Informalidade tem sido a saída para sobrevivência

Pedro Augusto

Na semana passada, o presidente Michel Temer acabou antecipando os dados oficiais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ao divulgar que, no último mês de agosto, o Brasil criou 100 mil postos de trabalho com carteira assinada. A boa notícia pode até ter trazido certo ânimo para quem está desempregado, mas o número informado ainda é muito pequeno, quando comparado ao quantitativo de profissionais sem ocupação no país: mais de 13 milhões. Já que o mercado formal ainda se encontra restrito para a maioria dos trabalhadores, o jeito tem sido entrar de “cabeça” na informalidade. De acordo com o estudo do IBGE, com a intensificação da crise política/financeira, atualmente 37 milhões de brasileiros têm tirado os seus sustentos operando no mercado informal.

O último quantitativo citado corresponde a 40% da soma total de trabalhadores que vêm atuando no mercado nacional. Sem ser à exceção da regra, Caruaru também tem comportado, hoje, um volume quase que redobrado de profissionais sem carteira assinada. Para os que perderam o emprego formal recentemente e obtiveram valores de rescisões satisfatórios, uma das alternativas está sendo investir no negócio próprio, dotando-os de estruturas melhores. Mas para os que já se encontram há muito tempo longe do mercado e os boletos não param de chegar, a saída tem sido procurar um lugar ao sol, comercializando nos pontos alternativos de vendas das ruas da cidade.
Neles, a concorrência entre os informais tem sido cada vez mais alta, haja vista que o número de trabalhadores ingressando neste tipo de mercado ainda se encontra em ordem crescente. De acordo, por exemplo, com Jonatas de Moura, que trabalha como ambulante há pelo menos dez anos, hoje, se encontra difícil até de encontrar um local para vender mercadorias. “Antigamente não era bem assim, longe disso! Havia espaços sobrando para se trabalhar, mas, hoje, com essa crise que vem tirando o emprego de muita gente, tem ambulante disputando cada metro de esquina. Eu mesmo atuo num segmento que possui bastante concorrência, o de acessórios de celular, e, para conseguir lucrar alguma coisa, tenho tido de me esforçar em dobro. Tenho investido muito na qualidade dos produtos e no atendimento”, explicou.

De acordo com o levantamento do IBGE, nos últimos três anos – período em que a crise provocou efeitos devastadores na economia nacional -, o volume de informais que começaram a vender comida nas ruas das cidades saltou de 79.261 para 483.389. Quando tomado como parâmetro o mercado local, pode-se ter certa noção desta realidade atual.

Em suas devidas proporções, é claro, em comparação com as grandes metrópoles espalhadas pelo país, a Capital do Agreste também tem sido comportada por milhares de profissionais do tipo operando, sejam em locais fixos ou móveis. Das bastantes demandas das quentinhas aos tradicionais cachorros-quentes, o certo é que tem muito trabalhador sobrevivendo da comercialização de alimentos.

Dentre os exemplos está a autônoma Jaqueline Maria da Silva. Cansada de entregar currículos nas empresas formais, ela enveredou para o segmento de gastronomia e não se disse arrependida. “O trabalho é bastante árduo, ou seja, acordo todos os dias às 4h, tenho de empurrar a carroça até o Centro e já, aqui, preparo a comida na hora. Se não está dando para enricar, ao menos está dando para sobreviver, porque, hoje, trabalho com carteira assinada se encontra bastante difícil. Vivo de aluguel, tenho filhos para criar, as contas não param de chegar e, caso não venda todos os dias na rua, a situação fica muito complicada. Saio sempre de casa com o pensamento de garantir o pão de cada dia”, comentou.

Segundo ainda o estudo do IBGE, desde que iniciou a crise política/financeira, pouco mais de quatro milhões de trabalhadores deixaram o mercado formal no país. Dentre eles, a jovem Amanda Caroline, que conseguiu voltar a exercer uma atividade, há dois meses. “Estava parada há um bom tempo e o desespero já vinha tomando conta de mim, haja vista que tenho dois filhos para criar. Foi aí que surgiu essa oportunidade para vender bijuterias num banco e não larguei mais. É claro que se surgir alguma chance numa loja, provavelmente, aceite a proposta porque é melhor trabalhar com carteira assinada, mas, enquanto isso não acontece, é se esforçar bastante para levar o dinheiro para casa”, observou Amanda.

De acordo com o informal Moreno Alves Barbosa, devido ao alto desemprego também em municípios circunvizinhos, muitos autônomos têm migrado para o mercado local. “Eu mesmo conheço pelo menos uns dez que moram em outras cidades da região, como Altinho, Toritama e Agrestina, e vêm todos os dias vender por aqui. É uma questão de sobrevivência! Os números do governo podem até dizer que a situação vem melhorando, mas ainda está muito longe do ideal. Jamais tinha visto uma quantidade tão grande de pessoas trabalhando na informalidade local. E olhe que atuo vendendo brinquedos por aqui há mais de cinco anos. A concorrência, hoje, se encontra muito grande!”, comentou Moreno.

Especialista aponta mais dificuldades

Se não bastassem as habituais dificuldades a terem de ser superadas, como a concorrência desenfreada, a garantia de ponto de fixo, dentre outras, os milhares de trabalhadores informais que vêm atuando não só em Caruaru, mas nas demais cidades do país, também têm esbarrado em outros empecilhos para conseguir prosperar nos seus respectivos negócios. Foi o que destacou, em entrevista, o professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas, Clemens Vinicius de Azevedo.

“Há tanta burocracia, há tantos impostos a serem pagos e há tantos requisitos na legislação trabalhista que, virtualmente, está sendo muito difícil alguém enveredar para o mercado formal, mantendo o seu negócio bem-sucedido e atendendo a todos os requisitos. O problema é que quando você vai para informalidade, há toda uma dificuldade para o investimento avançar, haja vista que você não tem acesso a crédito, você acaba vivendo abaixo do radar da cobrança de impostos etc. Destacamos três pontos para tentar resolver essa questão da informalidade no país: melhorar as condições para o funcionamento dos pequenos negócios no Brasil, expandir as linhas de crédito e aplicar melhores condições para pagamentos de impostos, bem como oferecer melhores condições para quem deseja contratar para os seus negócios”, afirmou.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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