“Funase é uma panela de pressão prestes a explodir!”, denuncia agente

Armas, drogas e aparelhos celulares estariam sendo utilizados pelos internos

Pedro Augusto

Em espaços de tempo cada vez menores, a Funase de Caruaru tem se tornado notícia em todo o Estado devido aos constantes casos de violência envolvendo internos. Na semana passada, por exemplo, um novo tumulto – o quinto somente neste ano – foi computado, reforçando ainda mais a situação difícil em que se encontra a unidade. Se da área externa, já dá para os caruaruenses imaginarem a dura realidade, imagine do lado de dentro do complexo com os problemas se avolumando e ainda muito longe de serem solucionados… Como o acesso é negado à população, até por questão de segurança, ficou para um agente da própria unidade relatar como vem operando hoje a Funase local.

Com a condição de não ter o seu nome revelado por receio de supostas represálias, ele descreveu algumas das supostas irregularidades que vêm ocorrendo, já não é de hoje, no espaço. “Já faz tempo que o sistema socioeducativo de Pernambuco está em colapso, inclusive, em Caruaru, onde a Funase tem sido comandada não pela diretoria, mas, sim, pelos próprios internos. Uma das principais falhas percebidas por aqui e que tem propiciado o aumento da violência tem correspondido à ausência, quase que por completa, de revistas nos pavilhões. Isso mesmo! Os socioeducandos têm aproveitado essa falha para praticar o maior número de infrações possíveis, como uso de drogas, uso de aparelhos celulares e utilização de armas, principalmente brancas”, denunciou o agente.

De acordo ainda com ele, por conta justamente dessa ausência, quase que total, de revistas, dezenas de internos da unidade estariam aproveitando a situação para ter visitas íntimas. “Isso é proibido numa unidade socioeducativa, mas, conforme fotos publicadas nas redes sociais, eles não só têm praticado sexo, inclusive com meninas menores de idade e com a vista grossa da diretoria, como também têm portado armas como facões e facas peixeiras, têm recebido a visita de recém-nascidos e de demais familiares, tudo com as celas devidamente abertas, o que também é proibido. Nós como agentes não podemos fazer nada quanto a essas irregularidades porque tememos pelas nossas vidas!”, acrescentou o denunciante.

Ele ainda fez duras críticas em relação à suposta falta de apoio por parte da diretoria. “Não estamos tendo nenhum apoio para conter essa situação. O Governo do Estado nada faz para evitar, a diretoria e a equipe técnica nada põem em prática para intervir esses absurdos e o número de conflitos só vem aumentando, conforme a população tem percebido. Contamos hoje com uma Corregedoria que não escuta os agentes e que tem punido os mesmos, caso tentam expor toda a verdade. A Funase de Caruaru é uma panela de pressão prestes a explodir a qualquer momento!”, criticou o agente.

O denunciante também chamou a atenção para o suposto pequeno efetivo de agentes empregado durante os plantões. “A redução de agentes nos plantões é enorme! A unidade deveria contar com, no mínimo, 25 agentes a cada plantão, mas vem utilizando apenas 12, inclusive, mulheres. Sem falar que já não é de hoje que vejo agentes exercendo outras funções que não são de sua competência, como auxiliar de dentista, auxiliar de almoxarifado e auxiliar de equipe técnica. Em paralelo, nós agentes, temos sofrido constantemente assédios morais por parte da Corregedoria, que não escuta a categoria, não investiga os casos denunciados e ainda tem exonerado àqueles que estão denunciando. Um verdadeiro absurdo, o que temos passado na Funase de Caruaru!”, relatou.

De acordo ainda com ele, os agentes vêm sofrendo constantes ameaças de morte. “Temos sido ameaçados, tanto dentro como fora da unidade. Já sofremos ataques com pedras e várias outras tentativas de agressão! O pior que a diretoria, a equipe técnica e o governo ficam sabendo e nada têm feito para solucionar esses problemas. Para se ter ideia do absurdo que se encontra atualmente a unidade local, neste mês a diretoria fez um acordo com os socioeducandos liberando o uso de cigarro e ventilador, o que sempre foi proibido! Ainda em relação às visitas íntimas, durante elas, nenhum funcionário pode ficar nos pavilhões porque, do contrário, ele passa a ser alvo dos mesmos! Todos os responsáveis vêm jogando a sujeira por baixo do tapete e a tendência é que muito mais conflitos sejam registrados”, finalizou o agente.

Resposta

Por meio de nota, a direção da Funase de Caruaru justificou que “essas denúncias encaminhadas à reportagem são improcedentes ou se referem a fatos que não acontecem mais. O comando da unidade está nas mãos de quem deve estar – a equipe de coordenadores, responsável pela orientação sobre as rotinas pedagógica, administrativa e operacional da casa. Também é inverídico que o local não passa por revistas.

Recentemente, houve uma varredura com apoio do Batalhão Integrado Especializado (Biesp) da Polícia Militar no intuito de apreender ilícitos. Essas operações são sistemáticas e periódicas. A Funase destaca ainda que não são reais informações que indiquem a presença de menores nas visitas íntimas”.

“A denúncia também carece de fundamentação no que se refere aos funcionários. A legislação federal prevê a proporção de um agente para quatro socioeducandos. A unidade dispõe de 105 agentes, número, portanto, suficiente para atender os 122 adolescentes e jovens que estão no local. Também são improcedentes indicativos sobre desvios de função, bem como denúncias sobre uma suposta inoperância da Corregedoria da Funase, que, ao contrário do que foi dito, tem desempenhado um papel fundamental na apuração de irregularidades. Por fim, a Funase reforça que a denúncia sobre postagens feitas por socioeducandos nas redes sociais refere-se a um fato antigo, divulgado pela imprensa em junho deste ano, e que não ocorre mais na unidade”, finalizou o texto.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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