Pré-candidata ao governo do estado, a vereadora Marília Arraes (PT) tomou a decisão de bater de frente com as executivas estadual e nacional do PT até domingo, quando termina o prazo das convenções partidárias. Ontem, a cúpula nacional da legenda aprovou a resolução para retirar sua pré-candidatura em Pernambuco por 17 votos a oito, a executiva estadual acatou essa decisão, porém Marília resistiu às pressões de ambos os lados e rejeitou apoiar o palanque do governador Paulo Câmara (PSB). A petista repetiu um discurso que vem sendo usado pelo próprio ex-presidente Lula, que se nega a abrir mão de concorrer à Presidência da República, mesmo estando preso há mais de 100 dias. Ela prometeu apoiar o recurso movido por aliados contra a tática anunciada pela executiva nacional e ir “até às últimas instâncias”.
“Marília Arraes não tem o direito de recuar a candidatura e colocar a esperança das pessoas numa mesa como moeda de troca, a preço de banana”, afirmou a pré-candidata, recebendo aplausos da militância presente na coletiva convocada na sede da Central Única dos Trabalhadores. Marília falou à imprensa depois de divulgar um vídeo nas redes sociais e convocar os delegados do PT para marcar presença no encontro estadual previsto para hoje à tarde, às 17h, no Praia Hotel em Boa Viagem. O encontro estadual tem autonomia em relação à executiva nacional. Trezentos delegados vão votar para apoiar a tese de candidatura própria ou aliança estadual com o PSB, defendida pelo senador Humberto Costa.
A petista negou a hipótese de o ex-presidente Lula ter feito jogo duplo nos últimos meses, apoiando sua candidatura ao governo, para, em seguida, rifá-la em troca de apoio do PSB nacional. Lula sempre adota esse tipo de estratégia, segundo informações de bastidores. O cacique petista incentivou uma disputa velada entre Humberto Costa e João Paulo, no passado, depois estimulou a candidatura de Humberto Costa e Eduardo Campos, em 2006, e, em 2012, deu a bênção para a retirada da candidatura de João da Costa à Prefeitura do Recife. Na época, Humberto Costa concorreu ao governo municipal, no lugar de João da Costa. Para Marília, Lula apoia sua pré-candidatura e não interfere nas decisões partidárias.
“Da parte do presidente Lula, todos os sinais que Lula mandou, os recados antes de ser preso e depois da prisão política que ele está sofrendo (foram positivos à minha candidatura). Ele mandou recado por Rui Falcão (ex-presidente nacional do PT), por João Pedro Stédile (coordenador do MST) e pelo Frei Sérgio Görgen (que acompanha movimentos populares do campo). Então, eu e a sociedade achamos que essas pessoas têm idoneidade suficiente para não saírem de uma visita com Lula e colocando palavras na boca de Lula”.
A petista afirmou, ainda, que o posicionamento da executiva nacional foi contrário à estratégia que havia sido traçada e anunciada pela própria Gleisi Hoffmann em visita a Pernambuco. Na ocasião, a presidente do PT disse que a candidatura de Marília só seria retirada do páreo se o PSB nacional decidisse apoiar oficialmente a campanha de Lula, o que não se concretizou. “Não há condições de subir no palanque com o PSB”, pontuou. Segundo uma liderança presente na coletiva, que pediu reserva, Marília informou sua posição a Gleisi durante a manhã de ontem. Ela recebeu uma ligação de Gleisi, que lhe antecipou a decisão, protestou e disse que não podia aceitar.
Marília não falou sobre a possibilidade de aliança com outro partido. Mas tem conversado com frequência com o exprefeito de Petrolina Julio Lóssio (Rede) e pré-candidato ao governo também, que era cotado como seu candidato a vice.
Base e liderança se rebelam diante da imposição
A base sindical e lideranças políticas que apoiam a pré-candidatura Marília Arraes se rebelaram, ontem, contra a decisão da executiva nacional do PT. Segundo a deputada estadual Teresa Leitão, se o encontro estadual do PT for “desconvocado”, “pode ser caracterizado como um golpe, porque os delegados estão eleitos para definir os rumos da tática eleitoral do estado. Se formos boicotados, vamos denunciar”.
A deputada falou sobre os passos políticos para recorrer da decisão da executiva nacional. “Tem muita gente achando, comemorando que essa decisão é terminativa, mas não é. Depois de recorrer à executiva nacional, ainda tem o diretório nacional. Depois, ainda tem o encontro nacional do PT. E nesta quinta (hoje), temos o encontro do PT de Pernambuco e não pode ser desconvocado”.
Teresa reforçou que lideranças nacionais e locais do partido recorreram da decisão e Marília recebeu gestos de solidariedade de artistas e líderes de movimentos sociais de todo o país. Um dos trechos do recurso diz que “o resultado concreto das negociações com o PSB resultaram no ‘não apoio’ formal e nacional, e portanto não está dentro do que pode ser considerado dentro dos interesses partidários para vencer as eleições 2018”.
A executiva estadual do PT negou a possibilidade de o encontro estadual ser desmarcado, mas pediu ponderação aos delegados e à militância. “Registramos, assim, que por razões políticas e estatutárias estamos convocando todos, dirigentes e militantes, a observar e a fazer cumprir a decisão da executiva nacional, mantendo a nossa identidade e a nossa convergência em torno do projeto nacional do PT, da nossa direção e da ampliação do apoio partidário à candidatura vitoriosa de Lula presidente, à sua libertação e à derrota da agenda antinacional, antipovo e fracassada do golpe de 2016”, registrou um dos parágrafos.
Ainda segundo a nota divulgada pela executiva estadual, comandada por Bruno Ribeiro, o encontro está confirmado.
Já Marília Arraes manteve o convite aos delegados do PT, disse estar confiante na vitória. Indagada se poderia ser candidata a deputada federal, ela respondeu: “Eu não tenho direito de trabalhar com o plano B. Nossa candidatura foi construída com a base”, lembrou. Humberto Costa foi procurado, mas não deu retorno até o fechamento da edição. (Aline Moura)
Aliados já começam a costurar um possível plano B
Com a decisão do PT de retirar a pré-candidatura ao governo do estado, partidos aliados a Marília Arraes começam a pensar em alternativas. O PROS, por exemplo, pode trilhar até quatro caminhos nas eleições de outubro.
“Ter uma candidatura própria, aliança com Armando Monteiro (PTB), com Julio Lóssio (Rede) ou, até mesmo, um novo diálogo com a Frente Popular (do governador Paulo Câmara)”, disse o presidente do partido em Pernambuco, deputado federal João Fernando Coutinho.
“É preciso analisar a situação com muita tranquilidade, paciência e pelo conjunto das propostas que melhor atendam aos pernambucanos”, acrescentou o parlamentar que, até pouco tempo, era do PSB.
Nos bastidores, o PROS também pleiteia a indicação de vice para a chapa de Julio Lóssio, pré-candidato da Rede a governador.
Integrante da Rede ouvido pelo Diario de Pernambuco afirma que há afinidade ideológica entre as duas legendas e o PROS tem desejo na postulação. A fonte também enfatizou que existe a possibilidade de, dependendo apenas da Rede, o candidato a vice na chapa de Marina Silva à Presidência ser indicado pelo PROS.
Também questionado sobre o quadro nacional, Coutinho disse que existe uma possibilidade de entendimento com o PT nacional. “As negociações nacionais estão avançadas”, disse João Fernando Coutinho. (Matheus Santos/Esp DP)
Diario de Pernambuco