Congresso em Foco
A arquiteta Maria Rita Fratezi, mulher do coronel João Baptista Lima Filho, amigo de Michel Temer, pagou em dinheiro vivo despesas de reforma na casa de uma das filhas do presidente, segundo relato de um dos fornecedores da obra à Folha de S.Paulo. A Polícia Federal investiga a obra no imóvel da psicóloga Maristela Temer sob a suspeita de que tenha sido bancada com propinas da JBS.
O coronel e a arquiteta foram alvo da Operação Skala, deflagrada em 29 de março, que apura esquema de corrupção para beneficiar empresas do setor portuário com a renovação de concessões públicas. João Batista Lima passou três dias preso enquanto Maria Rita foi chamada a depor. Ambos preferiram ficar em silêncio.
De acordo com a reportagem, Piero Cosulich, dono da Ibiza Acabamentos, uma das empresas que entregaram material na residência de Maristela, em Pinheiros, bairro nobre de São Paulo, afirmou à reportagem que Fratezi era quem levava, pessoalmente, o dinheiro na loja.
“Foi Maria Rita Fratezi quem fez os pagamentos, em espécie, em parcelas. Os pagamentos foram feitos dentro da loja”, disse ao jornal paulista. “Ela [Maria Rita] vinha fazer o pagamento. Se estava dentro de um envelope, dentro de uma bolsa, não sei te confirmar”, afirmou.
Segundo os repórteres Camila Mattoso e Fábio Fabrini, é a primeira vez que um dos envolvidos no projeto aponta publicamente a esposa de Lima como responsável pela entrega de recursos, em espécie, para viabilizar as melhorias no imóvel da psicóloga. Destaca a reportagem:
“A Folha obteve recibo referente a uma dessas prestações, emitido pela Ibiza em 30 março de 2015, no valor de R$ 12.480. O documento está em poder da PF. Embora o pagamento, segundo a empresa, tenha sido feito pela mulher do coronel, o documento está em nome de Maristela.
Além dos repasses em dinheiro vivo a fornecedores, os investigadores consideram relevante o fato de os pagamentos terem ocorrido em período próximo e subsequente ao da suposta entrega de propina, pela JBS, para o coronel.”
A operação foi descrita por executivos da empresa na delação premiada que motivou a abertura de inquéritos contra Temer no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Em depoimento, Florisvaldo Oliveira, ex-funcionário da JBS, disse que levou R$ 1 milhão ao coronel, na sede de uma de suas empresas, a Argeplan, em 2 de setembro de 2014. Os recursos seriam parte de um total de R$ 15 milhões em doações de campanha, supostamente acertados com Temer”, lembra a Folha. A PF calcula que a obra de Maristela Temer tenha custado ao menos R$ 1 milhão.
Procurada pela Folha, a assessoria de Temer informou que os questionamentos sobre a reforma da casa em São Paulo seriam respondidos pela defesa de sua filha Maristela. O advogado dela disse que só dará esclarecimento sobre o assunto à Polícia Federal se for chamada a depor. Já o coronel e sua esposa, Maria Rita Fratezi, afirmaram que não cometeram qualquer irregularidade.