Pedro Augusto
A violência não tem preferência pelo alvo a ser atingido. Seja bom ou ruim, rico ou pobre, famoso ou anônimo, ou qualquer que seja a característica atribuída à vítima, ela costuma provocar efeitos devastadores na sociedade. Na noite do último sábado (16), a população caruaruense ficou estarrecida com mais um caso, tendo como principal responsável a criminalidade. “Representada”, desta vez, por cinco bandidos fortemente armados, ela acabou ocasionando a interrupção, ainda que passageira, da carreira jornalística de Carlos Alexandre de Farias Silveira, de 39 anos, o Alexandre Farias, da TV Asa Branca.
Após mais um dia de apresentação do ABTV 2ª Edição, ele foi até a um supermercado, no Bairro Maurício de Nassau, onde realizou compras e, em seguida, se preparou para retornar para casa, onde já no trajeto acabou sendo alvejado com um tiro na testa, na Rua Mestre Vitalino, no Alto do Moura. Segundo as investigações da Polícia Civil, o culpado por tamanha crueldade foi justamente os cinco integrantes da quadrilha citada. Foragidos desde o ano passado do Presídio de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, eles, primeiramente, tocaram o terror na Rua São Francisco de Moura, no Bairro Indianópolis, onde fizeram de refém uma família e roubaram seus pertences.
Em seguida, já de posse do automóvel dela, os criminosos seguiram para o Alto do Moura, quando foram reconhecidos por policiais militares, e durante a fuga acabaram abrindo fogo contra a viatura. Câmeras de videomonitoramento do local registraram quando o carro do jornalista Alexandre Farias teria sido ultrapassado tanto pela quadrilha quanto pela PM. Com um projétil de bala já inserido na sua cabeça, Alexandre foi socorrido para o Hospital Regional do Agreste, em Caruaru. Além de balear o jornalista, os bandidos ainda atropelaram socorristas do Samu, que se encontravam no local atendendo a uma ocorrência de acidente.
Atingidos em partes distintas do corpo, o motorista Valdeir Antônio do Nascimento e a socorrista Josimere do Nascimento, de idades não informadas, também foram levados para uma unidade hospitalar, onde passaram por procedimentos. Em situação mais complicada, Alexandre Farias acabou sendo transferido para o Hospital da Unimed, no Bairro Universitário, onde foi submetido por mais de quatro horas a uma neurocirurgia já na madrugada do domingo (17). “O Alexandre foi operado em tempo hábil, mas o seu estado é crítico. Por isso, o deixaremos sedado, em repouso, para que haja a diminuição do metabolismo cerebral”, disse, logo após o procedimento, o neurocirurgião Ronaldo Menezes.
Com o jornalista sedado e respirando por ajuda de aparelhos, a polícia acabou intensificando as diligências a fim de capturar a quadrilha, mas neste primeiro momento, em vão. Na presença do chefe da Polícia Civil de Pernambuco, Joselito Amaral, integrantes da mesma corporação, da Polícia Militar e do Instituto Tavares Buril promoveram, já na manhã da última segunda-feira (18), na sede do 4º BPM, em Caruaru, uma coletiva de imprensa com o objetivo de divulgar os retratos falados de dois dos suspeitos de fazerem parte do bando. A medida acabou tendo resposta imediata, haja vista que poucas horas depois dos retratos terem sido divulgados na imprensa, a polícia conseguiu localizar os bandidos.
Criminosos foram presos na zona rural
Após receberem as coordenadas por meio de informantes, já na tarde da segunda, aproximadamente 25 policiais civis se dirigiram, com o auxílio do Grupo Tático Aéreo de Pernambuco, para uma fazenda na Estrada de Lagoa de Pedra, às margens do Sítio Maniçoba, onde foram recebidos à bala pela quadrilha que se encontrava escondida numa casa. Houve troca de tiros, mas, desta vez, somente um dos criminosos conseguiu escapar. Atingido com vários disparos, o suspeito Igor Alves do Nascimento, de 34 anos, morreu no local, enquanto os demais componentes Vagner Santos Figueiredo, de 30 anos; Vitor Luiz Bezerra da Silva, de 20, e José Raniere de Oliveira Simão, de 32, acabaram sendo rendidos.
Ainda na operação, a polícia prendeu Ierica Alves do Nascimento, de idade não informada, que é irmã de Igor, e tentou preparar uma armadilha para os policiais após as suas chegadas à fazenda. “Grávida, ela saiu da área interna da casa carregando uma criança de colo e dizendo aos policiais que adentrassem no imóvel, porque não havia ninguém. Desconfiados da ação da criminosa, eles resolveram cercar a residência, quando foi iniciada a troca de tiros. Se tivessem entrado pelo menos cinco policiais teriam morrido. Graças a Deus, a operação foi exitosa”, destacou, na coletiva já da terça-feira (19), no mesmo local, Joselito Amaral.
De acordo com o chefe da Divisão de Homicídios de Caruaru, delegado Bruno Vital, o bando alagoano era bastante perigoso. “Ele empreendeu fuga no ano passado durante a rebelião do Presídio de Alcaçuz. Encontrava-se na cidade já há certo tempo, haja vista que observamos uma rotina nos pertences dos criminosos. Seus componentes, além de serem especializados na prática de crimes contra o patrimônio, ainda eram envolvidos em homicídios e tráfico de drogas. Várias vítimas de Caruaru, inclusive, já estão entrando em contato conosco à procura de objetos roubados por eles. Não temos dúvidas de que a desarticulação desse grupo contribuirá para com a redução de criminalidade no município”, observou.
Com o bando, a polícia apreendeu não só armas como revólveres, pistolas e uma espingarda calibre 12, mas também vários objetos subtraídos de vítimas, a exemplo de relógios, joias e aparelhos celulares, além de quantias em dinheiro. Mas ainda faltava a prisão do quinto integrante, que não tardou a acontecer. Ainda na terça, mas já à tarde, o suspeito Jefferson Santos da Silva, de 22 anos, foi preso numa casa que fica localizada no Bairro José Carlos de Oliveira, também na Capital do Agreste. Também por lá, a Polícia Civil autuou em flagrante Pedro Guilherme da Silva Filho, de 57 anos, que teria dado abrigo a Jefferson. Este último foi indiciado por associação criminosa.
No mesmo intervalo, os outros suspeitos estiveram passando por audiência de custódia no Fórum Demóstenes Batista Veras, no Bairro Universitário. Nela, todos tiveram as suas prisões preventivas decretadas. De acordo com o chefe da Polícia Civil de Pernambuco, somadas, as penas do envolvidos poderão chegar até aos 300 anos. “Esses bandidos responderão pelos crimes de associação criminosa, tentativa de homicídio, roubo, lesão corporal, porte ilegal de armas e tráfico de drogas. Todos eram bastante perigosos, inclusive o Igor, que morreu, fazia parte do PCC (Primeiro Comando da Capital)”, finalizou Joselito. Todos foram encaminhados para unidades prisionais do Estado.
Até o fechamento desta matéria, Alexandre Farias apresentava boa evolução clínica.