O alvo agora são os estabelecimentos comerciais

Pedro Augusto

Os endereços até podem ser diferentes, mas as histórias de terror parecem às mesmas. Da periferia até a área nobre, o número de casos referentes a assaltos e arrombamentos a estabelecimentos comerciais só têm crescido nos últimos meses em Caruaru. De acordo com o levantamento da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, de janeiro a agosto deste ano foram contabilizados 82 roubos nas lojas da cidade contra 44 registrados no mesmo ambiente e período de 2015. A alta na prática foi de 86,38% de uma temporada para outra e parece seguir indicador similar neste mês de setembro. No intuito de exemplificar a dura realidade conforme os comerciantes locais estão tendo de encarar diariamente, o VANGUARDA decidiu tomar como parâmetro duas ruas tradicionais do município.

Bastante importante para a economia da Capital do Agreste haja vista que comporta já há várias décadas um quantitativo elevado de estabelecimentos, a Rua Joaquim Távora, no Bairro São Francisco, vêm sofrendo não é de hoje com a onda de violência que tem imperado a qualquer horário do dia. Que o diga o lojista José Ailton. Proprietário de uma loja de materiais de construção, ele disse ter sido vítima em plena tarde de uma segunda-feira. “Era por volta das 17h40, quando dois elementos invadiram o meu estabelecimento e anunciaram o assalto. Além de roubar o dinheiro do caixa bem como o meu aparelho celular, eles ainda tiveram tempo de fazer a limpa num cliente que também se encontrava no local. Desde então passamos a ficar assustados de termos de enfrentar tudo isso de novo”.

O assalto a José Ailton foi apenas mais um dos cerca de 10 que foram contabilizados somente neste mês na Joaquim Távora. Na loja de tecidos, onde a auxiliar administrativo Natália Priscila trabalha, três bandidos invadiram o local na semana passada e roubaram o que puderam. “O susto foi muito grande. Eles chegaram armados por volta das 15h da última segunda-feira (12), renderam os vendedores e recolheram todo o dinheiro. Na verdade, já estávamos esperando por isso haja vista que outras lojas da rua também já tinham sido assaltadas. A segurança na Joaquim Távora está nota zero há bastante tempo. Prova disso é que tivemos de contratar segurança particular para amenizar a situação. Mesmo assim, o medo tem sido constante”.

Também vítima desta onda de violência, o lojista José Porfírio criticou a suposta ineficiência da polícia para conter a criminalidade no local. “O meu estabelecimento foi arrombado às 4h30. Levaram dinheiro, produtos, aparelhos celulares, ou seja, quase tudo. O engraçado é que pagamos impostos altos para mantermos as nossas atividades e não temos sequer o direito de contarmos com uma segurança digna. Raramente avistamos viaturas circulando por aqui e investigação que é bom, nada. Volte e meia ficávamos sabendo de alguns casos de assaltos e arrombamentos, mas agora está demais”. Dono de uma loja vizinha a José Porfírio, um comerciante que preferiu ficar no anonimato engrossou as críticas do concorrente. “Parece que os bandidos estão aproveitando esse tempo de política para pintar e bordar. Também, em vez de estarem preocupados com a segurança, alguns policiais estão querendo é garantir o voto do povo, aí fica difícil”.

Bem distante da Joaquim Távora, mais precisamente na Rua Raul Amaral, no Bairro Maurício de Nassau, o cotidiano não se encontra lá tão diferente. Bastante conhecido naquela área específica do comércio, Ari Soares, passou por dois sustos grandes nos últimos 30 dias. “No primeiro assalto, eles chegaram por volta das 6h30, colocaram pistolas na minha e nas cabeças dos funcionários e só não atearam fogo na loja, porque não conseguiram. Depois, um cliente nosso e que se encontrava na área interna do estabelecimento foi obrigado a dar a chave do carro, já que o criminoso também estava armado. Infelizmente, Caruaru está entregue a bandidagem. Quando a polícia vem chegar até ao local do crime, os meliantes já estão muito longe”.

Um mecânico que também atua na Raul Amaral, mas preferiu não ter o nome revelado por receio de ser vítima novamente, descreveu mais um momento de terror. “Rapaz, passamos há poucos dias por um verdadeiro arrastão. Pelo menos quatro bandidos chegaram por aqui em plena tarde, renderam a mim e meus funcionários, e roubaram o que puderam em poucos minutos. Enquanto ficamos rendidos na oficina por uma dupla, a outra fez a limpa em estabelecimentos vizinhos. Quero saber até onde vamos parar com tanta violência? Com esse Governo do Estado frouxo conforme estamos tendo de engolir, os problemas de segurança em Caruaru só tendem a piorar”.

O outro lado

Diante de tantas ocorrências ditas pelos comerciantes de ambas às vias, o VANGUARDA acabou entrando em contato na tarde da última quarta-feira (21), com o comandante do 4º BPM, tenente-coronel Roberto Galindo. Por telefone, o policial reforçou a importância de se relatar os casos na delegacia bem como ainda ressaltou os canais de ligação com a polícia. “É imprescindível que as vítimas prestem queixas para que possamos entrar em ação com o nosso Serviço de Inteligência. Inclusive, neste ano, já tiramos de circulação vários bandos e quadrilhas que vinham atuando na prática de assaltos e arrombamentos em Caruaru”.

“Quanto em relação à crítica da suposta falta de policiais nas ruas gostaríamos de salientar que contamos com patrulhas exclusivas para ambas as comunidades e o trabalho ostensivo tem sido constante. Reiteramos a importância do registro das queixas para que possamos, juntamente com a Polícia Civil, chegar às esses assaltantes o mais rápido possível”, acrescentou Galindo. Denúncias sobre quadrilhas e criminosos podem ser repassadas pelos telefones: 190 (plantão da Polícia Militar) e 3719-4545 (Disque Denúncia Agreste).

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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