Enterro do repentista Louro Branco será hoje à tarde

louro branco - divulgação

O enterro do poeta repentista Louro Branco ocorrerá na sexta-feira, 19, às 16h, no Cemitério de Santa Cruz do Capibaribe-PE. Ele faleceu na manhã da quinta-feira, 18, devido a problemas cardíacos, aos 74 anos de idade. O corpo está sendo velado no Teatro Municipal de Santa Cruz do Capibaribe.

Louro Branco era o nome artístico de Francisco Maia de Queiroz. Nascido no dia 02 de setembro de 1943 na Vila Feiticeiro, município de Jaguaribe-CE, começou a cantar aos 12 anos de idade. O epíteto “Louro Branco” surgiu a partir de uma brincadeira feita pelo parceiro Chico Vieira, já falecido.

O espólio de Louro conta com mais de 600 obras poéticas escritas, entre canções e poemas, e mais de 15 discos gravados. Ele escreveu obras que se tornaram conhecidas até mesmo fora do contexto da cantoria de viola, a exemplo de canções como ‘Longe de Ti’, ‘O Último Adeus do Vaqueiro’ e ‘Falta de Humanidade’. Poemas da estirpe de ‘Bibia’, ‘Justiça de Salomão’, ‘Loucura’ e ‘Pernoite num Cabaré’ também foram da sua lavra.

Tornou-se evangélico em 1994, integrando a Igreja Evangélica Assembleia de Deus Ministério Madureira. Mesmo sob a nova fé, continuou cantando e abrilhantando festivais e cantorias de pés-de-parede, ao lado de cantadores como Ivanildo Vilanova, Jorge Macedo, Miro Pereira e Valdir Teles, entre outros. Contudo, também produziu obras voltadas à religião, como o CD ‘Jesus Glorificado’, gravado em parceria com o cantador Chico Alves no estúdio de Caju e Castanha, em São Paulo, sob a produção de Téo Azevedo.

Emocionado, o poeta Rogério Meneses destaca que um grupo de repentistas fará uma homenagem quando do sepultamento de Louro. “Já conversei com a família. Vamos fazer homenagens a caráter, como certamente ele gostaria de ter. Os cantadores que puderem vão se fazer presentes no velório e participarão, inclusive cantando versos de improviso em despedida ao colega”, declarou.

Muitos artistas e admiradores do repentista lamentaram a perda. O jornalista paraibano Astier Basílio, que atualmente está morando em Moscou, publicou um texto sobre o cearense. “Com Louro se perde uma forma de cantar que está conectada com os gigantes, com os patriarcas da cantoria. O gracejo, a galhofa, a poesia como deleite e festa”, afirmou, em parte do depoimento. “Sua atividade na cantoria foi tão intensa e bonita, chegando a ser confundida com sua pessoa, suas qualidades e generosidade, de acordo com sua origem, exemplo de simplicidade e cidadania”, postou em suas mídias sociais o repentista Antônio Lisboa, do Recife.

Abaixo, elencaremos algumas estrofes memoráveis do repentista Louro Branco, tanto improvisadas quanto de trabalhos escritos:

No dia que eu morrer,
Deixo a mulher sem conforto;
Roupas em malas guardadas
O chapéu em torno torto,
E a viola com saudades
Dos dedos do dono morto.

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Tem boca que beija boca
Sem ligar pra boca quente;
Quando boca ganha boca
Gera boca mais na frente
Tem boca que troca boca
Noutra boca diferente.

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Arranjei um espelho e me olhei,
Perguntei: “O que é que estás fazendo?”
Respondi a mim mesmo: “Estou colhendo
Frutos pecos dos crimes que plantei”.
Procurei acertar, não acertei,
Baldeado na dor que não aplaco.
Nos reveses do mundo todo opaco,
Tive pena do filho que chorou,
Tive raiva da mãe que me aceitou,
Tive nojo de mim, porque fui fraco.

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Quando eu doente sofria
Minha mãe também gemia
Fazia logo e trazia
Um chá na sombra da fé
Eu tomava da meizinha
Melhorava uma coisinha
Que a mãe da gente adivinha
A dor do filho onde é.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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