Em Caruaru, famílias criticam não construção de ecovila

Posseiros (25)

Pedro Augusto

Já se passaram mais de cinco anos, no entanto a situação das 17 famílias que foram obrigadas a deixar o Parque Ecológico Vasconcelos Sobrinho (Serra dos Cavalos), em Caruaru, segue ainda indefinida. Elas até que vêm trabalhando no plantio de legumes e frutas na área que foi concedida, em novembro de 2010, pelo Governo do Estado, em parceria com a Prefeitura, porém ainda não sabem ao certo, quando terão todos os seus anseios atendidos. Em entrevista ao Jornal VANGUARDA, na manhã da última terça-feira (12), no distrito de Brejo Velho, também na zona rural da cidade, onde está localizada a terra destinada para o seu cultivo, um grupo de representantes de ex-posseiros e moradores do Parque criticaram bastante a não implantação até agora da ecovila.

Empreendimento este que garantiria não só a construção de residências fixas para um bom número deles como também serviria como solo para a plantação de produtos orgânicos. O agricultor Roseno da Silva, que viveu e trabalhou por mais de 25 anos em Serra dos Cavalos, foi um dos que questionaram a suposta morosidade da PMC na implantação do projeto. “Logo quando nos mudamos para cá chegamos a visualizar o trabalho de terraplanagem que estava sendo realizado para a construção da ecovila. Porém, não sabemos o que aconteceu que pouco tempo depois as máquinas deixaram de operar. Desde então, o mato está comendo solto no local destinado – também em Brejo Velho – e não se tem mais previsão para a construção da vila. Uma verdadeira palhaçada!”.

A agricultora Severina Matos, que também foi moradora de Serra Cavalos, foi outra a criticar a não instalação do empreendimento. “Nasci, fui criada e trabalhei por toda a minha vida na Serra e quando saí de lá por determinação da Justiça pensei que todas as promessas que haviam sido feitas seriam cumpridas. Porém, hoje, mais de cinco anos depois, vejo que ainda há muita coisa a se fazer. Fomos enviados para cá com a esperança de que nossas casas seriam erguidas, mas até agora não vimos nem a cor do tijolo. Além disso, disseram que cada família teria direito a 1 hectare de terra, até que estamos utilizando-se deste chão para plantar, porém não contamos com documentação alguma. Resultado: no dia em que a Prefeitura quiser colocar a gente para fora ficaremos novamente sem termos para onde ir”.

No acordo firmado em 2010, que contou com as participações de representantes do Ministério Público, da Prefeitura, do Governo do Estado e dos próprios moradores de Serra dos Cavalos, ficou definido que estes últimos receberiam o valor de um salário mínimo até a construção da ecovila. Passados todos esses anos, até que eles permanecem recebendo o auxílio financeiro, porém, de acordo com a agricultora Simone Maria, de uma forma defasada. “Acredito que para a Prefeitura, estamos ainda vivendo em 2010, porque temos recebido os mesmos R$ 545 que passaram a ser concedidos naquela época. Ou seja, apesar de hoje o salário ser mais de R$ 800, continuamos recebendo o mesmo valor. O problema é que o valor do aluguel de um imóvel no dias de hoje não se encontra nem de longe no mesmo valor do de cinco anos atrás. Temos passado por dificuldades”.

Como não possuem condições financeiras para se deslocarem todos os dias do distrito de Murici – onde a maioria paga aluguel – até Brejo Velho, alguns ex-moradores de Serra Cavalos têm passado a semana abrigados em uma escola desativada na área atual de trabalho. O detalhe é que o imóvel está caindo os pedaços. “Por questão de sobrevivência estamos nos sujeitando a ficar neste local, que conforme o senhor pode perceber, já se encontra com vários problemas de rachaduras. Só Deus mesmo para nos dar o amparo necessário, porque se fôssemos depender das promessas que foram feitas estaríamos numa situação ainda pior”, acrescentou a também agricultora Margarida Ferreira.

Além da não instalação da ecovila, com a não consequente entrega das casas prometidas, as 17 famílias de Serra dos Cavalos também estão questionando a falta de repasse dos títulos de posses dos hectares concedidos. “Na prática, pelo menos até agora, estes últimos só foram dados de boca. Ou seja, não contamos com nenhuma documentação que possa garantir a nossa permanência no local. Se por acaso, amanhã a Prefeitura quiser nos expulsar daqui, só nos restará sair com uma mão na frente e outra atrás. Esta terra que ela (Prefeitura) concedeu é muito boa. Não temos do que reclamar, porque temos plantado e colhido de tudo para revender, porém está faltando essa documentação. Hoje, não contamos mais com advogado para tentar lutar pelos nossos direitos”, lamentou o posseiro Rosenilson Costa.

Posicionamento

Por meio de nota, a PMC se posicionou a respeito dos questionamentos feitos pelos ex-posseiros e moradores. Confira o texto na íntegra: “A Prefeitura de Caruaru informa que os moradores de Serra dos Cavalos tiveram que deixar a área em cumprimento a uma decisão judicial, pois se tratava de invasão. Desta forma, eles não teriam direito a nenhum benefício. Mesmo assim, a Prefeitura de Caruaru, junto com ao Governo do Estado, desapropriou uma área próxima para que os moradores pudessem continuar trabalhando na agricultura. Ainda, conforme acordo com o município, é repassado, mensalmente, o valor de R$ 545 a cada família. Sobre a ecovila, a Prefeitura elaborou um projeto e, desde então, busca recursos para viabilizar a construção das casas”.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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