O papel do assessor de Renan na defesa de Delcídio

Do Congresso em Foco

Ex-assessor de gabinete do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o interlocutor designado pelo peemedebista para ouvir e repassar orientações à defesa do então senador Delcídio do Amaral (MS) é pai de um dos advogados que defendiam o ex-petista no Conselho de Ética. Identificado nos áudios divulgados pelo Jornal Hoje desta quinta-feira (26) apenas como “Vandenbergue”, o intermediário de Renan se chama Vandenbergue dos Santos Sobreira Machado. Ele é pai do advogado Luis Henrique Alves Sobreira, que defendeu Delcídio no Conselho de Ética até a revelação de que o ex-líder do governo havia feito acordo de delação premiada que comprometia, entre outros políticos, o senador alagoano.

Em nota divulgada por sua assessoria nesta tarde, Renan transferiu para Delcídio a relação de proximidade com Vandenbergue. “Na fase do Conselho de Ética opinou com um amigo do ex-senador, mas disse que o processo não podia ficar parado, como não ficou”, informava a nota. Mas o histórico aponta laços do interlocutor é com o peemedebista. Por indicação de Renan, Vandenbergue dos Santos foi nomeado pelo presidente Lula para assumir uma vaga no conselho consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Ele foi designado como representante do Senado e por lá permaneceu até 2013, quando terminou seu mandato.

Funcionário aposentado da Casa há mais de 15 anos, Vandenbergue é figura carimbada nos corredores e auditórios do Congresso. Logo após se aposentar, assumiu o posto de lobista da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e não largou mais o cargo. Resistiu à queda dos ex-presidentes Ricardo Teixeira e José Maria Marin, ambos apeados após denúncias de corrupção. Como diretor de Assuntos Legislativos da CBF, ele recebe salário de R$ 100 mil. Um de seus trabalhos, no momento, é defender os interesses da entidade nas duas CPIs do Futebol em funcionamento no Congresso.

Carta humilde

Os diálogos entregues pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado indicam que, antes de saber da delação premiada de Delcídio, Renan agia para evitar sua cassação. “O que que ele (Delcídio) tem que fazer… Fazer uma carta, submeter a várias pessoas, fazer uma coisa humilde… Que já pagou um preço pelo que fez, foi preso tantos dias… Família pagou… A mulher pagou”, recomendou o presidente do Senado ao pai do advogado do ex-petista.

“Ele (Delcídio) só vai entregar à comissão, fazer essa carta e vai embora”, respondeu Vandenbergue. “Conselho de Ética. Falei agora com o João (João Alberto, presidente do Conselho de Ética). O João, ele fica lá ouvindo os caras… O Conselho de Ética não tem elementos para levar processo adiante. Também é ruim dizer que não vai levar o processo adiante. Então, o Conselho de Ética tem que requerer diligências requisição de peças e enquanto isso não chegar fica lá parado”, insistiu Renan.

“(João Alberto) vai colocar em votação e vai ter uma derrota antecipada”, prosseguiu o pai do advogado de Delcídio.

Renúncia após delação

A renúncia de Luis Henrique e do principal advogado de Delcídio, o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp, ocorreu um dia após a divulgação de trechos da delação premiada do então senador pela revista IstoÉ. “Fomos surpreendidos pela notícia dessa possível delação e, portanto, a relação de confiança foi quebrada. A nossa estratégia de defesa não tinha como perspectiva a efetivação de uma delação premiada”, disse Luis Henrique na ocasião, de acordo com o site Jota.

Em nota divulgada esta tarde, para se defender, Renan admite que trabalhou para “acelerar” a cassação de Delcídio – um de seus delatores – no plenário. “Quanto ao caso do ex-senador Delcídio do Amaral, o senador lembra que acelerou o processo de cassação no plenário às vésperas da votação do impeachment. O desfecho do processo de cassação é conhecido”, disse o senador por meio de sua assessoria.

Procurada novamente pelo Congresso em Foco esta noite, a assessoria do presidente do Senado disse que ele não indicou qualquer advogado para Renan e que apenas deu uma “opinião” sobre o caso para um “amigo”. A reportagem também procurou Vandenbergue por meio de seu telefone celular. O diretor legislativo da CBF não atendeu a ligação. Foi deixado recado em sua secretária eletrônica, mas ainda não houve retorno. O site não conseguiu localizar seu filho, o advogado Luis Henrique.

CPI do Futebol

Companhia constante do senador Romero Jucá (PMDB-RR), presidente da CPI do Futebol do Senado, Vandenbergue é acusado por parlamentares de tentar barrar a aprovação de requerimentos que miram dirigentes da CBF. Os trabalhos da comissão estão parados há 50 dias à espera de uma decisão de Renan sobre um recurso apresentado pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), apontado como o principal representante da bancada da bola no Senado. Investigado na Lava Jato, Ciro questiona a aprovação de requerimentos que convocam à CPI o atual presidente da confederação, Marco Polo Del Nero, do ex-presidente Ricardo Teixeira, do vice-presidente da CBF Gustavo Feijó, de Alagoas, atual prefeito de Boca da Mata e aliado de Renan e do senador Fernando Collor (PTC-AL).

Todas as vezes em que é indagado pelos senadores Romário (PSB-RJ), presidente da CPI, e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), integrante do colegiado, Renan informa que em breve decidirá sobre o assunto. O peemedebista, porém, não tem comparecido ao plenário às quintas-feiras, dia em que costuma responder a dúvidas regimentais e sobre os trabalhos do Senado.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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