O líder do governo no Senado, o pernambucano Humberto Costa (PT), afirmou, em discurso na votação da admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), que o Partido dos Trabalhadores vai para a oposição, mas que voltará ao Palácio do Planalto pela rampa da frente. Humberto foi o 64º a falar, já na madrugada desta quinta-feira (12), após mais de 16 horas de sessão no Senado.
“Nem as barbaridades a que ela (Dilma) se sujeitou foram capazes de fazê-la acreditar que vale a pena deixar de lutar pelo País. Mais uma vez na sua vida, Dilma Rousseff está sendo vítima de um julgamento injusto e mais uma vez a cabeça dessa mulher está erguida”, disse, após mostrar uma foto da petista na ditadura militar, quando ela foi presa e vítima de tortura. Humberto também comparou o início do regime, em 1964, ao período atual. “Estão substituindo a UDN e os militares pelo PMDB”, disse.
Humberto foi um dos que se mantiveram fiéis à presidente nos últimos meses. Mais cedo, ele já havia afirmado que, com a saída de Dilma, o PT “será o maior partido de oposição do Brasil”. O discurso foi retomado na tribuna. “Nós, do PT, voltaremos a ser o maior partido de oposição do Brasil e não o maior partido de oposição ao Brasil, como tem sido a prática do PSDB e do DEM, patrocinadores de pautas-bomba nesse Congresso Nacional”, disparou. “Irresponsáveis foram aqueles que votaram aqui e lá (na Câmara) pela pauta-bomba do senhor Eduardo Cunha”, acrescentou. “Isso é o que se chama a plena hipocrisia.”
De acordo com Humberto, o PT vai questionar, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), o mérito do crime de responsabilidade que teria sido cometido pela presidente e que justificaria o processo de impeachment e o eventual afastamento dela do cargo.
“É uma farsa o crime de responsabilidade que tentam lhe imputar. A aliança que reuniu a grande mídia, a oposição, elementos do poder Judiciário e do Ministério Público decidiu: Dilma é criminosa. Agora, depois de decidir também a pena, que é o impeachment, foram buscar o crime.” Foi assim que Humberto iniciou a sua fala de 15 minutos.
O líder do governo no Senado ainda afirmou que o impeachment abre um “gravíssimo precedente”, discurso que já havia sido usado pelo também pernambucano Armando Monteiro Neto (PTB). “Estamos pervertendo a Constituição Federal por meio de uma quartelada civil para que os derrotados de 2014 cheguem ao poder”, atacou.
Humberto ainda criticou a negociação de cargos para um eventual governo Temer, afirmando que o vice transformou o Palácio do Jaburu em um “balcão de feira da República”. “Logo eles que acusavam o PT de fisiologismo, de aparelhamento da máquina pública, têm ministros polivalentes que podem assumir três, quatro ministérios de uma vez. Podem travestir tudo isso do que quiserem, mas não adianta. Me desculpem os ouvidos sensíveis, mas isso é golpe. É um processo ilegítimo.”
Retomando o discurso usado pelos aliados de Dilma nos últimos dias, Humberto Costa preconizou que Temer acabaria com conquistas e programas sociais, como o Bolsa Família. “Se acredita na casa grande e se julga o resto dos brasileiros como se na senzala estivessem. Continua se achando que a democracia é um instrumento para a manutenção dos seus interesses”, alfinetou.
O petista foi o sucessor de Delcídio do Amaral (sem partido-MS) na liderança do governo. Delcídio foi cassado pelo Senado nessa terça-feira (10); em bastidores se comenta que a votação do afastamento dele, que fica inelegível até 2027, foi a pedido de Dilma, para não tê-lo como algoz. Delcídio foi preso após acusado de obstrução de Justiça ao tentar interferir na delação premiada de Nestor Cerveró na Operação Lava Jato.