cacife para experimentar voos maiores. É o que está acontecendo neste momento com o governador em segundo mandato de Pernambuco, Eduardo Campos. Na esteira das manifestações estudantis que varreram o País no mês passado, quando a classe política foi rechaçada como um todo, ele saboreia uma pequisa da Confederação Nacional da Indústria/Ibope na qual emerge como o governador mais popular entre 11 chefes de Executivo dos Estados mais populosos.

Com um índice de 59% de conceitos ótimo e bom, Campos, que também é presidente do PSB, vai encontrando, com números desse porte, as condições naturais para seguir sua trajetória. Ele foi reeleito em primeiro turno, em 2010, com 82% dos votos. Agora, começa a deixar a discrição de lado para preparar seu voo presidencial para 2014. Campos não tem outra alternativa. É o que seu partido deseja, contando com ele como puxador nacional de votos. É o que ele parece estar em ótimas condições para realizar, exatamente por apresentar diferenças em relação aos demais presidenciáveis: fala pouco, o que o protege de errar muito, está numa legenda considerada de esquerda, que o blinda da pecha de conservador, tem um passado limpo e uma obra para mostrar. De quebra, é neto de um político mítico, Miguel Arraes. Não é pouco.

Sem escândalos para explicar e com realizações que se refletem na economia de Pernambuco, a de maior expansão entre os Estados do Nordeste nos últimos anos, Campos pode exibir como sua a espetacular ampliação do Complexo Portuário de Suape — hoje com 105 empresas instaladas em 13,5 hectares de área — e extrair dividendos de ações de resultado contra a histórica seca de sua região. Campos tem como uma das principais realizações a interiorização dos investimentos, o que tem causado um impacto significativo no crescimento econômico do Estado.

Dados da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condepe/Fidem) apontaram que o Produto Interno Bruto (PIB) estadual cravou R$ 115 bilhões em 2012, alta de 2,3% em relação ao ano anterior, enquanto que o PIB nacional cresceu 0,9%. Outros dados recentes também mostram o planejamento do governador também em relação a áreas que demandam investimentos cujos resultados são sentidos a longo prazo, mas já causam efeito. Campos tem como um dos principais programas da sua gestão o Pacto Pela Vida, que visa reduzir a criminalidade do estado, e, novamente, os dados mostram eficiência.

Conforme levantamento da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Cabela) e divulgado no Mapa da Violência 2013, na semana passada, em 2001, Pernambuco tinha uma taxa de 58,7 homicídios para cada 100 mil habitantes, a maior do Brasil. Em 2011, a taxa caiu para 39/100 mil hab., um declínio de 39%.

PALANQUES

Com essa bagagem, o governador já começa a se movimentar com mais ênfase na montagem de palanques para sua candidatura nos Estados estratégicos. Em Minas, ele acabou de pilotar a substituição do comando local da legenda de modo a aumentar a segurança do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, em concorrer ao governo. Em São Paulo, onde ainda é considerado pouco conhecido, aumenta o número de visitas e firma uma aliança com a central Força Sindical, que tem boa estrutura e a marca de ser uma entidade anti-PT.

No início do ano, muitos petistas se irritaram com algumas críticas de Campos ao governo da presidente Dilma Rousseff, procurando enquadrá-lo. Aliado de primeira hora do ex-presidente Lula, Campos não se dobrou às pressões, mas recuou seu time, fugindo das primeiras páginas do noticiário político. Daqui para a frente, porém, dadas as novas condições – da rejeição ao PT nas manifestações de rua ao apoio que ele próprio recebeu na pesquisa da CNI –, se verá um Campos mais crítico, posicionando-se mais pontualmente sobre os grandes temas nacionais

A alta aprovação de suas duas gestões também conferem a Campos uma nova autoridade em suas costumeiras conversas com o tucano Aécio Neves, presidente do PSDB. Com ele, poderá fechar um acordo de não agressão para a disputa em primeiro turno, em troca de uma aliança aberta na hipótese de um deles alcançar o segundo turno. Ambos, nesse caso, seriam parceiros de primeira hora nas críticas ao governo do PT. Uma tarefa que, para Campos, será tanto mais fácil se se confirmar a ausência do ex-presidente Lula na disputa.

A queda de Dilma nas pesquisas também tem influenciado a mudança de postura de parte da ala contrária à postulação presidencial, o que inclui governadores como Ricardo Coutinho (PB) e Renato Casagrande (ES). A exceção fica por conta do governador do Ceará, Cid Gomes, e do irmão Ciro Gomes, que defendem abertamente o apoio à reeleição da presidente Dilma. O governador, afinal, sempre deixou claro que sua lealdade ao ex-presidente não se transformou em apoio irrevogável à presidente Dilma. Para enfrentá-la, o governador estará, como se diz, a cavaleiro.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *